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5 DE MARÇO DE 1999 2035

julga legitimado, desde logo, pelo património artístico e pela história cultural de Coimbra, pelo percurso definido para o seu futuro - Cidade da Saúde e da Culturação, ainda, pela necessidade profunda de o País continuar uma obra de criação artística desconcentrada e de descentralização científica e cultural.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Entrego, assim, na Mesa da Assembleia da República um requerimento dirigido ao Ministério da Cultura, solicitando-lhe informações sobre a continuação desta estratégia de investimento público em Coimbra, de que a presença do Ministro Carrilho recentemente foi prova, culminando, então, com o apoio a uma candidatura a Capital Europeia da Cultura.
Por último, citando o grande Eça de Queiroz: «O ar de Coimbra, de noite, andava todo fremente de versos. Por entre os ramos dos choupos, mal se via com a névoa das nossas quimeras... Outra das ocupações espirituais a que nos entregávamos, era interpelar Deus. Não o deixávamos sossegar no seu adormecido infinito.»
Desta feita, não deixemos nós adormecer o caldo vivo de vontades que querem ver e fazer de Coimbra um motivo de orgulho cultural para todo o país.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Barbosa de Melo.

O Sr. Barbosa de Melo (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Ricardo Castanheira, começo por louvar a circunstância de ouvir um jovem a falar do futuro. Está certo!, não falou do passado, falou do futuro.
Em todo o caso, escusava de ter feito algum remoque em relação ao passado. Por exemplo, quanto à co-incineração, até hoje, ninguém fez nada por Souselas e todos os partidos que aqui estão já estiveram representados ou no Ministério da Indústria, ou no do Ambiente, depois do 25 de Abril, e, nessa altura, já lá estava a cimenteira! Assim, isso do passado é um pecado colectivo que recai sobre todos e cada um de nós, a não ser, talvez com excepção de Os Verdes. Não falemos, pois, nisso.
Há duas coisas que disse com as quais estou plenamente de acordo: a necessidade de dinamizar a margem esquerda do Mondego e a de definir um plano estratégico-cultural para Coimbra, o qual, na verdade, não existe.
O Sr. Deputado louvou demasiado a autarquia, tendo dito que tem sido sempre consciente e perseverante. Ora, a autarquia anda há muito tempo na mesma mão mas pouco ou nada foi feito até agora, a não ser ter iniciado uma ponte com uma pedra que o Sr. Primeiro-Ministro lá pôs, mas não se vê lá nem ponte nem pedra alguma! Nada se vê!
O Sr. Deputado teve uma ideia que apoio: vamos, finalmente, dinamizar, organizar a margem esquerda do Mondego, que, no estado actual, está mal, tendo sido esquecida ao longo de décadas.
Há uma outra ideia que avançou que também tem a minha adesão. Trata-se da ideia de reivindicar para Coimbra vir a ser Capital Europeia da Cultura, algures no milénio que se segue.
Não é que estas coisas sejam necessariamente importantes, porque muito mais importante do que isso seria ter um plano para organizar correctamente o património vivo, do ponto de vista da cultura - falo da cultura musical académica e da cidade, falo do teatro, falo do artesanato, falo das escolas, da Academia em todas as suas plúrimas

manifestações, das bibliotecas, dos museus -, ter um plano que conjugue a- Universidade e a cidade para utilização correcta daquele património vivo que ali está. Era muito importante que se fizesse isto.
Construir um parque, é bom; pensar em comemorações, é bom, mas o que faz a cultura e o desenvolvimento de uma terra é a vida diária dela, é a capacidade que as populações e as instituições têm de tornar dinâmico o que está dentro delas.
Queria ouvi-lo e vê-lo deste lado das coisas, com um menor sortilégio pelos projectos e pelas ideias. Queria vê-lo, antecipando um pouco o tempo, e perguntar-lhe o que pensa da dinamização de todo esse valor imenso que está arquivado em Coimbra. Como vamos dinamizá-lo?

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Ricardo Castanheira.

O Sr. Ricardo Castanheira (PS): - Sr. Presidente, Sr.

Deputado Barbosa de Melo, za da questão que colocou.

Ouviu-me e sublinhou o facto de eu ter falado do futuro, e, efectivamente, assim foi. Ora, julgo eu que, para termos uma ideia clara sobre o futuro, não podemos deixar de fazer uma abordagem sobre o passado, a qual implicará ou não a atribuição das responsabilidades quanto aos erros que, eventualmente, tenham sido cometidos. A verdade é que, durante muitos anos, houve distanciamento, houve alheamento por parte do governo em relação a Coimbra.
Se, agora, eu pedisse ao Sr. Deputado Barbosa de Melo que me indicasse um exemplo de um investimento na área cultural e científica feito na cidade de Coimbra nos últimos 10 anos...

O Sr. Barbosa de Melo (PSD): - Teve o Pólo II, Sr. Deputado!

muito obrigado pela gentileza.

O Orador: - Só esse!

O Sr. Barbosa de Melo (PSD): - Só esse?! Acha pouco?

O Orador: - Não é pouco, é extraordinariamente importante. Sucede que é um investimento único, raro, singular, durante muitos e muitos anos.
Estou certo é que hoje - e a partir do momento em que o Sr. Deputado, aqui, aderiu expressamente a este conceito de programar para Coimbra uma ideia cultural e científica -, estão criadas as condições para que todos possamos ter este empenhamento colectivo, partindo, obviamente, de um exercício colectivo de reflexão. Penso é que, como já disse, olhar para o futuro não implica, necessariamente, deixar de fazer uma abordagem sobre o passado.
Apesar de tudo, confesso que, em Coimbra - e julgo que esse tem sido um problema durante estes anos grande parte dos instrumentos, das infra-estruturas, do acervo cultural patrimonial e histórico não depende só da sociedade coimbrã, muita da qual está ligada à Universidade de Coimbra. Parece-me que a Universidade em si mesma deveria dar o ponto de partida, uma noção de abertura, de democratização do seu próprio acervo cultural, o que me parece que nem sempre é bem feito.