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26 DE FEVEREIRO DE 1993 1481

tuação em que está hoje, com uma taxa elevadíssima de desemprego?

O Sr. Silva Marques (PSD): - Foi mal governada!

O Orador: - Por acaso, não teve ainda a curiosidade de conhecer quais as razões? Chegará, com certeza, à conclusão de que tal se deveu ao tacto de, durante alguns anos - após a adesão da Irlanda à CEE -, se ter seguido, precisamente, a política que o governo do PSD está a aplicar em Portugal neste momento. Isto é, por um lado, avançar para a chamada moeda forte, sem ter base estrutural para isso, e, por outro lado, sustentar-se apenas no investimento directo estrangeiro. Os resultados estão à vista!

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): - Muito bem!

O Orador: - É isso que o seu governo e a política do PSD estão a fazer!
Sr. Deputado, não há possibilidade de atingir convergências de economias se não houver economia, com sector industrial, agrícola ou piscatório.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Nunca haverá convergência, porque os senhores estão a dar cabo da economia, fazendo desaparecer tudo o que é produtivo e ficando apenas com a especulação e o sector financeiro e imobiliário. O que é pouco e pobre.
Mas, Sr. Deputado Rui Rio, subir à tribuna desta Câmara para dizer que, afinal, o rei está coroado, a política de sucesso está à vista e o oásis está cada vez mais rejuvenescido e verdejante. Tudo isto num momento em que há falências em série, em que se fecham empresas, em que o PIB passa a ser negativo, em que a situação da agricultura é desgraçada, em que aumenta significativamente o número de desempregados, mesmo os "empregados oficiais"- o próprio Instituto do Emprego e Formação Profissional apresenta cerca de 340000 desempregados, ou seja, cerca do dobro do número oficial-, num momento em que reaparecem os salários em atraso e em que a miséria, em muitos sectores da população portuguesa, está à luz do dia.
Não acha que, perante esta realidade, fazer esse discurso é uma completa irresponsabilidade, da sua parte e do seu grupo parlamentar?

Aplausos do PCP e do Deputado independente Mano Tomé.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado António Lobo Xavier.

O Sr. António Lobo Xavier (CDS): - Sr. Presidente, o Sr. Deputado Rui Rio assumiu, claramente, que faria aqui aquilo a que se chamou uma contra-ofensiva - aliás, esta manhã, a comunicação social advertiu-nos para o facto - em face de novos dados conhecidos sobre a situação económica do País.

O Sr. Manuel dos Santos (PS): - "Novos dados conhecidos", acima de zero?!

O Orador: - São novos dados, Sr. Deputado Manuel dos Santos, porque, de facto, ainda não tinham sido divulgados dados tão maus.
Ora, o Sr. Deputado assume o papel dessa contra-ofensiva, o que, aliás, lhe fica bem, pois é o papel de um valente ou, na guia do ciclismo, dos batedores. E, pois, o Deputado
que vai à frente para defrontar o primeiro embate, as primeiras munições da oposição, invertendo o discurso optimista do partido e, por isso, merece todo o meu respeito...
Devo dizer-lhe que não queremos que os senhores sejam santos, não exigimos ao PSD a santidade de vir aqui confessar todas as críticas e advertências que a oposição tem feito sobre a situação económica do País. Não queremos tanto! Ou seja, não pedimos que alinhe connosco, confessando todos os erros, misérias e desgraças que, dia a dia, são conhecidos no País.
Contudo, Sr. Deputado Rui Rio, queríamos um mínimo de realismo; admitíamo-lhe algum optimismo, mas queríamos algum realismo ou, pelo menos, o decoro de que, se não é possível travar esta "tempestade no deserto", não se fale mais de oásis nem se tenha mais o discurso governamental do optimismo.

O Sr. Silva Marques (PSD): - É um fraco argumento, Sr. Deputado!

O Orador: - Em segundo lugar, gostaria de dizer - e perguntar se concorda ou não - que não se pode ignorar a transmissão internacional dos efeitos económicos e, portanto, da conjuntura económica quando as coisas correm bem e, depois, falar dela quando as coisas correm mal.
No fundo, a sua intervenção é a confissão de que o Governo Português não tem qualquer antídoto para a nova situação da integração nem para a nova situação em que se transmitem todos os efeitos, positivos e negativos, das economias dos outros Estados membros. Não houve uma única palavra sobre um remédio, uma medida ou um antídoto a que o Governo Português pudesse lançar mão para limitar os efeitos negativos da integração, que se manifestam quando a conjuntura internacional é negativa.
Gostaria ainda de referir que, nessa medida, o seu discurso - e sendo um Deputado do Porto - só pode fazer sentido numa câmara fechada e nunca na zona em que o Sr. Deputado foi eleito, onde os empresários se queixam da situação vivida pelas suas indústrias. Aliás, Sr. Deputado, a palavra certa já nem é "queixar", mas, antes, desânimo e desorientação. É que estes, normalmente avessos a políticas industriais e à condução, pelo Governo, de grandes objectivos em matéria industrial, hoje já clamam, desanimados, por alguma luz ou caminho que o Governo teima em não dar.
Com efeito, hoje, o grande problema para os empresários que ainda vivem com a cabeça fora de água é um problema de orientação: não vêem, em lado nenhum, uma estratégia para o País em matéria económica e, especialmente, na área industrial.

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Rio.

O Sr. Rui Rio (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não vim aqui dizer que tudo está bem nem que tudo está mal. Tenho aqui fotocópias de um livro de Kenneth Maxwell onde se diz: "O Portugal contemporâneo é uma história de grande sucesso." Mais adiante acrescenta: "O Portugal novo está assente numa modernização económica e social em larga escala." Como dizia, nem tão-pouco vim aqui dizer isto. Esta é, no entanto, a posição do Sr. Dr. Mário Soares, pois são palavras do Sr. Presidente da República que estão aqui transcritas.

Aplausos do PSD.