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15 DE JULHO DE 2009

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Acho que esta situação nunca esteve em cima da mesa. A reacção dos accionistas sobre a venda à Caixa

Geral de Depósitos, acho que nunca esteve em cima da mesa, repito. O que esteve em cima da mesa, e julgo

que chegou a haver troca de correspondência, foi que a Caixa Geral de Depósitos, antes da nacionalização,

pretendeu adquirir o banco e chegou a haver, julgo, troca de correspondência nesse sentido. Não vi essa

correspondência, nem tinha que ver, mas tivemos conhecimento, informalmente, nos fins de Outubro de 2008,

que efectivamente a Caixa Geral de Depósitos estaria disponível para adquirir o BPN em condições que

estariam estipuladas nessa carta.

Portanto, a resposta dos accionistas, a nível colectivo, não sei, mas a minha reacção, posso dizer-lhe, foi

positiva e, portanto, entendia que era uma maneira de se poder resolver o problema em relação às propostas

que tinham sido colocadas e devido ser no mês de Outubro, nós tínhamos de entender que, no mês de

Outubro, o mundo financeiro ia-nos caindo em cima. Houve dias em que, eventualmente, não sabíamos o que

é que amanhã ia acontecer, se havia bancos, se havia empresas, se havia um conjunto de situações, como

bem se lembram.

E houve uma corrida aos depósitos de toda a banca. Eu próprio assisti, ali na zona de Sete Rios, a uma fila

de pessoas à frente do BPN a quererem levantar dinheiro e à Polícia, com bastões, a pôr as pessoas em

ordem.

Por conseguinte, o BPN como vinha fragilizado com todas aquelas questões, foi aquele que efectivamente

teve, naquele momento, mais corrida. Todos tiveram, como sabem, mas depois criou-se a imagem, e bem,

que a Caixa Geral de Depósitos era Estado e, como tal, os depósitos das pessoas estariam mais bem

protegidas na Caixa Geral de Depósitos.

Portanto, entendi, na altura, e há pessoas que sabem efectivamente disso, que a venda, que seria atribuída

mais tarde, seria uma solução para o BPN. E também, naquela altura, quando o banco foi nacionalizado,

também lhe posso dizer, Sr. Deputado, que fui, se calhar, das poucas pessoas accionistas, pelo menos que eu

saiba não há mais nenhuma, que comentou para algumas pessoas que o melhor que podia ter acontecido ao

BPN foi a nacionalização. Se calhar, o Sr. Deputado fica admirado com esta minha afirmação, na medida em

que, naquela altura, para a credibilização do sistema financeiro, eu acho que a atitude que o Governo teve,

naquele momento, foi a correcta e, direi mesmo, uma atitude corajosa com a nacionalização do BPN. Totalmente em desacordo com a opção tomada de nacionalizar o BPN, o Dr. Miguel Cadilhe disse:

Portanto, a nossa proposta, contrariamente ao que foi afirmado pelo Governo, não ia «pendurar-se» no

dinheiro dos contribuintes, não ia «pendurar-se» na concessão de capital público a fundo perdido, salvo se não

se acreditasse na viabilização do banco. Mas se não acreditava na viabilização do banco também não é

nacionalização que o vai viabilizar!

Há aqui uma contradição fundamental: quer o Governador quer o Ministro das Finanças, o Governador em

público, ambos em reunião, disseram que a minha equipa de administração merecia total confiança. Pois esta

equipa apresenta uma proposta e, então, esta conjugação de equipa de confiança e proposta apresentada sob

sua responsabilidade, mesmo assim, faz com que esta proposta seja rejeitada e assume-se a medida radical

da nacionalização. Perguntar-se-á: porquê?

Ainda por cima, se esta solução proposta pela administração que merece confiança não vingasse, então,

sim, haveria a última instância, que podia ser a nacionalização, ou outra solução de efeito equivalente perante

os depositantes e demais credores do banco.

Todavia, a meu ver, o Governo fez o curto-circuito e lançou-se imediatamente na nacionalização.

Quando o conselho de administração merecia confiança, quando o conselho de administração estava a

levantar todas as imparidades, quando o conselho de administração estava a chamar à responsabilidade

pessoas por infracções, por ilicitudes, por práticas evasivas e por negócios ruinosos; quando isto acontece,

quando há um conselho de administração que, pela primeira vez durante anos, faz a contra-maré, determina

imparidades através de auditorias externas, extraordinárias e independentes, que, pela primeira vez, são

feitas; quando este conselho de administração, pela primeira vez, trava práticas ilícitas e negócios ruinosos;

quando este conselho de administração começa a identificar responsáveis e começa a entregá-los à justiça —

cada negócio ruinoso que fomos levantando foi entregue a advogados independentes para juntar diversos

negócios ruinosos e participar isso a quem de direito; quando tudo isto está a acontecer, vem o Governo e usa

a «bomba atómica», que é a nacionalização.