15 | I Série - Número: 048 | 15 de Fevereiro de 2008
Para nós, um aborto é um mal que deve sempre ser combatido e que o Estado não deve incentivar. Por isso mesmo, Sr.ª Deputada, vamos, então, a essa avaliação preliminar de que há pouco V. Ex.ª falava.
Dizia a Sr.ª Deputada que os números não merecem comentário. Peço imensa desculpa, Sr.ª Deputada, mas acho que os números merecem mesmo um comentário.
A primeira questão que eu gostava de colocar-lhe, Sr.ª Deputada, é a seguinte: como é possível que, há um ano, várias pessoas, e a Sr.ª Deputada especificamente, dissessem que os números do aborto clandestino em Portugal rondavam os 20 000 — outras pessoas, também do lado do «sim», diziam que rondavam os 40 000 — quando, na verdade, segundo os números oficiais que hoje conhecemos, só se realizaram cerca de 6000 abortos, portanto, na pior das hipóteses, cerca de metade do que V. Ex.ª anunciava? Como é possível haver esta divergência de números?
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Parece que está triste com isso!… Queria mais!
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Como é possível que isto seja assim? Passo à segunda questão.
Sr.ª Deputada, tenho ouvido com algum espanto, diria mesmo com alguma estupefacção, as palavras do Sr. Director-Geral da Saúde, quando diz que os abortos são menos do que os previstos e que ainda não estamos em velocidade de cruzeiro. Ouço isto com muito espanto porque eu achava que o papel do DirectorGeral da Saúde era também o de combater o aborto dando alternativas às mulheres para que elas possam levar a sua gravidez até ao fim se assim o desejarem.
Choca-me muito que um responsável de uma tutela do Estado fale assim deste fenómeno.
O Sr. Abel Baptista (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Passo a uma terceira pergunta específica, Sr.ª Deputada, também para fazermos a avaliação.
A Sr.ª Deputada sabe, como eu sei, que a lei prevê que devam existir em todos os hospitais ou nas clínicas privadas licenciadas consultas de apoio psicológico e de assistência social. Temos tido vários relatos — e já escrevi à Sr.ª Ministra da Saúde para lhe pedir os dados oficiais —…
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, queria concluir.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Termino já, Sr. Presidente.
Como dizia, já escrevi à Sr. Ministra da Saúde para lhe pedir os dados oficiais, porque em muitos hospitais não existem estas consultas e, mais grave, nos privados também não.
Portanto, gostaria que a Sr.ª Deputada comentasse estes números e que comentasse, também, como é que numa avaliação intercalar nós não saibamos quantas consultas prévias, obrigatórias, foram realizadas face ao número de abortos.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, queira terminar, já lá vão 3 minutos.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Termino já, Sr. Presidente.
Sr.ª Deputada, acha normal que a um médico que deu a cara pelo «sim», tendo pedido escusa para fazer um aborto de uma pessoa que lhe apareceu no espaço de seis meses para realizar um segundo aborto, lhe tenha sido negado o direito à objecção de consciência?
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, as perguntas podem sempre ser feitas desde o início da intervenção.
Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Catarina Mendonça.