34 | I Série - Número: 022 | 7 de Dezembro de 2007
Em boa verdade, Srs. Deputados, não nos surpreende esta postura — para não dizer, em arremedo futebolístico, «esta atitude» — de um partido político que defende uma escola «onde o valor da concorrência é determinante» (Paulo Portas dixit), atribuindo, assim, à escola a mui oportuna função de carro-vassoura numa prova de maratona amadora: vai afastando para a valeta aqueles que não têm pernas para correr.
Porque, como todos sabemos e o próprio CDS-PP não se cansa de repetir, os nossos alunos não são iguais entre si, vivem em contextos sociais, económicos e geográficos diferentes,…
O Sr. José Paulo Carvalho (CDS-PP): — É verdade!
O Sr. Luiz Fagundes Duarte (PS): — … não têm acesso aos mesmos bens, costumes e serviços, frequentam escolas com necessidades, ofertas e problemas diferentes. De onde se conclui que, se é determinante o valor da concorrência, já sabemos, à partida, quem serão os vencedores e quem serão os vencidos.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Luiz Fagundes Duarte (PS): — Que, como nos filmes americanos de série B, são os culpados do costume.
O CDS-PP está, como se vê, do lado dos vencedores apurados nesta escola de concorrências desleais.
Vozes do PS: — Claro!
O Sr. Luiz Fagundes Duarte (PS): — O PS, pelo contrário, quer que os vencidos, a havê-los, tenham até ao fim da sua maratona a oportunidade de dar sempre mais um passo em direcção à meta. E para isso o Estado não se pode afastar das suas responsabilidades.
Aplausos do PS.
O CDS-PP lamenta, numa metáfora de choro de crocodilo, os «maus resultados» do actual sistema, que exemplifica, numa leitura enviesada (como já se viu) do recente estudo PISA, com o facto — para todos nós desconfortável, é verdade — de o desempenho dos alunos portugueses de 15 anos nas Ciências, Matemática e Leitura ser mais baixo do que a média dos seus colegas de um universo de 57 países estudados.
E, na sempre autorizada voz do Sr. Deputado Diogo Feio, o CDS-PP dá como receita para este mal, entre outras, uma solução capital: institua-se como lei a função purificadora da distinção entre faltas justificadas e faltas injustificadas, e assim se obterá um remédio para os tão apregoados maus resultados. Os alunos faltosos e que não têm quem lhes justifique as faltas saem do sistema, ou seja, «vão à vida», com toda a carga semântica que esta expressão pode conter. E, como não deixa de haver uma relação entre estes alunos — que o CDS-PP considera como prejudiciais ao sistema educativo e, portanto, matéria alijável pela borda fora (de preferência em mar alto e tormentoso, para que desapareçam de uma vez por todas) —,…
Aplausos do PS.
O Sr. José Paulo Carvalho (CDS-PP): — Não lhe fica bem dizer isso!
O Sr. Luiz Fagundes Duarte (PS): — … e a já referida metáfora dos «culpados do costume», de certeza que obteremos, a muito curto prazo, um excelente resultado político em matéria de aproveitamento escolar.
E se considerarmos, ainda à luz do último PISA, que, afinal, os alunos que tiveram percursos regulares ao longo da sua vida escolar também obtiveram bons resultados — e não será difícil perceber quais foram esses alunos e, por arrastamento, quais foram os outros, ou seja, aqueles que pela sua «ruindade» precipitaram a média do conjunto dos nossos jovens para os tais maus resultados que nos envergonham e que tanta ansiedade provoca na bancada que agendou este debate —, então é que o CDS-PP terá as suas «estrelinhas de oiro» bem gravadinhas no céu azul do seu contentamento. O próximo PISA lá nos colocará uns bons degraus acima nas estatísticas dos bons e dos maus.