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2695 | I Série - Número 68 | 05 De Abril De 2001

nal, uma estratégia continental, além de uma estratégia global.
Em terceiro lugar, temos de partir do princípio simples de que a nossa língua não é, hoje, a língua da globalização. Há uma globalização linguística que é dominada pelo inglês; isto é, a língua global do mundo é o inglês. Apesar disso, os países não deixam de cultivar outras línguas. Veja-se o que se passa nos Estados Unidos da América: os EUA cultivam hoje, ao lado do inglês, as outras línguas, principalmente o espanhol, o português, o chinês e o japonês como línguas complementares que lhes são absolutamente necessárias para a sua própria presença através do mundo.
Então, se as próprias grandes potências a quem bastaria a sua própria língua, como é o caso dos EUA, procuram incentivar línguas complementares dentro do seu território, é porque estas línguas lhes fazem falta. E, naturalmente, se a terceira língua mundial, que é o português, já hoje, na Internet, também é a terceira língua mundial - só em Portugal há 700 cibernautas que usam o português - isto mostra que a língua portuguesa é, efectivamente, uma língua do futuro, uma língua que tem de ser prezada e tem de ter uma estratégia.
Um outro ponto, muitíssimo importante, foi aqui trazido pelo Sr. Deputado António Braga quando disse que não podemos tratar da língua portuguesa para os meninos, para os filhos dos portugueses, como se eles se bastassem a si próprios nas comunidades. Na América, na Ásia, na Europa ou em África, é necessário ensinar aos filhos dos portugueses ler, contar e pensar em português, mas ter sempre presente que estas crianças ou estes jovens têm de ser cidadãos do país de acolhimento. Nós não podemos tribalizá-los, não podemos juntá-los em minorias, não podemos dizer: olhem para Portugal como a terra dos vossos antepassados, com saudade, com fado, a ver a RTP e o Pátio das Cantigas!
Tudo isso é muito bonito, mas o que temos de fazer é ajudar os portugueses a integrarem-se nos países de acolhimento como cidadãos de corpo inteiro e, para isso, temos de lhes dar o português como segunda língua, um português como veículo para eles aprenderem melhor a língua da cidadania que pretendem, isto é, através do português, pô-los a aprender melhor a língua de acolhimento. Temos de ter programas próprios, que não temos; professores como ensinantes de segunda língua; materiais, gramáticas para ensino do português como segunda língua - que só agora começam a aparecer.
E vemos essa dificuldade em Macau. A escola portuguesa em Macau tem imensas dificuldades em ensinar às crianças chinesas o português. E se, em Macau, não se fala o português, depois de 400 anos da nossa presença lá, é porque nós nunca soubemos ensinar o português aos chineses! Tentamos ensinar pelos nossos livros aos chineses! Eu aprendi na instrução primária as estações de caminho-de-ferro de Lisboa até Monção.

A Sr.ª Maria Celeste Correia (PS): - Eu também!

O Orador: - Eu sabia todos os rios de Portugal, aos meus 6 ou 7 anos! Mas não sabia os rios de Goa! Isto mostra que nós tribalizamos ou queremos tribalizar - tratamos os outros como se portugueses de raiz fossem! E eles não são já portugueses de raiz. Temos de encontrar um ensino do português, como o Sr. Deputado António Braga disse, para aqueles que queremos formar como cidadãos nos respectivos países de acolhimento, como bons cidadãos.
Por outro lado, temos que ver que há países onde não há comunidades portuguesas mas a língua portuguesa está viva - é o caso de Macau, é o caso de Goa, é o caso da Malásia, é o caso do Sudeste Asiático, onde existe uma presença da alma portuguesa, onde há vontade de aprender português mas não há terreno, não há suporte físico para essa língua. Aí, nós temos de criar condições para que outras comunidades - os indianos, os chineses, os malaios, os indonésios, os japoneses, etc. - tenham apetência para aprender o português e que esta seja para eles uma língua civilizacional, uma nova língua, uma nova cultura que se lhes abre para a sua vida.
Caso diferente, por exemplo, é o Brasil. No Brasil, todos os diplomatas aprendem a falar o português ou, então, os países enviam para o Brasil diplomatas que saibam já falar o português, o que não sucede aqui, em Portugal! Aqui, nós falamos a língua deles. Quando aqui vem um embaixador, nós arranjamos um intérprete e falamos com ele na língua dele! Mas no Brasil, não! No Brasil, eles são obrigados a falar o português e todos se esforçam para falar o português. Isto mostra o quê? Mostra que, efectivamente, o Brasil tem uma língua portuguesa e faz da língua o seu esteio, o que nós não fazemos!
Por isso, mesmo, Sr. Presidente…

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, terminou o tempo de que dispunha. Faça favor de concluir.

O Orador: - Sr. Presidente, vou concluir, dizendo apenas que este problema não é unicitário e muito menos unitário. Há várias soluções para a difusão e a defesa da língua portuguesa, segundo as zonas do mundo e aquilo que nós queremos fazer.
Para isso, só há duas formas: uma estratégia e uma política de defesa do português como língua de irradiação civilizacional.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Braga.

O Sr. António Braga (PS): - Sr. Presidente, como se viu, esta discussão em torno destes projectos de resolução foi rica, trouxe contributos que consideramos não só importantes mas que, fundamentalmente, podem construir um texto comum em sede de comissão, que leve à estabilização de uma política consolidada num suporte político que dê uma estabilidade e uma tranquilidade no tempo, de uma política que faça a defesa da língua e da cultura portuguesas no mundo, nas perspectivas diferentes que todos aqui defendemos, com modelos diferentes em cada zona, em cada país e, naturalmente, defendendo também a inserção das comunidades portuguesas nas comunidades de acolhimento. Esse é o nosso ponto de partida também, Sr. Presidente.
Queria aproveitar os segundos que me restam…

O Sr. Presidente: - Já aproveitou, Sr. Deputado!

O Orador: - … para fundamentar - como sabe, Sr. Presidente, não posso fazê-lo à luz do Regimento - o requerimento que o PS apresentou de baixa à respectiva