I SÉRIE — NÚMERO 1
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O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Uma vergonha que deixou os portugueses ainda mais
indignados; que gerou consenso no País relativamente à sua contestação, inclusivamente de figuras dos
próprios partidos da coligação do Governo; que deu uma «facada» na dita concertação social; que colocou a
própria Igreja a denunciar a sua injustiça. Uma vergonha que, além do prolongado silêncio do Presidente da
República, pouco apoio conhece para além do dos membros do Governo e mesmo assim nem de todos, como
é público.
Fazendo as contas, desde o início da saga de austeridade, os portugueses estão mais pobres, as famílias
vivem num verdadeiro desespero, a economia está em recessão, as falências sucedem-se a um ritmo
assustador, a dívida pública aumenta, o desemprego não para de crescer e os níveis de pobreza alastram. Ou
seja, o Governo impõe sacrifícios e falha. E o pior é que insiste na receita. E, depois, ainda nos vem dizer que
são os portugueses que não compreendem as medidas, que é um problema de comunicação.
Os portugueses «afundam-se» na austeridade e, quando olham para os resultados, não veem crescimento,
não vislumbram sinais de consolidação das contas públicas, não vivem os tais sinais positivos, não sentem o
desemprego a ser contrariado. E depois não compreendem? Não! Nada disso!
O que os portugueses não compreendem é o motivo que leva o Governo a não dizer quanto já recuperou
com as parcerias público-privadas ou com as rendas excessivas pagas aos produtores de eletricidade.
O que os portugueses não entendem são os motivos que levam o Governo a recusar-se a renegociar a
dívida e a teimar em não apostar na produção nacional como forma de dinamizar a nossa economia.
O que os portugueses não entendem são as razões que levam o Governo a não impor à Caixa Geral de
Depósitos e aos bancos, que receberam apoio do Estado, metas quantitativas de concessão de crédito às
pequenas e médias empresas.
O que os portugueses não entendem são os motivos que levam o Governo a recusar-se a penalizar, pela
via fiscal, a especulação financeira e os dividendos distribuídos.
E aquilo que o Governo parece não querer entender é o recado dos protestos que os portugueses têm
vindo a expressar, como sucedeu no passado sábado.
Mas não foi apenas no sábado, foi também quando o Primeiro-Ministro deu uma entrevista na residência
oficial para não ter que se deslocar aos estúdios da RTP, provavelmente para evitar os protestos na rua e para
evitar os trabalhadores da RTP face à pretensão do Governo em acabar com o canal público e com o serviço
público de rádio e televisão.
Foi também quando um membro do Governo se viu obrigado a entrar pelas traseiras numa fábrica de
chocolate, e por aí fora. Nunca se viu nada assim; nunca se viu semelhante «paz social». E porquê? Porque o
Governo ultrapassou os limites do bom senso, não tem sentido de responsabilidade social, perdeu o norte, não
sabe o que fazer com o Programa do Governo, deixou de ter crédito. O Governo está sem saldo e já nem um
prémio de literatura consegue entregar…
Numa teimosia assustadora, o Governo ignora os reparos do Tribunal Constitucional no que se refere à
equidade nos sacrifícios impostos aos rendimentos do trabalho e aos rendimentos do capital e em jeito de
provocação, através da taxa social única, reduz a contribuição dos patrões e aumenta as contribuições dos
trabalhadores.
O Governo fala na criação de emprego, quando todos os estudos indicam que as mexidas na TSU vão
contribuir para aumentar o desemprego.
Em síntese, o Governo quer deixar os portugueses «a pão e água». Já não se trata apenas de austeridade
mas, sim, de imoralidade e de injustiça.
É por isso que Os Verdes saúdam todas as pessoas que, no sábado passado, saíram à rua para
manifestarem o seu descontentamento e indignação face a esta política, que continua a empobrecer o País e
os portugueses.
É também por isso que Os Verdes apelam à participação na jornada de luta convocada pela CGTP para o
próximo dia 29, contra o roubo dos salários e das pensões, contra a ruína das famílias e a destruição do País,
porque é já tempo de dizer: «Basta!».
Basta de sacrifícios, ainda por cima inúteis!
É preciso dizer ao Governo que os portugueses estão a compreender aquilo que o Governo está a fazer ao
País!