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18 DE NOVEMBRO DE 1999 39

O Sr. Secretário de Estado das Comunidades Portu- Risos. guesas: —Com certeza, Sr. Presidente.

Meus queridos amigos e colegas, eu não quero estragar O Sr. Presidente (João Amaral): — Dou, então, a pa- a vontade ao Sr. Secretário de Estado e dir-lhe-ei que

lavra ao Sr. Deputado Rosado Fernandes. aprovaremos esta proposta de resolução, mas com o desejo de que isto até falhe, porque não há qualquer dúvida de O Sr. Rosado Fernandes (CDS-PP): — Sr. Presidente, que o pidgin portuguese vai existir. Não há qualquer dúvi-

Srs. Deputados: Não houve hífen ortográfico ou ortodoxo da de que o crioulo é o crioulo, o brasileiro é o brasileiro e que ligasse aqui mais Deputados para ouvir falar do Acor- o português daqui é o português daqui. do Ortográfico. Foi exactamente o que aconteceu nos paí- ses que eram afectados por esta «grave doença» que sem- Vozes do CDS-PP: —Muito bem! pre atacou os portugueses desde 1911, que é a de fazerem contínuas reformas ortográficas. Nada faz vibrar mais um O Orador: —Mas façam um dicionário! Eu, quando português do que uma reforma ortográfica! O hífen..., tenho de estudar uma regência de adjectivo ou de substan-maravilha! tivo, vejo-me aflito e tenho de recorrer ao Dicionário de

Lembro-me do Graça Moura, que defendia, com entu- Francisco Fernandes, que é um lexicógrafo brasileiro. siasmo, a abolição do hífen, lembro-me de várias vestais da minha Faculdade, que defendiam uma contra-reforma O Sr. Secretário de Estado das Comunidades Portu-ortográfica, e eu, que fui aluno do Professor Rebelo Gon- guesas: —Dá-me licença que o interrompa, Sr. Deputado? çalves, que foi o autor da reforma ortográfica de 1945, e já fui obrigado a escrever açúcar com dois «ss», açúcar com O Orador: —Diga. «ç» e outras palavras que já nem ouso repetir...

A verdade é que os países não sentem necessidade de O Sr. Secretário de Estado das Comunidades Portu-que haja uma uniformização de qualquer acordo ortográfi- guesas: —Por favor, a mim, que me chamo Lello, não me co, mas também é verdade que os países mais ricos não peça para fazer um dicionário. perdem dinheiro com acordos ortográficos. O defeito dos ricos é poupar; o defeito dos pobres é gastar! De maneira Risos. que vemos que os americanos continuam com o seu boro, com «b», «o», «r», «o», como se pode ver escrito por aí O Orador: —Como estava a dizer, quando pretendo nos maços de tabaco, e os ingleses continuam a escrever encontrar uma regência de um verbo, tenho, por exemplo, borough, com «b», «o», «r», «o», «u», «g», «h», que é de recorrer ao dicionário de Francisco Fernandes. Aliás, no muito mais complicado. Portanto, o Marlborough inglês outro dia descobri – mirabile dictum – que o melhor dicio-não é o mesmo que o Marlboro americano! nário de português que ainda hoje está comprável é o

De facto, o Acordo Ortográfico nunca pode ser nada, Aurélio Buarque de Holanda, que é brasileiro; o Dicioná-porque a verdadeira escrita seria a escrita fonética, mas rio da Porto Editora é louvável, mas não é um bom dicio-esta levantaria imensos problemas. Isto porque é evidente nário, pois não tem exemplos da literatura. que a pronúncia beirã do Dr. Carlos Carvalhas não poderia Ora, tinha sido preferível que a Academia se concen-ser igual à minha, que é uma pronúncia mais ou menos trasse num bom dicionário e noutros dicionários, visto que lisboeta, e teria de aparecer com um «s» com um sinal por não temos lexicógrafos em Portugal — assim como seria cima. preferível que o Governo se concentrasse nas lanchas

Portanto, o Acordo Ortográfico é sempre uma balela, rápidas! —, do que estarem sempre a pensar em uniformi-mas, como dizia Lady MacBeth, «what is done can not be zar a língua que os povos não vão uniformizar. O portu-undone» — o que está feito não pode ser desfeito. Ela guês crioulo será o português crioulo..., mas, agora, uma disse isto depois de matar o marido... coisa é importante: é, de facto, uniformizarem e chegarem

a um acordo sobre a terminologia técnica e científica. Risos do CDS-PP. O Sr. Manuel Frexes (PSD): — Exactamente!

... e eu digo isto depois deste Acordo Ortográfico, em que os meus colegas de Coimbra andaram furiosos debatendo O Orador: —Mas sobre isso nem cá temos acordo. sobre se punham acento grave, acento agudo ou acento Porquê? Porque há uns que são influenciados pela biblio-circunflexo, hífen ou não hífen… grafia francesa, outros pela bibliografia alemã, outros pela

E, meu Deus, falta-nos um dicionário! Falaram do meu bibliografia inglesa… A verdade é que primeiramente foi a antigo aluno Malaca Casteleiro e disseram que ainda não francesa – nós ainda dizemos embrayage e não clutch para acabou o dicionário da Academia. Mas, como sabem, o o carro. primeiro dicionário da Academia acabou na palavra «azur- Portanto, digo-vos, sinceramente: vamos votar esta rar» – foi nesta palavra que acabou o primeiro volume do proposta de resolução, mas é com um voto de piedade por dicionário da Academia, do século passado… simpatia e por mais nada. De resto, poupem-me mais orto-

grafias, deixem-me o hífen em paz! Risos. Aplausos do CDS-PP. Este ainda não zurra, porque nós ainda não o vimos!…