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21 DE A1A10 DE 1998 2431

tribuam para um reforço da nossa própria identidade; e a Expo 98 constitua também um veículo de projecção nacional e internacional da figura de Vasco da Gama e do feito a que está associado.

O Sr. Presidente; - Tem a palavra o Sr. Deputado José Calçada.

O Sr. José Calçada (PCP): - Sr. Presidente, Sr.- e Srs. Deputados: Há momentos assim na nossa vida individual e colectiva. Momentos mágicos, momentos que gostaríamos de poder guardar em nós para toda a vida e que, com legítimo orgulho, transmitiremos aos nossos netos. Dir-lhes-emos "Eu estava lá!..." e, os olhos turvados pelas lágrimas, não nos daremos sequer ao trabalho de encontrar outras palavras.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Este é um desses momentos, e foi o Grupo Parlamentar do PSD que o tornou possível. Sob a forma singelamente regimental de um voto de protesto, materializado em sintéticas 19 linhas de texto vazadas numa humilde folha de papel reciclado - o que o PSD acabou de criar, e generosamente colocou à nossa disposição, foi uma autêntica máquina-do-tempo. E uma máquina-do-tempo simples, eficaz e barata. O que para milhares e milhares de investigadores e cientistas permanece teimosamente no domínio da utopia, o que o Massachussets Institui of Technology ou o Centre Européen de Recherches Nucléaires perseguem num jogo quase infernal com as partículas conseguiu-o, hoje e aqui, o PSD. Permitam-me que solicite ao Sr. Presidente e às Sr.ªs e aos Srs. Deputados um pequeno exercício: leiam e interiorizem o texto do (assim chamado) "voto de protesto" posto hoje à consideração. Façam-no e sentir-se-ão magicamente transportados do Portugal de Abril, e, circunstancialmente, da Expo 98, para o Portugal de Salazar, e da Exposição do Mundo Português de 1940. Mas se o exercício que vos acabo de propor é tecnologicamente espantoso, ele é igualmente demonstrativo de como nem sempre as melhores tecnologias se encontram ao serviço das melhores causas. Na verdade, o PSD, no que a "heróis" diz respeito, parece nada ter percebido de História. Pior ainda: assume hoje um posicionamento que Ferrão Lopes olharia com sérias reservas, e que conduziria o cronista á lembrar que os grandes heróis da Revolução de 1383/85 são indubitavelmente o povo de Lisboa, a "arraia miúda", os mesteirais, e os camponeses alentejanos, e que só neste quadro os heróis nominais nos surgem e ganham vida. O próprio' Luís Vaz de Camões iria ter problemas com o PSD por causa do título do seu, e nosso, famoso poema épico. "O quê?! = 'dir-lhe-iam -"Os Lusíadas"?..." Não achas isto muito "colectivo>>, muito "popular", ó Luís?... Vê lá se desenrascas o nome de alguém importante para pores na capa"... E lá se ia embora o nosso amado Luís Vaz, pensando na sua que, nisto de inquisições, há sempre mais do que as que podemos imaginar!
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Provavelmente, não em todos os casos, mas em muitos, os heróis do PSD e os nossos são os mesmos. Só que não damos à palavra ou ao conceito o mesmo significado nem o mesmo enquadramento. No seu voto de protesto, diz o PSD logo nas duas primeiras linhas que o "descobrimento do caminho marítimo para a índia foi feito por Vasco da Gama há quinhentos anos". Esta afirmação é objectivamente errada e expressa claramente uma visão alienante da História. O caminho marítimo para a índia foi sendo construído desde muito antes, é, como toda a História, uma construção, e quando Vasco da Gama parte para a índia era já claro que o caminho existia. Afonso de Paiva e Pero da Covilhã, por um lado, e Bartolomeu Dias, por outro - deixaram materialmente a Vasco da Gama pouco mais do que o Canal de Moçambique. Estamos a subestimar o Gama? De modo nenhum. Estamos apenas a apontaras coordenadas históricas em que ele se situa sob pena de, como faz o PSD, o colocarmos num Olimpo onde nada tem a ver comos homens e com a História que os homens constróem. Queremos o Gama homem, porque só assim o sentiremos profundamente nosso! Neste domínio, para o bem e para o mal, porque todas as heranças se devem assumir por inteiro, o PSD não tem sequer razões para se sentir preocupado: uma sondagem publicada hoje por um jornal diário revela que 94,3% dos portugueses sabem quem foi Vasco da Gama, e é o grupo etário dos mais jovens que em média mais sabe.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Há uns versos de um poema de Bertolt Brecht que me parece importante lembrar nesta ocasião: "Alexandre conquistou a Pérsia. Nem levava um cozinheiro com ele?..." .
E uma nota final, quase pessoal: tenho um grande orgulho por como português e como comunista- falar precisamente hoje nesta Casa, 500 anos depois da chegada de Vasco da Gama à índia. É preciso que isto fique claro.

Aplausos do PCP e do PS.

O Sr.Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Reis.

O Sr. António Reis (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Há muito tempo que um voto de protesto não errava tão clamorosamente o alvo como, hoje.
Com efeito, o PSD acaba de demonstrar uma deliberada ignorância do que está a ser feito pela Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses e no âmbito da Expo 98, ignorância esta envolvida num indisfarçável parti-pris ideológico contra a perspectiva da história subjacente às comemorações em curso.

O Sr. José Magalhães (PS): - Bem dito!

O Orador: - O PSD parece ignorar que a Expo 98 é ela própria a mais digna e os 500 anos do descobrimento do caminho ,marítimo para a índia, possibilitando que os principais órgãos de imprensa mundiais abordem desenvolvidamente o feito dos portugueses
O Pavilhão de Portugal, já considerado pela imprensa estrangeira como o melhor pavilhão da Expo, concebeu uma exposição-espectáculo denominada "A Viagem" que desperta um confessado sentimento de saudável orgulho nos muitos milhares de portugueses que já tiveram a oportunidade de o visitar, incluindo os ex-Ministros do PSD Fernando Nogueira e Couto dos Santos e o deputado Mota Amaral, para manifesto isolamento do deputado Ferreira do Amaral.
Pela originalidade das soluções multimedia encontradas para contar a nossa gesta marítima, pela forma feliz como