15 DE DEZEMBRO DE 2006
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O Orador: — É falso, porque o que efectivamente aconteceu é que foi o Partido Socialista e o Sr. Ministro que quiseram impor que ouvíssemos um programa, sem que tivéssemos sido previamente convocados exactamente para esse efeito, isto é, sem possibilidade de contraditório.
Portanto, aquilo que o Partido Socialista quer é que os Srs. Ministros venham, com PowerPoint ou não, apresentar os seus programas, mas não nos termos em que tal deve acontecer na Assembleia da República.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Tem a palavra, também para uma interpelação à Mesa, o Sr. Deputado Maximiano Martins.
O Sr. Maximiano Martins (PS): — Quero repor a verdade dos factos, Sr. Presidente.
A verdade dos factos é que o Ministro da Agricultura veio apresentar à Comissão de Assuntos Económicos o programa de desenvolvimento rural e fê-lo com o respeito que é devido à Câmara e aos Deputados, em primeira mão, antes da discussão pública. No entanto, alguma oposição opôs o argumento que acabámos de ouvir, de natureza meramente formal, dizendo que não se cumpria determinado prazo para que isso ocorresse, quando aquilo que poderia ter feito era ouvir a apresentação do programa e, de imediato, requerer um segundo debate, a realizar-se quando considerasse necessário.
Protestos do PSD e do PCP.
Os senhores não querem discutir as políticas. Os senhores querem discutir os faits divers e o quotidiano mediático.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Srs. Deputados, essa discussão continuará em comissão. Vai ser, com certeza, um debate enriquecedor.
Vamos passar à fase de encerramento do nosso debate.
Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: O Pacto de Estabilidade e Crescimento impõe um défice não superior a 3%, sem olhar às especificidades e aos estádios de desenvolvimento de cada Estado-membro. Tomando como igual o que é desigual, fomenta evidentemente as desigualdades.
O Pacto de Estabilidade e Crescimento vive nas convergências nominais de números e ignora as convergências reais, a vida concreta das pessoas.
Onde existem território e pessoas, Bruxelas vê números. Isto é extremamente preocupante porque este instrumento, o Pacto de Estabilidade e Crescimento, é o exemplo paradigmático das consequências do afastamento entre os centros de decisão, os cidadãos e as realidades concretas.
O Governo português, cuja obrigação seria a de ter uma postura completamente diferente e a de olhar para uma realidade que lhe está muito mais próxima e relativamente à qual tem uma ligação directa, não abre a boca para contestar este instrumento de desigualdades ao nível comunitário.
O Programa de Estabilidade e Crescimento, para dar resposta ao Pacto de Estabilidade e Crescimento, é criado para servir Bruxelas e vai contra as pretensões e as expectativas da melhoria das condições de vida da população portuguesa.
Por outro lado, ficaram por explicar algumas questões que era importante explicar neste debate.
Por exemplo, por que é que, comparativamente ao de Dezembro de 2005, este Programa de Estabilidade e Crescimento apresenta uma revisão em baixa do consumo privado, o qual se relaciona directamente com o poder de compra das famílias e das empresas e que não aumentará, ao contrário do que se entendia em Dezembro de 2005? Por que é que o actual Programa apresenta uma revisão em baixa do investimento, que o Governo anunciou que, nos próximos anos, deveria ser a grande alavanca do crescimento económico? A respeito de outra matéria que ficou por explicar, a questão do desagravamento da carga fiscal, ainda é preciso dizer mais qualquer coisa.
De facto, hoje, o Sr. Ministro não o disse, e até disse que não o disse, mas podíamos debruçar-nos sobre anteriores declarações públicas suas, designadamente a órgãos de comunicação social, ou poderíamos olhar para o próprio Programa de Estabilidade e Crescimento para verificar, relativamente à previsão de receitas para o período 2007-2010, que se prevê um aumento progressivo das mesmas, em 2007, 2008 e 2009 e, depois, uma quebra acentuada, em 2010. O que significará isto? Provavelmente, o Sr. Ministro ainda terá oportunidade de explicar.
Relativamente a esta questão do desagravamento da carga fiscal, o Sr. Ministro afirmou que não quer falar mais disso. Mas, antes de se calar, convém que deixe tudo muito bem explicadinho.