58 | I Série - Número: 105 | 11 de Julho de 2008
O Sr. Paulo Portas (CDS-PP): — Em Setembro de 2007, quando a deriva dos mercados financeiros já envenenava as economias, a dupla optimista não se conteve.
Para Teixeira dos Santos — citação de 15 de Setembro de 2007 — o que se passava então era, pasmese!, «uma correcção dos mercados financeiros»; e logo assegurava, cito: «não existem motivos para rever a previsão do crescimento». Viu-se! Três dias depois, o Ministro das Finanças ia ainda mais longe e atravessava-se contra todas as regras da prudência, e volto a citar: «não há razões para prever um impacto negativo na economia portuguesa». Juro que é verdade! Consta das actas! A 21 de Setembro de 2007, aqui, na Assembleia, confrontei o Primeiro-Ministro com o facto de o Ocidente viver há meses a crise dos créditos e a possibilidade de passarmos de uma crise financeira para uma crise económica com a alteração do respectivo ciclo. Não presumo de oráculo, mas suponho que fui atento e V. Ex.ª não!
Aplausos do CDS-PP.
O Primeiro-Ministro, à parte os epítetos do costume, proclamou em resposta: «temos um crescimento económico sustentado». Ele há gente que acha que por dizer as coisas, elas acontecem…
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Exactamente!
O Sr. Paulo Portas (CDS-PP): — O Financial Times já anunciava, em Outubro, que o barril de petróleo ultrapassaria os 100 dólares. Mas o Ministro Teixeira dos Santos não se comoveu nem pestanejou. Ora oiçam as citações.
Em Outubro de 2007, diz Teixeira dos Santos, cito: «o crescimento económico de 2008 vai ser superior ao de 2007, apesar do contexto internacional». No «apesar» é que está o requinte da declaração!
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Paulo Portas (CDS-PP): — Em Novembro de 2007, Teixeira dos Santos reincide e leva com ele o Orçamento e o País, cito: «embora se espere que a conjuntura possa afectar o crescimento da economia europeia, ela não afectará a economia portuguesa». Foi V. Ex.ª, Sr. Ministro, que o disse num momento de preclara visão…
Risos do CDS-PP.
Numa atitude que qualquer analista classificaria de negação categórica, passaram mais uns dias e o Governo sublinhava, e volto a citar: «reafirmamos um crescimento económico de 2,2% em 2008». Era Natal, era simpático. Só não era verdade.
Risos do CDS-PP.
No Natal, aliás, José Sócrates faria dos milagres uma epopeia pessoal, cito: «prosseguimos uma trajectória segura de crescimento». Reparem bem: isto foi dito a poucos dias do início do trimestre negro da economia portuguesa.
Não fosse alguém duvidar, José Sócrates ainda prometia: «2008 será melhor que 2007». Nada menos que isto.
Quinzenalmente, fui perguntando ao Primeiro-Ministro sobre os preços dos bens essenciais: o pão, o leite, a carne, a manteiga, os ovos. E o Primeiro-Ministro, altivo, aos preços disse nada, mas à ilusão consagrou o essencial do seu esforço.
José Sócrates, em Fevereiro de 2008, cito: «Portugal reagiu bem às dificuldades do subprime; a economia está em recuperação». Em Fevereiro deste ano, Sr. Primeiro-Ministro! Convém lembrar que já havia eleições convocadas em Espanha para evitar que a crise atingisse os eleitores antes de votarem.