I SÉRIE — NÚMERO 51
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Entretanto, assumiu a presidência a Vice-Presidente Teresa Caeiro.
A Sr.ª Presidente: — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João Ramos.
O Sr. João Ramos (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: As espécies afetadas pelo nemátodo do
pinheiro e, por isso, submetidas a exigências fitossanitárias estão limitadas na sua gestão e comercialização.
A extensão da floresta de pinho bravo em Portugal e as restrições a que esta espécie está submetida têm já
bastantes implicações no setor florestal e, por isso, faz todo o sentido que todas as espécies que não são
hospedeiras de nemátodo possam ser retiradas da listagem que as submete desnecessariamente a limitações.
Assim, o PCP acompanha esta resolução no sentido de que a legislação comunitária possa levantar as
exigências fitossanitárias a espécies que não contraem a doença, no caso o pinheiro manso.
Se o PCP acompanha esta proposta da maioria, o mesmo não se pode dizer da política do Ministério da
Agricultura para a sanidade vegetal. É claro o desinvestimento do Governo em matéria de sanidade vegetal e
animal, que o PCP tem denunciado e contestado. Esta falta de atenção a este setor poderá ter implicações
económicas para o País, nomeadamente por causa das limitações à exportação de produtos portugueses.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Ramos (PCP): — As situações fitossanitárias merecem-nos a maior preocupação e, nalguns
casos, estão completamente descontroladas: a flavescência dourada da vinha tem vindo a expandir-se, tendo
já chegado ao Douro; os pomares de kiwis estão a ser atacados por pseudomonas; o fogo bacteriano está a
destruir pomares de pereiras e macieiras; o próprio pinheiro manso está afetado quer com o cancro resinoso
do pinheiro manso quer, principalmente, pela praga do inseto Leptoglossus occidentalis, que, em 2011, atacou
as principais áreas de pinhal do País.
Paralelamente ao crescimento destes problemas e talvez em relação estreita com ele, os laboratórios de
Estado atravessam graves dificuldades devido ao subfinanciamento.
Perante estas dificuldades, o Governo parece não ter uma estratégia ou, pelo menos, é isso que denuncia
a recusa da Sr.ª Ministra em divulgar as verbas disponíveis para a sanidade vegetal. Ainda esta semana,
numa audição nesta Assembleia e, apesar da insistência do PCP, a Sr.ª Ministra não o fez.
Por outro lado, o Governo continua sem aproveitar os dinheiros disponibilizados pela União Europeia para
o tratamento da madeira de pinho infetada pelo nemátodo, para não gastar as contrapartidas nacionais. A
obsessão do défice, seguida pelo Governo e ordenada pela troica, a isto obriga.
Porém, o nemátodo tem em Portugal um grande aliado. A própria Ministra já se pronunciou a favor da
florestação das terras de regadio, admitindo que essa arborização se faça com eucalipto. Quando o País
precisa dessas terras para produções agroalimentares estratégicas, como os cereais, o leite e a carne,
avançar com essa possibilidade, fazendo o frete aos grupos monopolistas do papel — Portucel e Altri —, é
mais um crime que se comete contra os interesses do País. Isto acontece quando, pela primeira vez, a área de
eucalipto em Portugal ultrapassou a de pinheiro bravo.
Esta recomendação ao Governo pode ter todo o interesse, mas, se esbarrar na falta de estratégia para a
sanidade vegetal, na subserviência a Bruxelas, que impede o Governo de defender os interesses de Portugal,
ou na sobreposição do interesse dos produtores de pasta de papel ao interesse geral, de pouco valerá ao País
e à economia nacional.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Isabel
Santos.
A Sr.ª Isabel Santos (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados: Ouvimos o Sr. Deputado
Abel Baptista falar da importância económica desta proposta de resolução e ouvimos o Sr. Deputado Maurício
Marques fazer uma resenha extensíssima sobre a história do combate ao nemátodo em Portugal.