I SÉRIE — NÚMERO 51
42
filhos perfazerem um ano de idade. Ou seja, a partir desse momento, a partir do momento em que os filhos
fazem um ano de idade, os progenitores já não têm direito a uma redução do seu horário normal de trabalho
em cinco horas semanais.
Ora bem, isto não é de todo justo, isto é extraordinariamente injusto e por isso aquilo que Os Verdes
procuram é alterar a redação deste artigo eliminando, pura e simplesmente, a expressão «idade não superior a
um ano», fazendo com que estes pais possam beneficiar da redução do horário para assistência aos seus
filhos deficientes enquanto os filhos, pelo menos, forem menores.
O atual preceito não faz sentido absolutamente nenhum, porque a criança deficiente, depois de um ano de
idade, não passa a ter uma autonomia que não tenha tido até um ano de idade, porque as coisas não são
assim. Há, de resto, crianças que, à medida que o tempo vai avançando e fruto da sua deficiência, vão tendo
ainda maiores debilidades e maiores dificuldades. Há até crianças cuja deficiência só é detetada a partir de um
ano de idade. Portanto, os pais não poderão nunca beneficiar deste regime. Ou seja, isto não faz sentido
absolutamente nenhum.
Assim, temos de encarar a realidade como realidade, as dificuldades como dificuldades, perceber quando é
que elas se mantêm e quando é que elas são, de facto, verdade e retratar isso na lei.
De resto, o que Os Verdes pedem é que se adeque o artigo à sua epígrafe, que diz, pura e simplesmente,
«Redução do tempo de trabalho para assistência a filho menor com deficiência». É só isto que propomos à
Assembleia da República.
Julgo que é importante ainda a referir que a Associação Portuguesa de Deficientes, consciente,
obviamente, da dificuldade desta matéria, afirma perentoriamente e dá conhecimento à Assembleia da
República que subscreve a proposta que o Grupo Parlamentar de Os Verdes aqui apresenta.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Raúl de
Almeida.
O Sr. Raúl de Almeida (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados: Por uma questão
de caráter, acima de tudo, por uma questão de verdade e por uma questão de justiça desta causa, queria dizer
à Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia aqui em público o que lhe disse pessoalmente, a saber, que concordo, em
absoluto, com os pressupostos do projeto de lei que o Partido Ecologista «Os Verdes» aqui hoje traz.
Queria dizer, perante todos, que nos parece de elementar justiça — que fique bem claro! — que Os Verdes
tenham trazido este importante tema para o centro do debate político neste Parlamento. Sempre que possível,
estas matérias devem ser geradoras de consensos e transversais aos diferentes espetros ideológicos desta
Assembleia da República.
Se, tradicionalmente, tínhamos, por exemplo, a defesa e os negócios estrangeiros como matérias de
Estado transversais às diversas forças políticas, é tempo de termos também as matérias do desenvolvimento
humano de forma igualmente transversal a todas as forças políticas.
No CDS, hoje como sempre, tomamos a opção preferencial pelos mais frágeis e é nessa opção
preferencial, é nessa defesa que hoje aqui damos o apoio à substância do vosso projeto de lei.
Conceder esta prerrogativa a estas famílias, a estes pais, não nos parece nem é nenhuma benesse; é o
reconhecimento de um direito elementar.
Acreditamos, por isso, que haverá uma alargada e natural compreensão sobre esta matéria; acreditamos
que trabalhadores, empregadores e demais parceiros sociais são, como todos nós nesta Casa, sensíveis a
esta matéria; acreditamos que, pela sua natureza, importância e justiça, esta matéria deverá, como a restante
legislação laboral, ser discutida e emanar de um amplo consenso na concertação social. Tem dignidade a
mais para, nesse contexto, fugir à lógica de toda a legislação laboral e ser apenas fruto de uma decisão
unilateral deste Parlamento.
Por este motivo, nós, CDS-PP, daremos entrada de um projeto de resolução recomendando ao Governo a
discussão desta matéria em sede de concertação social com caráter de urgência.
Acreditamos no empenho de todos na construção de uma sociedade mais justa, não duvidamos do
reconhecimento dos direitos dos pais por parte de todos os parceiros sociais.