I SÉRIE — NÚMERO 9
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O Sr. Mota Andrade (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Secretária de Estado do Tesouro e das Finanças, Sr.ª
Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, Sr.as
e Srs. Deputados: Em boa hora, o
Partido Socialista agendou este debate de urgência em torno do tema das privatizações.
Este é um assunto com importância fulcral para o País, sobretudo porque interage com a salvaguarda dos
interesses estratégicos de Portugal e, nessa medida, exige, da parte do Governo, um tratamento exemplar, em
termos de rigor e de transparência, e da parte da Assembleia da República um acompanhamento permanente.
Infelizmente, também neste domínio o Governo acumula falhanços e prefere a opacidade à transparência.
Com efeito, é absolutamente inaceitável que, tendo decorrido a quinta avaliação da troica a Portugal, os
portugueses continuem sem conhecer os resultados da mesma, assim como os compromissos assumidos em
matéria de programa de privatizações. E o Governo perdeu hoje mais uma oportunidade de esclarecer os
portugueses sobre o programa de privatizações, a sua extensão, os seus impactos na economia portuguesa,
bem como as condições de defesa do interesse nacional.
Mas, mais grave do que tudo isso, como ficou bem demonstrado ao longo deste debate, é a condução de
todo o processo de privatizações levado a cabo por este Governo, que não tem em conta o interesse nacional.
A falta de regulamentação, a legislação que o Governo não providenciou levou a que negócios do Estado
fossem confundidos com negócios do Governo, e só do Governo.
Aplausos do PS.
Perdoem-me, mas só do Governo não, porque foi nomeado um ministro extranumerário para tratar do
negócio das privatizações e, por aquilo que podemos observar, com poderes plenipotenciários. Sim, Sr.ª
Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, o que se passa e que todos os portugueses verificam é que a ação do
Prof. António Borges não cabe e não é aceitável num Estado de direito. A pergunta que todos fazem é o
porquê desta decisão, que passa ao lado de todo e qualquer controlo democrático.
Aplausos do PS.
Como é que alguém que exerce funções em instituições privadas, que não foi sufragado nem direta nem
indiretamente pelos portugueses, pode ficar à frente de um processo de privatizações que mexe com toda a
estrutura económica do País e que põe em causa o futuro dos portugueses?!
O Sr. Jorge Fão (PS): — Muito bem!
O Sr. Mota Andrade (PS): — Um processo que tem passado por completo ao lado do escrutínio desta
Assembleia da República, a qual deveria ter um controlo, a todo o tempo, das privatizações que estão a ser
levadas a cabo.
Mas, sendo, já de si, a situação insólita, nem esse ministro extranumerário nem o Governo informaram os
portugueses de quais os estudos, de quais as assessorias técnicas e dos custos associados às mesmas e de
quais os critérios que presidiram à venda dos importantes ativos nacionais.
O Sr. Carlos Zorrinho (PS): — Muito bem!
O Sr. Mota Andrade (PS): — Também aqui, na contratação dessas assessorias, a falta de transparência e
a opacidade foram uma constante na celebração de tais contratos. Sim, ainda neste momento
desconhecemos, por completo, qual a modalidade de contratação pública que foi utilizada pelo Estado para
tais contratações. Aquilo que todos sentimos é que nada está no domínio público e, aqui, mais uma vez,
reafirmo, falamos de negócios do Estado e não de negócios do Governo.
Aplausos do PS.
Pelos compromissos assumidos internacionalmente pelo Estado português, as privatizações têm de ser
levadas a efeito, mas respeitando sempre, sempre, os ditames da transparência e condicionadas a uma