I SÉRIE — NÚMERO 8
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é legítimo e não pagar o que é ilegítimo. Queremos pagar com o crescimento económico, queremos seguir
aquele exemplo da Alemanha, que, a seguir à Segunda Guerra Mundial, tinha uma regra para o pagamento da
sua dívida de indexação ao crescimento das exportações. Se essa regra fosse aplicada hoje a Portugal,
permitiria pagar menos 5000 milhões de euros de juros — era isso que significaria.
Este caminho que o Governo está a seguir é que é o do não pagamos, é o caminho do empobrecimento,
porque quando não se cria riqueza não há dinheiro para pagar a dívida.
Neste debate, caíram, um por um, os já frágeis argumentos do Governo.
Temos o estafado argumento — sempre repetido pelas bancadas da maioria e do Governo — de que é
assim porque vivemos acima das nossas possibilidades. E pergunta-se: quem é que viveu acima das suas
possibilidades? Os milhares de pessoas que deixaram de ir às consultas e de fazer os tratamentos médicos,
porque não têm dinheiro para as taxas, para os medicamentos, para os transportes?! Será que estas pessoas
adoecem acima das suas possibilidades?! Os estudantes que abandonam o ensino superior, porque não têm
dinheiro para as propinas e para o resto dos custos?! As crianças que hoje mesmo vão para a escola sem
livros e sem comer e que, mesmo assim, não têm apoio escolar?! Será que é porque estudam acima das suas
possibilidades?!
E as famílias que compraram habitação com crédito bancário, porque era a única hipótese viável que
tinham e agora perdem a casa por falta de emprego ou de salário e que foram enganadas e abandonadas, de
forma torpe, pela maioria, aqui, na Assembleia da República? Será que para estas famílias ter uma casa para
morar é viver acima das suas possibilidades?!
E aqueles que hoje enfrentam as privações mais básicas, porque perderam o emprego e já não têm
subsídio, porque lhes cortaram o salário ou a reforma, porque lhes retiraram o apoio social, aqueles que
passam fome, será que é porque se alimentam acima das suas possibilidades, Srs. Deputados da maioria?!
Não! Quem viveu e vive acima das possibilidades do País são os de sempre, aqueles que o Governo serve
com a sua política: os 13 principais grupos económicos de base nacional que tiveram, no primeiro semestre,
mais de 1500 milhões de euros de lucros; os bancos privados, que receberam mais de 5000 milhões de euros
de dinheiros públicos; o BPN, que recebeu, só em 2012, entre 500 e 600 milhões de euros e que já tinha
recebido (o BIC), no processo de privatização, mais de 1100 milhões de euros; são as concessionárias das
PPP, que mantêm intocáveis as suas taxas de rendibilidade. Estes é que vivem acima das suas
possibilidades, das possibilidades do País!
O Sr. Primeiro-Ministro sublinhou dois factos de sucesso na política do Governo: a consolidação
orçamental e a consolidação do défice externo. Mas, a consolidação orçamental ou, como dizia ontem o
Ministro das Finanças, "a redução da despesa pública que é inquestionável", é o quê? Que despesa é esta
que é reduzida? São os salários e as reformas cortados, são os cortes nos serviços da saúde, são as escolas
sem dinheiro, são as universidades falidas, são os desempregados sem subsídios! Isto é que é o corte na
despesa pública que os senhores estão a fazer! Não é uma coisa abstrata, são estes cortes que estão a
prejudicar os portugueses.
Nós dizemos aqui — e dizemos ao Sr. Ministro Mota Soares — que rejeitamos totalmente a ideia de que o
País é um País de preguiçosos e de aldrabões que andam a enganar o Governo e a receber subsídios que
não deviam. Isso não são os portugueses. Podem ser alguns com quem os senhores se relacionam, mas não
são os portugueses. Os portugueses não são aldrabões e não são preguiçosos!
Aplausos do PCP.
Quem vive à conta do Orçamento não são os pobres, são os ricos!
O Sr. João Oliveira (PCP): — São os Porsches!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Isso é que os senhores não querem mudar e por isso é que sempre
acusam os pobres de serem aldrabões e preguiçosos.
A outra questão é a correção do défice externo. Mas não há qualquer correção. Correção haveria se
substituíssemos importações por produção nacional. Mas o que está a acontecer é que a diminuição das
importações é o resultado da destruição da economia nacional, da atividade produtiva e da procura interna.