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1696 I SÉRIE - NÚMERO 52

.. Sabei que do inimigo o perigo
já me não pode enganar
fazendo-me armas tomar
Pelejar não é comigo.

Enfim, e para terminar o Feminino, a Paz e a Poesia. É a interligação desta triologia oriunda de uma velha ordem sagrada que apropriadamente celebro neste dia.

Aplausos gerais.

A Sr.ª Presidente: - Increveu-se, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Helena Roseta.
Sr.ª Deputada, tem a palavra.

A Sr.ª Helena Roseta (Indep.): - Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Uso esta figura para saudar a voz que acabámos de ouvir e saudar nela o facto de, uma vez por ano, ao menos, neste território do masculino que é o Parlamento, se ouvir a voz do feminino.
A Sr.ª Deputada Natália Correia acaba de citar a trilogia «o Feminino a Paz e a Poesia». A minha pergunta é esta: quando é que teremos, Natália Correia, esta linguagem do feminino na esfera do político.

A Sr.ª Presidente: - Para responder, se assim o desejar, tem a palavra a Sr.ª Deputada Natália Correia.

A Sr.ª Natália Correia: (PRD): - É uma pergunta embaraçante.

A Sr.ª Helena Roseta (Indep.): - Não precisa de responder!

A Oradora: -Não! Eu respondo, Sr.ª Deputada.
Penso que isso, evidentemente, depende daqueles que detêm o poder, mas depende também das mulheres que têm que entender que a sua missão não é só imitar os homens. A sua missão é projectarem na história esta cultura de paz, de poesia, de imaginação, da intuição e da sensibilidade. Enfim, despertar nos homens aquilo que neles também é sensibilidade, que é também feminino.
Portanto, penso que são esforços conjugados que têm que ser feitos para que, realmente, as mulheres tenham aqui o lugar que merecem.

Aplausos gerais.

A Sr.ª Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Narana Coissoró.

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Sr.ª Presidente, em primeiro lugar quero repetir a saudação a V. Ex.ª, hoje, neste dia particular, por assumir a Presidência da Assembleia da República, pelo seu mérito, pela maneira como, tantas e tantas vezes, em situações difíceis de cumprimento do Regimento vêm aqui dignificando esse cargo - que nós deputados lhe demos e a que tem inteiro jus - e porque neste órgão de soberania preside aos trabalhos neste Dia Internacional da Mulher.
Faço-o em nome das mulheres centristas de quem sou representante, porque fui eleito por elas, prestando nesta qualidade a minha justa homenagem a V. Ex.ª, às Sr.as Deputadas e aos poucos Srs. Deputados que hoje estão aqui presentes.
Em relação à intervenção da minha querida amiga e muito respeitada deputada Natália Correia, queria fazer dois ou três sublinhados quanto à tradição portuguesa do respeito pela mulher e a sua contribuição para a Nação.
Ela invocou o facto de os homens gregos deporem as armas perante as túnicas das mulheres, junto ao mar, para assim desarmarem os homens contra a guerra.
Não é esta a única tradição que a universalidade do feminino pode invocar no Dia Internacional da Mulher. A mulher portuguesa tem uma tradição diferente e bem mais forte, igual ou melhor do que os homens.
Lembre-se, Natália Correia, que quem fez os Descobrimentos de que hoje estivemos a falar antes desta sessão começar foram as mulheres. Vale a pena registar o facto, exactamente, numa década em que estamos a iniciar as celebrações dos Descobrimentos e a tradição ecuménica da presença de Portugal no mundo.
Enquanto os homens e os jovens partiam, eram as mulheres que asseguravam o Portugal de Quinhentos. Não eram os homens que ficavam a tomar conta da sociedade civil. Eram, exactamente, as mulheres que davam a retaguarda aos Descobrimentos e ao Portugal que desembarcava em todos os continentes, para que os homens partissem para a aventura, pois elas assegurariam que Portugal continuasse a alimentar a corrente de civilização ocidental a espraiar-se pelo mundo fora.
Era, portanto, uma tradição de ir às praias, não para desarmar os homens, mas para os incitar a conquistar moral, espiritual e comercialmente em todos os sentidos o mundo, propagando a portugalidade por esses mares e terras desconhecidas, porque cias eram o sustentáculo da lusitanidade e do patriotismo em Portugal. E não vamos ficar no século XV, não vamos ficar no século XVI. Voltemos aos anos 50 e 60.
A crise portuguesa dos anos 50 e 60 foi resolvida pela emigração. Não foi a mulher que sustentou a grande corrente de emigração dos homens e dos jovens que foram por essa Europa dentro? Foram os emigrantes que mantiveram o volume das divisas e a força do escudo em Portugal, através das suas remessas, entregando-se a aspectos de vida duríssimos no exterior. Mas quem manteve a espinha dorsal das famílias e da sociedade em Portugal foram as mulheres - mulheres, irmãs, noivas e filhas dos emigrantes que deixaram os seus transpor as fronteiras. Elas souberam fazer de Portugal o que ele é hoje, porque deixaram os homens partir para fora, pois elas garantiam a lusitanidade, a portugalidade, a nossa cultura portuguesa.
Hoje, podemos dizer que a nossa vocação não é apenas a vocação da CEE, que não estamos apenas voltados para os problemas da Comunidade Económica Europeia, que são importantíssimos para nós, mas que somos um povo, como cabeça de Juno, que olhamos para o interior da Europa porque somos europeus, mas temos a outra face voltada sobre o oceano grande e para os continentes onde transporíamos a Europa. E vamos para esse mar moreno, que é o Oceano Atlântico Sul, como lhe chamou Adriano Moreira, onde ainda está por resolver o novo equilíbrio e por saber qual é o papel de Portugal nessa zona, que será o futuro oceano dos Africanos, mas que será o nosso oceano.
Quem fez o luso-tropicalismo? Foram os homens que as mulheres deixaram partir para o Brasil, para a Índia, para a África, foram as mulheres que os armaram espiritualmente para partirem por essas bandas todas, onde se cruzaram com outras mulheres tão femininas como as portuguesas e tão culturalmente portuguesas porque femi-