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22 DE NOVEMBRO DE 1990 515

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Natália Correia.

A Sr.ª Natália Correia (PRD): - Sr. Deputado Angelo Correia, como £ que o Sr. Deputado pode estimar uma relação privilegiada com Espanha e escamotear a dimensão mediterrânica da nossa cultura, que é a substância de uma ibericidade de fundo, que nos é comum? Como é que pode referir-se ao Portugal europeu e atlântico, quando o binómio histórico-cultural predominante é o Portugal mediterrânico das nossas raízes e o Portugal atlântico que nos possibilitou projectar essas mesmas raízes e que colidiram nas cortes e na literatura?
Sr. Deputado, pelo amor de Deus, não Taça afirmações dessas sem ler, pelo menos, Orlando Ribeiro.
Não sei se vou ter tempo pata ouvir a sua resposta, por ter de me ir embora,...

Risos gerais.

... no que lhe faço um grande favor, porque o senhor não tem resposta para isto. E se a tiver fica mais mal colocado do que ficou quando fez, da tribuna, essas afirmações.

Aplausos do PS.

Eu esqueço! Eu esqueço e faço-lhe um grande favor! É mais um!

Risos gerais.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Adriano Moreira, gostaria de saber de quanto tempo precisa para pedir esclarecimentos.

O Sr. Adriano Moreira (CDS): - Dois a três minutos, aproximadamente, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Sendo assim, tem a palavra.

O Sr. Adriano Moreira (CDS): - Sr. Deputado Ângelo Correia, desejo apenas fazer um comentário, tão breve quanto possível, que se destina a evitar que o debate, nos termos em que procurei intervir, possa ser mal entendido depois da intervenção de V. Ex.ª
Em primeiro lugar, recordo-me neste momento que o general De Gaulle começa as suas memórias dizendo: «Eu tive sempre uma cena ideia da Franca», e não precisou de explicar aos Franceses que ideia tinha e os Franceses sempre estiveram convencidos de que entendiam. É claro que é muita presunção por pane de qualquer governo apresentar-se perante o seu país, limitar-se a dizer isto e supor que todos os seus cidadãos o entendem. Mas eu penso que o entenderão cada vez menos se, podendo e querendo nós partir do debate desta ideia, nos encontramos finalmente a discutir se um presidente de uma câmara municipal pode ou não estar presente no Plenário. Talvez pudéssemos manter estes planos separados e deixar os partidos, incluindo os da oposição, manter-se ligados à essência do problema que está aqui a ser discutida Penso que este debate não deve ser diminuído com questões destas, que não o dignificam nem ao problema que nos ocupa a todos.
E queria dizer, precisamente, que muitos de nas tom uma cena ideia da Europa - eu tenho uma certa ideia da Europa. Queria também dizer-lhe, Sr. Deputado Angelo
Correia, que fui (creio) o único português presidente do Centro Europeu de Informação e Documentação, quando ainda não havia nenhuma destas organizações que debatem a Europa. Tínhamos uma certa ideia da Europa - se me permitir e quiser que eu lhe explique detalhadamente qual a Europa que tínhamos em vista, provavelmente não conseguirei ser bem explícito. Por isso, prestei uma homenagem a este governo quando disse que as GOP, na sua primeira parte, revelam uma profunda hesitação entre uma tendência que se encaminha para «Europa, nunca» e outra que se encaminha para «Europa, já». Um governo que, neste ano de 1990, não assumir essa hesitação na condução do País, não é um governo responsável. Eu quis assumir que eslava a ser governado por um governo responsável, mesmo não concordando com ele em muitas das interpretações e opções que faz, e esta é a alternativa.
Não concordo com o PS quando diz que as GOP são uma «música celestial» que não tem repercussão na definição do Orçamenta Entendo a imagem, entendo o que pretendem dizer, mas encontro essa falta de correspondência; as GOP não são «música celestial», as GOP condicionam o gradualismo das nossas posições na Europa.
De cada vez que o Governo participa numa conferência internacional, se não entendermos o que é que o Governo pretende com as GOP, não podemos controlar os compromissos que assume nesta política gradualista das conferencias, como ontem fez em Paris.
Por isso, considero que uma pergunta essencial, que precisa de ser respondida sem menosprezar a importância das GOP, é esta: que ideia tem o Governo acerca da união política europeia? Esta pergunta tem de ser constante. Que o Governo não possa responder de imediato, penso que é uma prova de responsabilidade. Gosto de ver o Governo, ao menos uma vez, com dúvidas e susceptível de se enganar. E, por isso mesmo também, espero que o Sr. Deputado Angelo Correia entenda que a minha posição foi uma posição metodológica.

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Angelo Correia.

O Sr. Angelo Correia (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em primeiro lugar, o Sr. Deputado, Prof. Adriano Moreira, quis homenagear o Governo quando lhe testemunhou a necessidade de, em 1990, ter uma dupla pulsão. Estou de acordo com V. Ex.ª, e, a homenagem que quis prestar ao Governo, é legítimo que lha devolvamos, no mesmo sentido da precisão, da sua e também da sua dúvida.
A Sr.ª Deputada Natália Correia colocou uma questão que, pareceria, dada a maneira explícita como a formulou, em termos histriónicos,...

A Sr.ª Natália Correia (PRD): - Histriónicos?! Então, e o senhor? Olha quem fala!

Risos gerais.

O Orador. - ... que seria uma questão gravíssima! A maneira como V. Ex.ª colocou o problema levar-nos-ia a interrogarmo-nos sobre a gravidade de algum erro básico, fundamental, que tivesse sido cometido. E o erro fundamental foi não ter falado no Mediterrâneo.