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14 DE MAIO DE 1998 2325

vangloriavam no vosso governo, é evidente que eu esperava que o Sr. Deputado tivesse o bom senso e a humildade de reconhecer que a aposta que este Governo fez na região norte é uma aposta válida, é uma aposta que ninguém pode pôr em causa. E VV. Ex.as andaram devagar, por uma razão simples: é que Viana do Castelo dá poucos votos e por isso não era conveniente fazer aí investimentos.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Este Governo privilegia as zonas mais desfavorecidas, privilegia o interior. E, se calhar, é isso que vos dói. Mas estas são as verdades e têm de ser ditas.
Sr. Deputado, em relação às outras vias estruturantes - e esperava que o Sr. Deputado falasse nelas -, também estamos a trabalhar nelas.

O Sr. Roleira Marinho (PSD): - Mais 10 anos!

O Orador: - Pelo menos, teve o bom senso de não se meter por aí. É que os senhores deixaram a maior parte das coisas sem estudos de qualquer espécie, designadamente os estudos de impacte ambiental. Como o Sr. Deputado sabe, o IP9 está atrasado, precisamente, porque nem sequer um simples estudo de impacte ambiental foi feito. O Sr. Ex-Ministro Ferreira do Amaral sabe bem disso. No entanto, já lançámos o concurso internacional e a obra vai em breve começar.
Os problemas que os senhores nos deixaram, o C28, por exemplo!... Nos últimos três anos de governo do PSD nem um estudo de impacte ambiental preliminar, que era preciso, fizeram. Sr. Deputado, estas são as verdades, isto é a realidade dos números. Se o PSD não quer ver isto, paciência! O que é certo é que este Governo, na lógica de um desenvolvimento integrado, não só privilegia as questões sociais, a valorização dos cidadãos e tudo a que isso diz respeito = e muito bem! E isso está a ser compreendido pela sociedade portuguesa -,. mas ao mesmo tempo não deixa de dar o impulso que é necessário àquelas obras estruturantes, no plano rodoviário, que, nos distritos menos populosos e que menos interessava em termos eleitorais, o PSD se esqueceu de fazer.
O Sr. Deputado fazia muito bem - e julgo que irá ter esse gesto nobre - em estar presente no próximo dia 20, dia da inauguração da auto-estrada, para se congratular não só com aquilo que o seu partido fez mas especialmente com aquilo que o Governo da Nova Maioria fez.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tema palavra o Sr. Deputado Ferreira do Amaral.

O Sr. Ferreira do Amaral (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em 18 de Maio de 1498, Vasco da Gama e os que o acompanhavam avistaram pela primeira vez a Índia. Quatro dias mais tarde, a 22 de Maio, a frota vai fundear frente a Calecut. Nesta data, Vasco da Gama, um jovem de perto de 30 anos, cumpria o objectivo central da missão a que o Rei D. Manuel o tinha chamado e que havia iniciado cerca de um ano antes na praia do Restelo. Como mais tarde diria João de Barros cera o termo da sua navegação" e "nenhuma outra coisa lhe era mais encomendada".
Para trás ficavam décadas de preparação e esforços persistentes, envolvendo sacrifícios que hoje temos dificuldade em avaliar em toda a sua dimensão, ,um percurso conduzido por gerações sucessivas de políticos, de cientistas e de marinheiros. O caminho marítimo para a índia, procurado quase obsessivamente pelos portugueses e também por outros, ficava a partir desta data desvendado e navegado. E o Mundo, esse, a partir daí, nunca mais seria o mesmo.
A viagem foi em si mesma um feito assombroso de coragem, de vontade e de técnica. A passagem pelo Atlântico Sul, desde a Ilha de Santiago até à Baía de Santa Helena, mais de três meses sem avistar terra, sem outra referência para navegar que não fossem o sol e as estrela, numa rota que não seguiu a direito mas que percorreu um rumo estudado para que se pudesse aproveitar o sistema de ventos prevalecente, constitui um dos grandes feitos náuticos de sempre, hoje assinalado nos compêndios como exemplo de capacidade técnica e da coragem de ter confiança nela.
Até ao advento dos navios a vapor, a rota que Vasco da Gama seguiu no Atlântico Sul foi a rota sempre utilizada na passagem da Europa para-o Índico.
No Índico enfrentaram o desconhecido, navegando autonomamente mais longe do ponto de partida do que alguém, que se saiba, alguma vez tivesse antes navegado. Contactaram a partir daí, com mais profundidade, com outros povos e outras civilizações, assumindo deliberadamente, nesses tempos de particularismos desconfiados, o papel arriscado de estranhos vindos de paragens remotas.
Do diário de bordo anónimo, que muitos atribuem a um tal Álvaro Velho, leitura viva que a todos entusiasma, ressalta a dimensão quase desumana do feito. Mas ao mesmo tempo denuncia-se, através de pequenos sinais, o sentimento tão pouco épico, mas ao mesmo tempo tão humano, tão natural e tão português, da lembrança saudosa da terra que ficou longe. Melinde recorda, vista do mar, a vila de Alcochete e mesmo a estrela Polar, que é reavistada na última etapa a caminho da índia, depois de perdida durante tão longo trânsito pelo hemisfério sul, é saudada com a ternura de um regresso aos céus de Portugal.
Mas a viagem não é apenas memorável por constituir um desafio aos limites da capacidade humana. Mais importante do que tudo.- e é por isso que provavelmente a sua lembrança será eterna - foi a importância e as consequências que teve para a História da Humanidade. Alguns historiadores universais não hesitam em afirmar a existência de um período pré-gâmico e de um período pós-gâmico da História da civilização. Nenhum outro português protagonizou, através de um só acto, uma influência directa tão significativa sobre a História Mundial. O Mundo universal que hoje conhecemos, a aldeia global em que hoje todos vivemos tem um gene bem identificado que nasceu no momento em que a âncora da São Gabriel descia ao mar, frente a Calecut.
Vasco da Gama libertou-se da lei da morte. Camões, com a lucidez própria dos génios, ainda não tinha decorrido um século sobre o que se tinha passado e já antecipava a dimensão histórica da viagem. Sem Vasco da Gama não teria havido Os Lusíadas.
Faz agora 500 anos que tudo isto se passou. Vasco da Gama é seguramente a personalidade histórica portuguesa mais universal, e o justo orgulho que todos nós sentimos em que ele seja português faz parte da nossa identidade e constitui um factor importante da memória colectiva que