30 DE NOVEMBRO DE 2012
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vir a ser estivadores, um dia, quando forem grandes, mas isto não deve depender de um qualquer vínculo de
sangue, deve depender, sim, da sua capacidade de trabalho, da sua capacidade profissional e da sua entrega
à estiva.
Hoje, de facto, a estiva é um trabalho bastante exigente, bastante especial, mas também mexe com um
conjunto de tecnologia que veio facilitar a atividade. Hoje, os portos já não são, ou não devem ser, e não
gostaria que fossem, olhados como um campo de trabalhos forçados. Não é assim, não deve ser assim! Os
portos, hoje, devem ser um local onde não se matem as reais expectativas dos trabalhadores, que não são
históricos — as classes B e C —, de poderem aspirar, um dia, a trabalhar na estiva e na desestiva. Um
sinaleiro/portaló deve aspirar a querer ser, um dia, um trabalhador de base. Isto é o que não acontece hoje,
porque, hoje, se chegar um barco, às 10 horas, os históricos começam a trabalhar e, como não são obrigados
a cumprir 8 horas para fazer o turno, saem, entrando os outros colegas. Estes colegas têm de sair à meia-
noite, para que os outros possam fazer horas extras.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — É cada disparate que parecem três ou quatro!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — É por isso que toda a imprensa e os próprios sindicatos e operadores
que ouvimos nos disseram que, de facto, é um exagero haver, hoje, no País, trabalhadores que possam fazer
1500 horas extras. Não é possível aceitar que um trabalhador, hoje, faça 1500 horas extras, mesmo que para
isso possa ganhar acima da média nacional.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Contratem mais para o quadro!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Esta lei, ao impedir que isso aconteça, de modo a que todos possam
fazer 250 horas extras, parece-me de bom senso, razoável e em defesa do trabalho portuário.
Mais importante do que isso, Sr. Ministro e Sr. Secretário de Estado, não é possível termos uma greve que
dure tanto tempo, não é legítima uma greve que dure tanto tempo. O direito à greve deve existir, mas não é
um direito absoluto.
A falta de bom senso e de responsabilidade nesta greve, bem como o seu efeito no que diz respeito
diretamente às exportações portuguesas, que registaram quebras, afetando, por exemplo, os trabalhadores e
os empresários da produção de pera rocha, o efeito que tem a paragem dos portos, conforme foi dito pelas
várias associações, incluindo sindicatos, é algo que não devemos aceitar.
Por isso, sem pôr em causa o necessário tempo de discussão, o necessário tempo para encontrar
consensos, sem pôr em causa nada disso, devemos ser céleres na aprovação desta lei.
Estou perfeitamente convencido de que os estivadores portugueses terão todo o interesse em ver colegas
seus aspirarem a chegar a esse patamar da carreira, tenho muita fé que as alterações que possamos fazer na
gestão dos portos tornarão esse setor fortemente empregador, porque é um setor com grande potencial de
crescimento.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Tudo precário!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Se assim for, não há que temer perda de postos de trabalho, não há
que temer perda de direitos e garantias.
Estamos a falar de um setor em que, se fizermos uma comparação com outros países, Portugal está muito
aquém de tirar todo o potencial dos portos, seja económico, seja exportador. E não passa só pelos
exportadores, passa pelos estivadores e pelos demais trabalhadores. É apenas um fator, no meio das
alterações que disse que temos de fazer, mas é um fator importante e decisivo: transformar estas leis de
trabalho em leis normais e, se possível, compatíveis com aquelas que são as melhores práticas europeias.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem, agora, a palavra a Sr.ª Deputada Ana Paula Vitorino, do
PS.