O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

0639 | I Série - Número 18 | 03 De Novembro De 2000

melhor das suas vidas a outras zonas mais desenvolvidas do país.»
Parecendo na altura que, porventura, estaria a levantar problemas específicos de uma determinada zona do interior do nosso país, eu estava, afinal, a levantar problemas nacionais que a todos dizem respeito, pois chamava a atenção para o fosso que ainda separa, do ponto de vista de sacrifícios e vantagens, cidadãos que vivem no litoral dos cidadãos que habitam no interior de Portugal.
Recorda-me que, na altura, fui gostosamente interpelado por um Sr. Deputado do Partido Social Democrata no sentido de explicar o modelo de desenvolvimento que eu pensava para as Terras de Basto.
Como essa resposta não poderia ser dada em 3 minutos, vou hoje explicitar melhor o que penso sobre este assunto.
Não vou referir-me ao problema da industrialização, embora, em Basto, não se possa perder essa perspectiva, a qual deve apoiar-se essencialmente nos seus recursos naturais.
A minha intervenção vai mais no sentido da necessidade de valorização dos produtos locais, bem como de um melhor aproveitamento da nossa riqueza turística e das nossas florestas, com vista a estancar a desertificação das nossas terras.
Nos últimos 10 anos, tem-se tentado avançar para uma verdadeira exploração e valorização das potencialidades agrícolas de Basto, mas a dinamização dos pequenos proprietários agrícolas, que conduziria à transformação de uma agricultura tradicional numa agricultura modernizada, que se traduza na garantia de venda dos produtos, com preços compatíveis com as despesas inerentes à produção, tem demorado muito tempo a ser concretizada.
Um dos produtos locais que necessita de ser promovido a nível nacional é o vinho verde de Basto, de cuja venda resulta uma das grandes defesas dos agricultores da minha zona. Vinho tão bem caracterizado no século XIX por Oliveira Martins: «o ácido picante dá-lhe uma semelhança de bebidas de fermentação do Norte, cidra ou Cerveja, e com ela, ao génio do povo, caracteres também semelhantes ao de bretões e flamengos.»
Este vinho, único no mundo, conheceu grande incremento na sua exploração com a aplicação e aproveitamento dos fundos comunitários. Nas Terras de Basto existem já 13 adegas que comercializam este saboroso produto, sendo as castas mais utilizadas azal e padernã.
Este extraordinário produto continua a ser trabalhado pelo mesmo povo que herdou a vivacidade, a robustez e a agilidade do transmontano, e a paciência, a tenacidade e a persistência do minhoto, e tem, por isso, resistido, ao longo de décadas, não só às intempéries, que lhe dão nuns anos a escassez deste maravilhoso néctar, mas ainda a situações menos claras de inundação desta zona por vinhos de outras regiões, quando noutros anos, há relativa abundância.
Outro produto que e necessário valorizar é a carne. Nesta altura, e devido à acção empenhada da Mútua de Basto, associação de agricultores fundada em 1988, com perto de 6000 associados, distribuídos pelos concelhos de Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Mondim de Basto e Ribeira de Pena, conseguiu-se a certificação do cabrito das Terras Altas do Minho, cuja carne de rara qualidade se obtém a partir do cruzamento das raças bravia e serrana.
As carnes de raça maronesa e barrosã, bem como o mel das Terras Altas do Minho, com uma história de quase oito séculos, produzido numa área geográfica constante do despacho n.º 31/94, de 17 de Janeiro, e que abrange todos os concelhos das Terras de Basto, constituem produtos de inegável qualidade que necessitam de uma maior valorização.
O turismo é outro campo em que muito se pode fazer por esta região, depois de resolvidos os problemas infra-estruturais por mim já referidos neste Hemiciclo no dia 12 de Janeiro.
É necessária uma comissão regional de turismo que defenda as raras belezas com que a natureza brindou Basto, que defenda os trajes, o folclore, a arquitectura dos monumentos e das igrejas, os românticos solares e a gastronomia com o famoso vinho verde de Basto.
Até há pouco tempo, os quatro concelhos desta região estavam integrados na Comissão Regional de Turismo da Serra do Marão. Deu-se, entretanto, a saída do concelho de Ribeira de Pena para a Região de Turismo do Alto Tâmega.
É evidente - e digo com a experiência de autarca de Cabeceiras de Basto - que estas comissões regionais de turismo, devido à sua localização, estão mais vocacionadas para outras zonas do país, que, nesta altura, são mais acessíveis e dotadas de infra-estruturas que não existem em Basto e onde os resultados podem ser obtidos no imediato.
Daqui lanço um desafio aos autarcas mais responsáveis dos quatro municípios de Basto no sentido de se entenderem entre si na fundação de uma verdadeira comissão regional de turismo, que defenda os interesses das Terras de Basto.
No campo agro-silvícola, onde as potencialidades da região são enormes, temos um diagnóstico feito há muito. A floresta em Basto, como noutros pontos do País, sofre de excessivo parcelamento: pequenas propriedades partidas e repartidas por herdeiros, até cada um ficar com meio hectare, que muitas vezes nem sabe bem onde é.
É necessário mais associativismo e gestão activa e integrada da floresta. Nos últimos 10 anos, muitos recursos foram gastos na limpeza de dezenas de milhar de hectares de matas, mas tal atitude não é uma solução universal. Se a pequena propriedade próxima, de que muitas vezes nem se sabe bem quem é o proprietário, não estiver limpa, o fogo atinge todos.
Estamos em consonância com o Governo sobre a estratégia de gestão florestal sustentada. A floresta deve ser gerida para e com a comunidade, no respeito dos direitos de propriedade e interesses de todos os cidadãos, incluindo os vindouros.
A adopção de uma Lei de Bases da Política Florestal, aprovada, em 1996, por unanimidade, nesta Assembleia, assim como a Resolução do Conselho de Ministros n.º 27/99, de 8 de Abril - Plano de Desenvolvimento Sustentável da Floresta Portuguesa, representam marcos importantes nesta nova fase do desenvolvimento florestal português.
No entanto, e como bem reconheceu o anterior Governo do Engenheiro António Guterres, a existência deste quadro não é, por si só, garantia de sucesso para a floresta. Torna-se necessário avançar rapidamente na criação de um processo de melhoria contínua, no sistema de preven