102 | I Série - Número: 016 | 6 de Novembro de 2008
na angústia da própria manutenção do emprego, o Governo, em Junho passado, atacou violentamente a Presidente do PSD por esta ter chamado a atenção para o empobrecimento da classe média e para o estado de quase emergência social em que se encontra uma faixa muito significativa da população.
Vozes do PSD: — Bem lembrado!
O Sr. José de Aguiar Branco (PSD): — Manuela Ferreira Leite, sem o «teleponto» para orientar o discurso, sem cenários ostensivos ou espectaculares, sem crianças ou jovens contratados para valorizar o efeito cénico do momento, sem copiar a imagem com que colocam no palco Obama ou Zapatero e sem a presença do já estafado mas resistente computador Magalhães que acompanha o Primeiro-Ministro por todo o lado, disse o óbvio que, hoje, todos, à excepção do Governo, começam a reconhecer: o dinheiro não chega para tudo e será uma grande incompetência, falta de bom senso e de sentido de causa pública não rever as prioridades de concretização das múltiplas obras públicas anunciadas, tanto mais que isso revela uma opção de política económica assente em pressupostos esgotados.
Aplausos do PSD.
A nossa persistente divergência da Europa «da frente», com mais de 10 anos de governação socialista, torna claro que o «mal» é estrutural e não desta ou daquela medida mais ou menos conseguida.
Mas o Governo, mesmo que mascarado de centro-esquerda, como o Primeiro-Ministro candidamente se auto-rotulou, só acredita nas virtualidades do dirigismo central planificado da nossa economia: o do Plano Tecnológico, o das grandes obras públicas infra-estruturais, o da nova escolarização sem reprovações, o dos grandes projectos PIN, o da gestão pública das escolas, dos hospitais, etc. Ou seja, o Governo acredita que a sociedade se move com o apontar de dedo do governo central e se alimenta das estatísticas sempre risonhas com que os números são apresentados — curiosamente, números sempre em divergência com os da União Europeia» Este é o ponto de viragem de que o País precisa: injectar confiança na capacidade própria dos portugueses e nas suas empresas, dotando-os dos meios necessários para aumentar a sua capacidade competitiva.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. José de Aguiar Branco (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: O Orçamento do Estado que hoje debatemos é a expressão das várias marcas deste Governo: encenação quanto à sua apresentação; irrealismo, ilusão e imprudência quanto às projecções; pouca transparência quanto a alguns dos seus propósitos; teimosia quanto à matriz dos mega-investimentos públicos e timidez quanto à confiança na actividade das empresas, nomeadamente as pequenas e médias empresas.
O Sr. Paulo Rangel (PSD): — Tal qual!
O Sr. José de Aguiar Branco (PSD): — De positivo, a boa compreensão para os alertas que o PSD tem vindo a efectuar para as situações de emergência social e que o Governo agora procura amenizar com algumas propostas apresentadas no Orçamento, nomeadamente o apoio às famílias, aos idosos e a actividades escolares.
Mas, Sr.as e Srs. Deputados, a forma errática como o Orçamento foi apresentado indiciava um mau prenúncio quanto à sua bondade global. Sinal dos tempos, foi, digamos, um Orçamento apresentado «a prestações».
Como justificação, um pouco convincente refúgio em problemas operacionais, para esconder retoques de última hora. Retoques, seguramente, traduzidos em revisões, acrescentos e supressões que colocaram o Orçamento na esteira da onda de manter em alta as expectativas dos portugueses, ainda que de forma irrealista. Alguém acredita que, em 2009, seja possível cumprir as metas definidas no Orçamento?