30 DE NOVEMBRO DE 2012
49
«… representa um custo que é cerca de metade do que se verifica em Setúbal». E acrescentou: «O custo da
mão-de-obra é praticamente irrelevante nesta questão»!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Ora bem!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É que os salários destes trabalhadores portugueses estão muito abaixo dos
que se praticam pela Europa fora. Ou os senhores querem que a nossa referência seja o sudeste asiático?
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Deve ser!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Haja seriedade na discussão, Srs. Deputados! Não é no fator trabalho que
estão as perdas de eficiência. Vejam-se os números do Banco Mundial deste ano: para exportar um contentor,
desde a saída da fábrica até à colocação no navio, a operação em Portugal demora 16 dias, isto é, o dobro do
tempo na Bélgica ou na Suécia. A grande diferença está na etapa da preparação de documentos. Na Suécia,
essa parte do processo demora dois dias, na Bélgica três, e em Portugal 10 dias! Acha que os trabalhadores
portuários têm alguma culpa disto, Srs. Deputados?!
É preciso melhorar as condições do transporte marítimo e o desempenho dos nossos portos, sim. Mas o
caminho para isso não é regressar a 50 anos atrás, às «Casas do Conto», agora em versão SMS.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Ao contrário daqueles de vós que pensam que o trabalho portuário é encher
contentores a ver quem mete mais metros cúbicos, a evolução do setor tornou o trabalho mais complexo e
exigente na preparação técnica.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Um pequeno erro de um operador pode provocar uma tragédia. E a vossa
resposta a isto é que qualquer um pode trabalhar nos portos. Não é verdade!
A fiabilidade e a segurança da operação portuária não se defendem com contratos de trabalho com seis
horas de duração, que é o que esta proposta de lei visa permitir.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Os nossos portos não funcionam melhor com mão-de-obra precária, mal paga
e indiferenciada. O sector não ganha nada com a eliminação da carteira profissional para os portuários.
Os senhores agarram-se ao pacto de agressão com a troica e falam em «cumprir os compromissos
internacionais do Estado». Mas já se esqueceram disso com a Convenção n.º 137, da OIT, que o Estado
português publicou, subscreveu e declarou assumir? Esqueceram o compromisso aí assumido na garantia de
um emprego permanente ou regular aos trabalhadores portuários?
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Esta vossa «estratégia» significa termos praticamente portos sem portuários,
em que as empresas metem pessoal quando o navio vem a chegar e mandam embora quando o navio zarpa.
E ficam em permanência só as instalações e as máquinas — que não têm que comer todos os dias, nem têm
filhos para alimentar e para vestir!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Percebam, Srs. Deputados, que as nossas exportações não ganham nada
com o roubo aos trabalhadores, aos seus salários, aos seus direitos, às suas vidas. Perguntem às empresas