I SÉRIE — NÚMERO 38
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A decisão do Tribunal Constitucional, seja ela qual for, não custará ao País, nem um nem 5000 milhões de
euros. As inconstitucionalidades é que custam muito, ao País e a quem as sofre.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. António Filipe (PCP): — O que se pede ao Tribunal Constitucional é a afirmação ou a reposição da
legalidade constitucional. Ninguém lhe peça que assuma as responsabilidades políticas que são do Governo e
que só o Governo tem de assumir.
Quanto à demissão do Governo, sejamos também claros. O Tribunal Constitucional, seja qual for —
sublinho — a sua decisão, nunca demitirá o Governo. O que vai demitir o Governo são as consequências das
suas decisões; o que vai demitir o Governo é o fracasso rotundo da sua política e o total descrédito em que
este Governo já caiu aos olhos dos portugueses.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. António Filipe (PCP): — Este Governo vai cair, porque já quase ninguém o aguenta. Este Governo
já só tem o apoio dos ministros — mais de uns que de outros —, da troica e dos banqueiros, que esperam a
recapitalização dos seus bancos à custa dos contribuintes.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. António Filipe (PCP): — Os banqueiros, esses aguentam este Governo e esta política. Aguentam,
pois aguentam! O povo português é que já não aguenta.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, os Srs. Deputados Luís Fazenda, Paulo
Mota Pinto, José Luís Ferreira e Luís Pita Ameixa, tendo o Sr. Deputado António Filipe informado a Mesa de
que responderá individualmente.
Tem, então, a palavra o Sr. Deputado Luís Fazenda.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado António Filipe, acompanhando a intervenção
que fez e aquele que foi o sedimento comum entre o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português e o
Partido Ecologista «Os Verdes», na queixa que apresentámos ao Tribunal Constitucional, por eventuais
inconstitucionalidades do Orçamento do Estado para 2013, todos sabemos que esta iniciativa legítima,
constitucional, respeitadora da separação e interdependência dos órgãos de soberania, que não é a
judicialização da política, como alguns têm tentado aventar, mas, sim, o exercício legítimo de um direito de
iniciativa que está constitucionalmente enquadrado, tem vindo a ser combatida, de forma pouco clara, mas
muito audível, por parte do Governo.
O Sr. Secretário de Estado do Orçamento, Morais Sarmento, foi a voz do Governo para dizer ao Tribunal
Constitucional que, se ele vier a declarar inconstitucionalidades, o País entrará em incumprimento do acordo
que celebrou com a troica.
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Não há pressão!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Ora, essa afirmação, essa declaração — da qual habilmente o CDS se
demarcou, mas sobre a qual o PSD nada disse até agora — é gravíssima e mereceria, da parte do primeiro
titular do Governo, que é o Primeiro-Ministro, um desmentido categórico, uma afirmação de respeito em
relação ao Tribunal Constitucional, colocando as questões políticas onde elas devem ser colocadas.
Não vale a pena alguém do PSD, por ali ou por além, vir dizer «por que não te calas?». É preciso que o
Primeiro-Ministro assuma as responsabilidades consequentes e desautorize o Sr. Secretário de Estado do
Orçamento, que foi a voz do Governo neste processo.