I SÉRIE — NÚMERO 18
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verdadeiramente difícil é o momento que os portugueses vivem atualmente e as dificuldades que estão a
atravessar.
É por isso que a primeira de todas as responsabilidades e a primeira obrigação de cada um de nós é ter
respeito por esses portugueses. Muitos deles estão, neste momento, inseguros e também desiludidos. Muitos
desses votaram nos dois partidos desta maioria e são fonte da legitimidade para aqui estarmos enquanto
maioria e para o Governo exercer funções. Não merecem mais respeito uns que os outros, mas isso aumenta
a nossa obrigação de percebermos que, perante tal responsabilidade, temos que estar à altura do momento.
E esse respeito deve traduzir-se em compromissos, porque só assim faz sentido. Os dois compromissos
que têm de existir claramente neste momento são o de conseguir explicar o essencial e o de conseguir alterar
aquilo que possa ser alterado e possa constituir uma melhoria da proposta que aqui nos é apresentada.
Para explicar o que é essencial, antes de mais nada, é preciso explicar que é melhor ter um Orçamento do
que não o ter. É compreensível também que a primeira sensação de muitos portugueses,…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — A primeira sensação é de asfixia!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — … perante um sufoco fiscal tão grande, seja, obviamente, a
de que não ter orçamento nenhum era melhor do que ter um orçamento. Obviamente, isso não é verdade, pois
introduziria Portugal num conjunto de riscos que se refletiriam em dificuldades para cada um desses
portugueses.
Portanto, é preciso explicar que o que está em causa não é apenas um Orçamento como exercício técnico
ou a manutenção de um Governo, o que está em causa é o dia-a-dia de cada um dos portugueses, por muito
que isso não seja visível no momento atual.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Depois, é preciso também reconhecer, explicando isto, que
não é igual ter um Orçamento qualquer; é preciso ter um Orçamento que esteja à altura do momento que
estamos a viver, e para isso é fundamental que o Orçamento que saia deste Parlamento seja melhor do que a
proposta que cá entrou.
Também é preciso ser capaz de explicar o contexto deste Orçamento do Estado. É preciso saber explicar
por que chegámos aqui, é preciso falar do passado, do mais distante mas também do passado mais recente.
É preciso saber explicar o que correu mal em 2012, é preciso explicar por que é que o esforço adicional
neste momento é tão significativo quando a meta do défice foi flexibilizada.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — E é igualmente preciso explicar como é que o cenário
macroeconómico é sustentável. Estas questões são colocadas por todo o País e, se as ouvimos, não as
podemos ignorar e deixar sem resposta.
Se o contexto deste Orçamento não fosse claro, se os objetivos continuassem a levantar dúvidas, não
conseguiríamos com certeza mobilizar o País.
Em política, aquilo que não se consegue explicar não se consegue fazer e, portanto, é essencial conseguir
explicar por que é que aqui chegámos, o que estamos a fazer, para conseguirmos mobilizar os portugueses
para a correção do que até agora correu pior.
E é preciso também ter a capacidade de alterar aquilo que pode ser melhorado. Indo diretamente à
despesa, parece que há algum consenso neste Câmara de que um grande problema do País é a dívida, mas a
dívida não aparece por geração espontânea.
A dívida é consequência dos défices e os défices são a consequência da despesa. Então, a única maneira
de atacarmos aquilo que é consensual, que é o problema da dívida, é começarmos por reduzir
substancialmente a despesa.