12 | I Série - Número: 010 | 7 de Outubro de 2010
Senão, como explicar a emergência do Estado Novo, a sua longa duração e atraso, o seu carácter republicano e ao mesmo a negação dos princípios da liberdade e da igualdade? A III República, porventura a única verdadeira República democrática, só tem 36 anos, muitos deles agitados e traumáticos, e precisa de provar mais.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — De tudo o que da I República até hoje foi prometido, a educação é o que mais nos envergonha e torna o verso de Almada Negreiros «Sonhei com um país onde todos chegavam a Mestres» tão continuamente actual. Um verso que nos obriga a sonhar: a sonhar com um país onde a educação, desde a mais tenra idade, é universal, é rigorosa e é exigente, e por isso é um factor de realização pessoal, de mobilidade social e de desenvolvimento sustentado e produtivo de Portugal; a sonhar com um país onde todos podem chegar a todo o lado, onde o trabalho é valorizado e o mérito é premiado.
Aplausos do CDS-PP.
Sr.as e Srs. Deputados, o que o princípio republicano prometeu a todos os portugueses, sem excepção, foi a esperança de mais liberdade, de mais igualdade e de mais solidariedade. Estes princípios devem ser um mote suficientemente inspirador para nos despertar e desassossegar, para nos interpelar a fazer melhor, para termos a ousadia de querermos realizar agora um futuro mais luminoso. E esta interpelação dirige-se a todos os portugueses, porque, como dizia D. Manuel Clemente, «O melhor de Portugal pouco aparece e não abre geralmente os noticiários. Mas existe e é por ele mesmo continuamos nós a existir.».
E devemos começar por perguntar o que fazemos pela res publica e na res publica. Precisamos de nos sentir cidadãos, o que não passa só pelos partidos políticos mas passa também por eles. Quando cada jovem, ao preencher a sua primeira declaração de IRS, ganhar consciência fiscal, quando cada jovem, ao inscreverse num centro de emprego, ganhar preocupações sociais, então, terá um novo interesse em participar politicamente e, provavelmente, quererá influenciar a orientação dos partidos.
Precisamos de nos sentir cidadãos, com força e responsabilidade, para nos encontrarmos enquanto Nação que tantas vezes se superou e compreendermos que, em momentos particularmente difíceis como o actual, o que de bom alcançámos deve ser o alicerce para reinventar um percurso colectivo, com audácia, com imaginação e com tenacidade.
Aos inúmeros portugueses que hoje pensam «batemos no fundo» queremos dizer: é hora! É hora de mudar, de regenerar, de ter um novo projecto nacional.
Aplausos do CDS-PP.
Um projecto num mundo multicultural que Portugal ajudou a conhecer e por onde espalhou portugueses; num mundo que hoje também entra pelo nosso país e nos convida ao acolhimento com realismo e humanismo; num mundo que já não se joga entre poucas grandes potências mas em que, ironicamente, os fracos de ontem são hoje cortejados; num mundo com muitos centros, unidos pelo imenso mar que também fala português e que é, porventura, a nossa maior oportunidade; um mundo onde Portugal e os portugueses podem, com orgulho na sua História, assumir uma centralidade renovada e lançar as redes para novas colheitas.
Ainda caminhamos com dificuldade — a cada passo, até encontramos desilusão e carregamos fragilidades — , mas havemos de percorrer este caminho de liberdade, buscando mais igualdade de oportunidades e querendo uma sociedade com menos injustiça, com menos ostentação, com mais iniciativa e com mais humanidade.
Assumamos, de uma vez, a continuidade do nosso trajecto: são oito séculos e meio de História, os séculos da Monarquia e o século da República. Nenhuma nação com oito séculos e meio de História pode sequer hesitar quanto ao seu futuro.
Aplausos do CDS-PP.