56 | I Série - Número: 105 | 11 de Julho de 2008
Essa perspectiva é absolutamente tacanha. Nós temos mais é que ir para Espanha, e os problemas de Espanha não são a nossa glória. Os problemas de Espanha são os nossos problemas, assim como os nossos problemas são problemas de Espanha. Nós partilhamos um espaço comum, não só o espaço europeu da moeda única mas a Península Ibérica. Nós devemos olhar para os países africanos de língua oficial portuguesa como nosso parceiros, devemos olhar para o Brasil como nosso parceiro, devemos olhar para todo o espaço ibero-americano como nosso parceiro, devemos olhar para o norte de África como nosso parceiro.
Nós não devemos é ficar a olhar para o «umbigo» do Sr. Deputado Paulo Rangel!
Aplausos do PS.
É assim que o País se centra no mundo: não isolado, assumindo riscos, internacionalizando. Os nossos empresários já o sabem. O sector exportador cresce, apesar de o euro estar fortemente valorizado. Tinha todas as condições para estar contra os nossos investidores, os nossos empresários, os nossos exportadores, mas as exportações continuam a crescer.
O José Manuel Ribeiro (PSD): — É falso!
O Sr. Afonso Candal (PS): — O investimento directo estrangeiro, no ano passado, desceu para metade do ano anterior, é verdade. Mas essa metade foi maior que todos os anos anteriores. O investimento que está previsto pelas empresas em 2008 é menor do que aquele que foi usado em 2007, é verdade. Mas já não havia tanto investimento previsto pelas empresas desde 1990. Esta é que é a realidade! Este é que é o País de quem acredita e de quem investe! Temos problemas, temos de lhes fazer face, mas, acima de tudo, temos de apoiar aqueles que acreditam, mais do que estar a pôr tudo abaixo.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Portas.
O Sr. Paulo Portas (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.as e Srs. Deputados: O substantivo que define este debate é crise. A crise que os portugueses sentem espelha-se nas opções que têm de fazer.
Entre poder tomar uma refeição por dia ou poder pagar os medicamentos: acontece com muitos idosos.
Entre pagar a prestação da casa ou a propina de um filho: acontece com muitas pessoas da classe média.
Entre emigrar e subir na vida ou marcar passo e ter o desemprego como destino: é o dilema de muitos jovens.
Entre pagar ao Estado ou pagar aos trabalhadores: é o problema de muitas pequenas e médias empresas.
Entre ser penhorados pela banca ou dar em penhor o seu orgulho e ir ao banco alimentar: é a situação de muitos novos pobres. Entre produzir e competir ou desistir e abandonar as terras: é o caso de muitos agricultores.
Entre a insuportável ideia de esperar sem esperança — esperar que o serviço de saúde marque a consulta, esperar que a justiça cobre uma dívida de anos, esperar que a polícia tenha autoridade contra os assaltos e depois não venha um código qualquer proteger o assaltante —, é neste esperar sem fim que Portugal desespera. Uma desesperança que chegou a um limite. O limite de uma perigosa desconfiança com o Estado, as instituições e o regime político.
Aplausos do CDS-PP.
O ânimo dos portugueses é sombrio — e o Sr. Primeiro-Ministro é, ele próprio, uma sombra da imagem heróica que a propaganda elaborou.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!