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27 DE MAIO DE 1993 2379

Portanto, o que dizemos hoje é que, de facto, Portugal não podia ficar imune à crise internacional, mas que, apesar de tudo, o comportamento da economia, tal como no passado, continua a ser melhor que o dos outros. Assim, gostaria que o Sr. Deputado confirmasse ou negasse isto.

Aplausos do PSD.

Depois, o Sr. Deputado António Guterres teve algumas picardias, o que já é habitual e até dá uma certa leveza e graça ao seu discurso, pelo que eu próprio também queria deixar-lhe duas ou três. Aliás, acho que essas picardias são um pouco resultado das jornadas parlamentares do seu partido, a começar pela intervenção do seu colega Almeida Santos, que, com o brilho habitual, desta vez bateu todos os recordes, pois que e estou a citar notícias de jornais -, em 34 páginas de discurso, 32 foram preenchidas a falar mal do Primeiro-Ministro, o que, de tacto, é digno de figurar no Guiness.
Sr. Deputado António Guterres, a questão é que, para fundamentar as alternativas às questões pontuais que enunciou sobre a política económica do Governo, o senhor teve de recorrer implicitamente às declarações do Dr. Miguel Cadilhe,...

Protestos do PS.

Eu disse «implicitamente» e sabe bem que é assim!
Como dizia, o Dr. Miguel Cadilhe é pessoa que nós muito prezamos, enquanto é sabido que, no passado, os senhores não o prezaram tanto.
A este propósito, é interessante observar o fenómeno de como é que, no vosso entendimento, se passa rapidamente de «vilão» a «herói»: basta sair-se do Governo e, depois, ter-se uma opinião diferente da maioria.

Aplausos do PSD.

Mas nós tivemos muito gosto em ter ouvido o Dr. Miguel Cadilhe expressar uma opinião diferente durante as jornadas parlamentares do nosso partido. Pena é que o mesmo não tenha sucedido nas vossas próprias jornadas, que foram mais velório parlamentar que jornadas! Sei que houve por lá um assomo de diferença, pois parece que, a certa altura, o engenheiro Lopes Cardoso pediu a palavra e «a sala estremeceu», mas, depois, era apenas para propor uma condecoração para Xanana Gusmão e, então, «a sala suspirou de alívio»...

Risos do PSD.

Ainda em referência às picardias do Sr. Deputado,- afirmou que «uma política económica morre quando os cidadãos deixam de acreditar nela». Ora, digam-nos lá: os cidadãos acreditam em si? Repare nos resultados das sondagens de opinião sobre a sua pessoa. Acha que os cidadãos acreditam em si? É que, mesmo quando desce a popularidade do Sr. Primeiro-Ministro, a sua própria ainda desce mais! O que tem a dizer sobre isto?
Sr. Deputado, nós ficamos com o Dr. Miguel Cadilhe, mas, além dele, ainda temos o Dr. Daniel Bessa. Sabe porquê? Porque tanto na primeira declaração que ele fez sobre as linhas essenciais da política económica como, agora, naquelas magníficas declarações feitas ao Independente pelo seu «govemo-sombra» - e espero que o Sr. Deputado remodele rapidamente esse seu «governinho-sombra»-, o Dr. Bessa também falou, tal como fala o Governo, na concertação social, na convergência, no diálogo, no processo controlado, no apoio à segurança social e no equilíbrio das contas públicas! Ora, era isto que eu gostaria de ver. É que, se a sua diferença é mais uma diferença de grau, como era o caso, no tempo do Dr. Vítor Constâncio, relativamente à revalorização do escudo, então trata-se de mais um ponto ou menos um ponto e o Sr. Deputado nem isso enunciou. Isto é, nem chegou a dizer quanto é que propunha que fosse a desvalorização do escudo relativamente à peseta!
Assim, se a vossa diferença é apenas uma diferença de grau, então para quê esta interpelação? Para quê anunciar ao País a alternativa que nunca chega, tal como «Godot nunca chegou».

(O Orador reviu.)

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado António Guterres.

O Sr. António Guterres (PS): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Duarte Lima, a desorientação do seu grupo parlamentar é total!

Risos do PS.

Protestos do PSD.

A tal ponto que eu já sabia que o Sr. Deputado os proibia de andar pelos corredores, não sabia era que também, os proibia de me fazerem perguntas!

Vozes do PS: - Muito bem!

Aliás, compreendo bem essa desorientação total. É que os senhores tem uma confiança cega no chefe e quando chegaram a Viana do Castelo e ouviram falar o Dr. Miguel Cadilhe, pensaram todos: «O chefe vai salvar-nos. Face ao descrédito do Ministro das Finanças, o chefe lança o Dr. Miguel Cadime, que faz aqui umas críticas. Seguramente, o Ministro das Finanças vai dizer que, neste contexto, não tem confiança para governar, pede a demissão e isso permite-nos resolver a verdadeira encrenca em que estamos metidos...»

Risos do PS.

E quando ouviram falar o Dr. Miguel Cadilhe, disseram: «Que chefe genial: tudo bem planeado!» Ora, faço uma pequena ideia da confusão em que ficaram quando, a seguir, verificaram que o Ministro das Finanças foi no carro do Primeiro-Ministro, que, interrogado à entrada pela televisão, respondeu «esperem aí que o Primeiro-Ministro já vai falar!», tal como aqueles meninos que, num dia, apanham uma lambada na escola e que, no dia seguinte, levam o pai à escola para ele lhes resolver o problema.

Aplausos do PS.

Mas ainda foi pior. É que, em vez de corresponder à vossa esperança de que ia mudar o ministro e a política e reganhar a credibilidade para ver se ganhavam as eleições e mantinham tudo o resto que lhe está associado, o Primeiro-Ministro veio dizer que aquilo que se pensava ser uma táctica genial para conter a oposição no seio do PSD era, afinal, um desastre total, profundamente descredibilizador do vosso partido e revelador da maior confusão em que o PSD hoje se encontra.