I SÉRIE — NÚMERO 38
34
O sistema não pode vir antes. E sem cuidados de saúde primários não pode haver uma estratégia de ganhos em saúde.» Estávamos todos absolutamente de acordo com isso.
Pois bem, V. Ex.ª fez exactamente o contrário do que anunciou: centrou-se na política do medicamento para aí ir buscar folga para a contenção da despesa;…
O Sr. Manuel Pizarro (PS): — Claro! E bem!
O Orador: — … a obsessão pelo racionamento dos serviços roubou-lhe o tempo para os cuidados primários.
V. Ex.ª só de si próprio se pode queixar pelo fracasso desta reforma.
Nestas circunstâncias, Sr. Ministro, não posso deixar de perguntar-lhe o que pensa V. Ex.ª fazer para minorar este fracasso…
O Sr. Manuel Pizarro (PS): — Qual fracasso?
O Orador: — … e quando é que os profissionais da saúde e os portugueses em geral poderão finalmente perceber os verdadeiros contornos das unidades de saúde familiar.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado José Raul dos Santos para pedir esclarecimentos.
O Sr. José Raúl dos Santos (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, vou voltar ao caso de Odemira,…
O Sr. Manuel Pizarro (PS): — Embora seja Deputado pelo círculo eleitoral do Porto!
O Orador: — … porque este não é caso único.
De qualquer forma, Sr. Ministro, não queria deixar de ler alguns enxertos do seu comunicado de ontem, emitido pelo seu gabinete: «Nos vários momentos de intervenção foram proporcionadas as medidas de estabilização apropriadas»; «A gravidade do acidente e a distância a que ele ocorreu de um centro hospitalar com capacidade de intervenção neurocirúrgica condicionaram, sem dúvida, o tempo que mediou entre a ocorrência e a entrada no hospital de destino. Não existe, todavia, evidência de que esse lapso de tempo, bem como as manobras entretanto executadas, pudessem ter influenciado o desfecho fatal, o qual se deveu essencialmente à gravidade das lesões iniciais».
Sr. Ministro, os portugueses vão sendo melhor informados pela imprensa, que nos diz que a generalidade dos especialistas em emergência sentem espanto e vergonha pelo que se passou.
Perguntar-lhe-ia, Sr. Ministro, o seguinte: que instruções deu o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) à ambulância de emergência baseada no quartel dos Bombeiros Voluntários de Odemira, no momento em accionou o alerta? Que informação recebeu o CODU da equipa socorrista quando chegou junto da vítima? Que razões determinaram a sua deslocação para o Centro de Saúde de Odemira? Porque não foi accionada logo de início a viatura médica de emergência e reanimação? É aceitável, Sr. Ministro, que se diga que a vítima se encontrava num estado irreversível, que o desfecho seria sempre a morte e por isso não se investigue o que correu mal?
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Foram 6 horas!
O Orador: — Considera adequada uma espera de 7 horas por socorro numa região com grande prevalência de doenças cardiovasculares e afectada por graves acidentes de viação nos troços do IC1 e na autoestrada do sul? Mais, Sr. Ministro: considera aceitável que a Ordem dos Médicos e o Ministério Público investiguem o que se passou, que o seu Ministério diga que está tudo bem e não abra sequer um inquérito?
O Sr. Henrique Rocha de Freitas (PSD): — Uma vergonha!
O Orador: — Sr. Ministro, vamos a um caso concreto. No dia 23 de Setembro, em Odemira, Manuel Paulino Lucas, morador em Choça dos Vales, São Teotónio, deu entrada no centro de saúde às 20 horas e 40 minutos, esperou pelo helicóptero entre 3 a 3 horas e meia e acabou por morrer com uma hemorragia cerebral.
O Sr. Manuel Pizarro (PS): — Isso não é verdade!
O Orador: — Vai ou não o Sr. Ministro abrir um inquérito a este caso concreto? Vai ou não o Sr. Ministro