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25 DE OUTUBRO DE 1990 117

ligeiras conjuntivites, alcoólicos, idosos desamparados, estados de solidão, cólicas abdominais, etc. Esses doentes vão para as urgências ou para serem tratados desses males ou, então, muito simplesmente, porque se sentem mal, ou porque só conseguem uma consulta no centro de saúde daqui a um mês, ou para fazer um raio X, que nas «caixas» demora três meses, etc.
Por dia, milhares e milhares de pessoas convergem para os mesmos locais e, ansiosos e impacientes, aguardam urgentemente ser atendidos, porque se sentem doentes e o seu mal não pode esperar sem ser visto pelo médico.
Em 1984, o número total de urgências atendidas nos hospitais centrais, distritais e de nível I foi de 3 858 380; em 1988 foi de 5 116 772, portanto em apenas cinco anos houve um aumento de 32,6% dos casos atendidos.
Este enorme afluxo de doentes aos bancos dos hospitais é o melhor testemunho da confiança que a população tem no seu funcionamento. Os Portugueses confiam na qualidade dos serviços de urgências.
Mas, paradoxalmente, são as urgências que suscitam mais problemas e mais críticas: os profissionais de saúde, os doentes, os governantes e a opinião pública estão descontentes.
O deficiente funcionamento da rede dos cuidados primários de saúde origina um afluxo enorme e incontrolado de doentes, que procuram nas urgências hospitalares a consulta não conseguida no centro de saúde, a realização de exames complementares de diagnóstico não conseguidos com as convenções ou mesmo uma solução humana para um idoso desamparado, ou até um simples aconchego psicológico para as suas angústias e que o seu médico não lhe pfxle dar por falta de tempo.
De notar que, em 1988, a área de cuidados de saúde primários atendia 3168600 urgências, enquanto a área hospitalar atendia 5 204 (XX) urgências.
Por estes motivos, ou por outros (aumento do número de acidentes rodoviários, deficiente funcionamento de instituições de cariz social, etc.), tem-se assistido nos últimos anos a uma verdadeira «massificação» das urgências.
Na Área Metropolitana de Lisboa são efectuados mais de 1 500 000 atendimentos, tudo se passando como se mais de metade da população de Lisboa fosse uma vez por ano a um banco do hospital.
Por todo o País este aumento dramático não pára de crescer e cada vez e maior o número de doentes que procuram resolver os seus problemas através das urgências hospitalares.
Exemplo concreto é o Hospital da Universidade de Coimbra: em 1989 foram atendidos 43208 no serviço de urgências e no 1.ª semestre deste ano esse número aumentou para 50150. Isto é, num ano duplicou o número de atendimentos. Nenhum serviço, por melhor que funcione, consegue resistir por muito tempo a estes números demolidores.
E de todos estes milhares de casos verifica-se que somente cerca de 20 %, 25 %, necessitam de internamento e que os restantes 80% são situações que, após observação módica e orientação terapêutica, voltam ao seu domicílio, pois na sua maioria tratam-se de dores súbitas, cólicas ou simples sensações de angústia, ou mesmo queixas inespecíficas, síndromas febris, insuficiências cárdio-respiraiórias simples, asmas brônquicas ou alergias, fracturas simples e luxações, pequenas escoriações e ferimentos, intoxicações alcoólicas e idosos desamparados.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: A situação é de tal forma dramática que, quanto mais saúde tiver um serviço de urgências, pior o prognóstico do seu funcionamento futuro.
Esta catadupa de doentes, que aos milhares chegam diariamente aos bancos dos hospitais, originam transtornos consideráveis no seu funcionamento, bloqueando, por vezes, a assistência em determinadas especialidades.
É por isso necessário encontrar a solução fora da urgência, e não apenas remendá-la por dentro.
Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Debrucemo-nos agora sobre alguns aspectos do funcionamento da própria urgência.
Apesar de existir uma grande diversidade no modelo de funcionamento, constatamos que os seus principais problemas se centram em três áreas: primeiro, insuficiências de profissionais de saúde; segundo, insuficiências na qualidade de acolhimento; terceiro, insatisfação do pessoal médico, paramédico, de enfermagem e administrativo.
Quanto às insuficiências dos profissionais de saúde, verifica-se, com frequência, que existe um reduzido quadro médico, de enfermagem e paramédico. Por vezes, constata-se que para enfrentar as situações mais difíceis o serviço de urgência dispõe apenas, na primeira linha, de médicos jovens menos experientes e deficientemente apoiados.
No que diz respeito às insuficiências na qualidade do acolhimento constata-se que a maior censura é o tempo excessivo de espera. Às vezes há horas e horas de espera, mal suportadas, dado o contexto da urgência. Isto chega a assumir aspectos kafkianos quando o doente, sem receber nenhuma informação, espera, mas não sabe quem, nem o quê, nem porquê, nem por quanto tempo.
Depois temos a deficiência de instalações, que vão desde a inexistência de espaços individualizados pura funcionamento da urgência a instalações deploráveis onde tudo se mistura (acidentes graves com alcoólicos, com enfartes do miocárdio, com idosos abandonados, etc.), o deficiente equipamento, as burocracias administrativas escusadas, a inexistência de salas insonorizadas e de uma simples sala de espera decente e, por vezes, a falta de limpeza.
Também muito mal aceites são as transferências - não tão pouco frequentes, como seria de esperar - dos doentes de hospital para hospital, por falta de capacidade de resolução de problemas mais graves.
Quanto à insatisfação do pessoal médico, paramédico, de enfermagem, administrativo e auxiliar, são unânimes os seguintes pontos: há más condições de trabalho, remunerações insuficientes de todo o pessoal que tem de trabalhar em condições que exigem um grande sacrifício e carência de meios auxiliares de diagnóstico e de terapêutica.
Feito o diagnóstico, ainda que de uma forma sucinta qual deverá ser a terapêutica? No nosso entender, ela terá de ser urgente e incidir em três cani|X)s: antes da urgência, durante a urgência e após a urgência.

É hoje evidente e claro que a solução dos principais problemas das urgências passa pelo estancamento da torrente de doentes que todos os dias aí pedem auxílio. Ora, isso só é possível quando se aumentar a produtividade dos centros de saúde (aumentando o seu número e o das consultas), melhorar as instalações (dignificá-las, dando-lhes autonomia financeira e administrativa, valorizar a acção do médico assistente, melhorar o serviço de atendimento dos SAP, reestruturar o INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica), no sentido de o dotar de infra-