22 DE FEVEREIRO DE 2013
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A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro da Educação, Os Verdes entendem
que o sector da educação é bem exemplificativo do que o Governo está a fazer a todo o Estado social.
No meio da sua intervenção, o Sr. Ministro, a páginas tantas, fez uma afirmação do género «a educação é
importante, mas não tem de ser prestada pelo Estado». Cá está, Sr. Ministro: a fúria, a ânsia da privatização,
também neste sector!
É óbvio, por via das medidas que têm tomado, que o que os senhores estão a fazer é a fragilizar a escola
pública. Ora, a fragilização da escola pública significa a desqualificação da escola pública. Ao que é que isto
levará no futuro? Levará à argumentação de que não vale a pena e que, portanto, deve ser o sector privado a
ter dar a resposta que os senhores dirão que as famílias precisam.
Não, Sr. Ministro! As famílias portuguesas precisam de uma escola pública forte!
Ora bem, este desinvestimento é de tal ordem que, em percentagem do PIB, chegámos sensivelmente ao
que o Estado gastava em 1989, Sr. Ministro. O recuo é desta ordem! E as políticas do Governo, na área da
orientação, têm-se centrado todas — todas, Sr. Ministro! — no despedimento dos professores. Esse tem sido
o vosso grande objetivo: agarrar metas de despedimento.
Este Governo, também neste sector, é uma fábrica de despedimento. Os senhores, quando trataram dos
mega agrupamentos, do número de alunos por turma, da reorganização curricular, foi para mandar
professores embora. E agora, neste concurso extraordinário para professores contratados, a resposta está
dada outra vez: 600 vagas, Sr. Ministro?! Isto é contribuir, com todas as mãos, para índices brutais de
desemprego neste sector.
O Sr. Ministro disse uma coisa curiosíssima: disse que a educação é um sector extraordinário para o
combate à interioridade. Mas, então, o Sr. Ministro vai fazer o favor de explicar como é que vai conseguir esse
objetivo depois de ter encerrado não sei quantas escolas e de ter deixado fragilizadas as pequenas
localidades no interior, que precisam de serviços de proximidade. Os senhores roubaram esses serviços de
proximidade, Sr. Ministro.
Vozes do PCP: — Exatamente!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Então, fará o favor de dizer como é que consegue esse objetivo.
Para finalizar, Sr. Ministro, gostaria de lembrar que, quando Os Verdes chegaram à Assembleia da
República, há tempos, a dizer, cara a cara, ao Sr. Ministro, que havia muitas crianças, cada vez mais, a chegar
às escolas com fome e sem o pequeno-almoço tomado, a primeira reação do Ministério da Educação foi de
que isso não estava provado. Está hoje provado, não está, Sr. Ministro? O programa não abrange todas as
crianças e o Sr. Ministro sabe disso.
Mais, Sr. Ministro: quando chegámos aqui e dissemos que há muitos estudantes a abandonar o ensino
superior porque não têm capacidade de o pagar,…
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — … o que o Ministério da Educação disse foi: «Isso é uma coisa
que ainda está por provar, porque as universidades ainda não têm essa contabilidade feita». Já está feita, Sr.
Ministro! O Sr. Ministro já é capaz de reconhecer hoje que há estudantes que abandonam o ensino porque as
famílias não têm capacidade de o pagar?
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Há estudantes, hoje, Sr. Ministro, que não receberam bolsa —
aquela que o Estado lhes deve — e que por isso passam fome. Isto é perfeitamente inqualificável!
O que os senhores estão a fazer é a formatar tudo para a elitização do ensino. É assim: quem pode pagar,
paga; quem não pode pagar, azar!
É extraordinariamente deplorável o que o Governo está a fazer com o Estado social, e a educação é, de
facto, um bom exemplo nesta matéria.