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2326 I SÉRIE - NÚMERO 68

fomos construindo solidariamente já vai para mais de oito séculos.
É nossa estrita obrigação comemorar condignamente a efeméride. Obrigação que temos não só perante o passado que nos cumpre invocar mas também perante as gerações futuras a quem temos um testemunho que nos deixaram para transmitir.
Não seria perdoável que deixássemos passar a data ignorando-a.
Pior ainda, se isso fosse feito à sombra do conceito absurdo, que, para meu espanto, vejo alguns sugerir, e que consiste na obtusa atitude de considerar que a afirmação de Portugal no Mundo tem de passar pela negação de Portugal feita pelos próprios portugueses. Por mim, não estou disponível para isto, e penso que há mais 10 milhões que também não estão.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Se trago agora aqui este problema é porque recentemente se tem levantado na opinião pública um clamor de suspeita e de inquietação relativamente à forma como se estão a desenrolar as comemorações da efeméride dos 500 anos da viagem de Vasco da Gama à índia. E como questões como esta só se podem prevenir, não se podem remediar, mais vale assegurarmo-nos todos, se ainda é tempo. Reconheço que alguns sinais que existem não são de molde a tranquilizar ninguém - nomeadamente a experiência daquilo que se tem verificado até agora, sobretudo, daquilo que por omissão não se verificou e se devia ter verificado. Mas, se há que emendar, emende-se já. Uma coisa é certa, Srs. Deputados, os portugueses revoltar-se-ão, agora e no futuro, se os 500 anos do descobrimento do caminho marítimo para a índia ficar a constituir o primeiro ano do esquecimento de Vasco da Gama.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Tanto mais que é justamente a 22 de Maio que abre a Expo 98, grande acontecimento de natureza internacional, que foi concebido desde o início para se realizar em data coincidente com a comemoração dos 500 anos da viagem de Vasco da Gama. O próprio tema da EXPO 98, que é o dos oceanos, tem seguramente mais significado se associado à efeméride.
A EXPO 98 não se limita obviamente à evocação histórica do descobrimento, muitos outros acontecimentos e realidades relacionadas com os oceanos estarão presentes para satisfação de todos os que a visitarem. Mas, a nós, compete-nos, como, aliás, competirá a cada um dos outros países participantes, projectar os nossos valores e fazer realçar as nossas figuras históricas, mais ainda quando a iniciativa é nossa e a data, por nós escolhida, foi por causa disso.
Ora, a verdade é que não se conhece ainda de que forma a divulgação e a promoção de Vasco da Gama e das viagens dos Descobrimentos em geral irão ser feitas na Expo 98, nomeadamente através do dispendioso pavilhão de Portugal, que é a quem incumbe sobretudo a obrigação de o fazer. Não é um bom sinal que ainda haja dúvidas a este respeito.
Será, por isso, de toda a conveniência que o Governo venha à Comissão Eventual para a Análise e Acompanhamento da Realização da Expo 98 dar as explicações e, sobretudo, as informações suficientes, para que esta Assembleia fique tranquila a este respeito. A opinião pública portuguesa ficaria certamente chocada se Vasco da Gama fosse o grande esquecido da Expo 98, e não se compreende que inibição absurda poderia levar a que fosse o próprio pavilhão de Portugal, nesta ocasião, a fingir que Vasco da Gama nunca existiu.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Estaremos todos atentos ao que se irá passar na Expo 98 e não teremos certamente a lamentar espero eu - que, a propósito da Expo 98 e por nossa culpa e omissão, seja mais promovido um rei estrangeiro que governou Portugal do que Vasco da Gama em memória de cujo feito a própria Expo 98 abrirá no próximo dia 22 de Maio.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: --Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado António Reis.

O Sr. António Reis (PS): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Ferreira do Amaral, não escondo que tenho por si uma grande admiração como historiador ou como quem tem feito incursões valiosas pela História, mas, cada vez mais, a minha admiração por si como historiador sobreleva em muito a consideração que vinha tendo pelo político.
O Sr. Deputado, depois de uma introdução, com a qual facilmente todos concordamos, sobre a importância da viagem de Vasco da Gama e quando tudo indicava que a sua intervenção concluísse por um apelo a esta Câmara para aqui votarmos um voto de congratulação ou de celebração do V centenário da descoberta do caminho marítimo para a índia, que, aliás, se cumpre a 20 de Maio, pelo contrário, aproveitou para entrar naquilo que me parece ser uma pequena chicana política, ainda por cima sem provas nem bases efectivas para contestar a filosofia que presidiu à organização do pavilhão de Portugal na Expo 98, precisamente em torno da descoberta do caminho marítimo para a índia.
Pergunto, Sr. Deputado: afinal, o que é que contesta? O que é que está mal? O que é que o preocupa? Está a falar com base em rumores? Está a falar com base em alguns artigos que têm vindo a ser publicados sobre esta questão?
Por outro lado, à mistura, vem também aqui trazer-nos uma putativa celebração de Filipe II de Espanha em torno da Expo 98. Isto já foi imensamente discutido, já se provou o que houve de absolutamente especulativo nesta questão, na acusação leviana de que se estaria a fazer aqui muito mais a celebração de Filipe II de Espanha do que a dos feitos, indesmentíveis, dos portugueses.
Assim, aconselho, francamente, o Sr. Deputado Ferreira do Amaral a ler o excelente artigo que o Prof. José Mattoso publicou hoje no jornal Público sob o título, algo irónico, Vasco da Gama, o super-herói.
De facto, as informações de que dispomos de maneira alguma autorizam as suspeições que o Sr. Deputado aqui veio trazer. Pode é haver duas concepções da História em presença: uma concepção passadista, ultranacionalista, aquela que bebemos dos manuais de um outro Mattoso, nos manuais da História do Estado Novo; e a concepção actualizada da História,...

O Sr. Luís Queiró (CDS-PP): - Actualizada?! Revista, talvez! Revista pela Nova Maioria...!