30 DE SETEMBRO DE 1994 3095
sobre os quais há demasiados silêncios, mas também de alguns posteriores, mas o Sr. Deputado Lino de Carvalho, numa fase de excitação e aos saltinhos, resolveu nomear-me como um dos responsáveis pelo assalto à Assembleia da República.
Devo dizer que está enganado, porque, à data, eu já não fazia parte de qualquer organização da extrema esquerda. Podia fazer, mas não fazia! E uma das razões por que as abandonei foi exactamente por ter percebido que, em 1975, o Partido Comunista não era propriamente um partido reformista mas, sim, um partido que, efectivamente, queria tomar o poder.
Contudo, deixe-me dizer-lhe uma coisa, Sr. Deputado: fui, de facto, da extrema esquerda e nunca escondi isso - aliás, fui da extrema esquerda quase tanto tempo como, na sua juventude, o Sr. Presidente da República foi do Partido Comunista Português. Pelo contrário, tenho excelentes recordações e aprendi muito: aprendi muito sobre o Partido Comunista Português; aprendi muito sobre um partido como o Partido Comunista Português, que, nas folhas do seu jornal Avante, denunciou à polícia militantes clandestinos da extrema esquerda; aprendi muito sobre o Partido Comunista Português que, quando não conseguia ter controlo sobre as manifestações ou reuniões estudantis que se faziam sob a ameaça de invasão policial, as boicotava; aprendi muito sobre o Partido Comunista Português que não tinha pejo de prejudicar a luta contra o regime fascista para defender os seus interesses partidários restritos.
Por isso, nunca tive o respeito de língua, que muita gente tem, pelo Partido Comunista Português, porque o vi a agir nas circunstâncias políticas anteriores ao 25 de Abril, aprendi muito com isso e nunca me esqueci.
Mas deixe-me dizer-lhe mais: felizmente que esta minha experiência é bem partilhada. Por exemplo, estão aqui poucos Deputados do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, mas se eles cá estivessem em maior quantidade, se isto fosse uma reunião da Assembleia, teria ocasião de ver que, entre metade a dois terços dos militantes do Partido Socialista, pertenceram a organizações de extrema esquerda, onde os conheci, como seja, na LUAR, no MÊS, na FPLN - não na original, mas na que defendia a luta armada, como ali o Sr. Deputado Manuel Alegre - e no MRPP.
Devo dizer-lhe que as pessoas que tiveram experiência da extrema esquerda depois de 1968 têm uma diferença em relação às pessoas mais velhas, que, muitas vezes, fizeram o jogo do Partido Comunista Português. É que conheciam-no e quando perceberam o que quis fazer em 1975 tornaram-se, elas próprias, nas principais defensoras da democracia em Portugal, juntando-se a partidos e a personagens que, como o Dr. Mário Soares, estavam na vanguarda dessa defesa.
Aprendi isso e não esqueci. Conheço demasiado bem o Partido Comunista, nas suas falsidade, nas suas mentiras, nos silêncios que impõe sobre a história portuguesa, na falta de transparência sobre a sua vida interna, sobre a impossibilidade que dá a todos de, por exemplo, conhecerem o seu papel histórico para acontecimentos tão remotos como os dos anos 20, porque os seus arquivos, que têm interesse histórico para a vida pública portuguesa, permanecem encerrados. E permanecem encerrados porque o discurso do Partido Comunista Português sobre a sua própria história e os seus próprios actos é falsificada de uma ponta à outra e, portanto, nenhum escrutínio público, nem sequer aquele que pessoas curiosas sobre os fios e as meadas da nossa história recente, se pode ter em relação ao Partido Comunista Português.
Foi por isso que defendi aqui, conjuntamente com outros camaradas da minha bancada, a abertura completa dos arquivos da PIDE, porque sabia, como muita gente, que havia pessoas que estavam a ser sujeitas a chantagem com base nos dados conhecidos desses arquivos. Por isso eu e muita gente defendemos aqui que uma das razões por que os arquivos da polícia deviam ser colocados sob escrutínio público era exactamente para impedir a continuação dessas situações de chantagem.
Portanto, o Sr. Deputado Lino de Carvalho para mim não fala de alto sobre estas matérias, porque eu conheço-os muito bem, muito bem, e penso que também não fala de alto para muita gente do Partido Socialista e do PSD que, de forma idêntica, os conhece bem.
Se querem uma discussão aprofundada sobre a história e sobre os acontecimentos, estamos inteiramente dispostos a fazê-la, mas vamos fazê-la sem falsificações.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: - Para dar explicações, tem a palavra o Sr. Deputado Lino de Carvalho.
O Sr. Lino de Carvalho (PCP): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Pacheco Pereira, V. Ex.ª resolveu saltar em defesa da sua veloz carreira política.
É evidente que eu não disse ao Deputado Silva Marques que o Sr. Deputado Pacheco Pereira tinha estado a organizar o cerco, mas, sim, para lhe perguntar, porque o Sr. Deputado talvez soubesse mais sobre isso do que todos nós juntos. E essa questão fica outra vez colocada ao Sr. Deputado Pacheco Pereira, que, seguramente, sabe melhor do que eu, muitas das questões que rodearam essas acusações que, periodicamente, fazem ao PCP e que, porventura, teriam de ser feitas a muitos de vós que se sentam nessa bancada.
Diz que aprendeu muito quando andou na extrema esquerda e aprendeu muito sobre o PCP. Aprendeu muito e mal, Sr. Deputado! E aprendeu sobretudo a falsificar a história e a lançar, com os seus aparentes conhecimentos da história, falsificações e calúnias sobre a história, a vida e a luta do Partido Comunista Português e de milhares de militantes comunistas, em prol da liberdade e da democracia neste país e para todos os portugueses.
De facto, aprendeu, mas aprendeu mal. E aprendeu tão mal que rapidamente foi acolhido nas fileiras da direita, com um alto cargo dirigente e como estratega de operações, como estas que hoje aqui vemos, de cabala e de diversão, para procurar fugir ao isolamento em que o PSD se encontra.
O Sr. Deputado, nessa sua falsidade, produziu outra, dizendo que o PSD sempre tinha defendido a abertura dos arquivos da PIDE/DGS. Pelo contrário, se alguma força houve nesta Assembleia que tivesse procurado condicionar a abertura dos arquivos da PIDE/DGS foram os senhores e se alguém hoje coloca entraves ao livre acesso aos arquivos da PIDE/DGS, nos termos em que a lei o prevê, são exactamente os senhores e os seus instrumentos nos vários órgãos que detêm o controlo desses arquivos.
Melhor seria, Srs. Deputados, que, em vez de virem aqui com a operação que hoje trouxeram, criassem as condições para o livre acesso dos portugueses e, em particular, dos investigadores aos arquivos da PIDE/DGS, que os senhores estão a impedir e a limitar.
O que o Sr. Deputado pretendeu lançar foi uma operação de diversão e de cabala, obviamente, contra o partido que mais consequentemente se tem oposto ao Governo e ao PSD.
É por isso que os senhores definiram estratégias para, nestes dias, fazerem uma espécie de fuga para a frente e