1 DE MARÇO DE 2013
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Todavia, este problema não está desligado de outro bastante grave: o sistema de sanidade animal
atravessa graves problemas devido a incumprimentos por parte do Governo, estando em causa a elaboração
e o cumprimento dos planos de controlo e erradicação de zoonoses.
Passaram dois meses de 2013 e a Organização de Produtores Pecuários (OPP), para lá do atraso de
2012, nada sabe sobre o futuro em matéria de sanidade animal. Também as recolhas de sangue e
tuberculinas se têm reduzido de forma significativa.
Aliás, já em dezembro denunciávamos o não assegurar pelas direções regionais de agricultura das
tuberculinas, das vacinas REV1 e dos destacáveis dos passaportes sanitários.
A partir da década de 80 do século passado, o Estado foi passando a responsabilidade pela sanidade
animal para as organizações de produtores e agricultores, através dos agrupamentos de defesa sanitária.
Depois de passar as responsabilidades, agora corta no financiamento. O Governo deve às OPP (organizações
de produtores pecuários) todo o ano de 2012, num total de 12 milhões de euros. Estes atrasos levaram já à
falência de organizações.
Questionada pelo PCP, a Sr.ª Ministra foi incapaz de assumir um compromisso de pagamento, dizendo
apenas que tudo fará para pagar, em 2013, o ano de 2012. Poucas certezas para um setor que não pode
esperar!
A solução do Governo foi a criação de uma taxa a aplicar às grandes superfícies comerciais, que,
abusando do seu estatuto e contando com a reconhecida complacência do Estado para com os grandes
grupos económicos, ao contrário da perseguição às pequenas empresas, vieram já anunciar que não a
pagarão. Dos cerca de 12 milhões de euros necessários anualmente para suportar o sistema, o Governo só
conseguiu arrecadar 1 milhão com a referida taxa.
O pagamento do sistema de sanidade e as OPP não podem ficar reféns do cumprimento pela grande
distribuição dessa taxa. É completamente insuportável que a Ministra da Agricultura mantenha, há mais de um
ano, esta situação, com as consequências de evidentes riscos para a saúde animal e pública.
Em dezembro, a Comissão de Agricultura e Mar aprovou um requerimento do PCP para uma audição com
o secretário de Estado com responsabilidade política na matéria. Em mais de dois meses, o Governo ainda
não teve disponibilidade de vir à Assembleia prestar esclarecimentos. O PCP já requereu, como atrás
referimos, o alargamento do âmbito desta audição, juntando-lhe também as questões de saúde pública ligadas
à venda de cavalo por vaca e ao estudo da DECO (Defesa do Consumidor).
Este desinvestimento em sanidade animal vitima os laboratórios de Estado promovendo a realização, no
estrageiro, de análises que poderiam ser feitas em Portugal. Coloca também graves problemas aos
laboratórios privados com dívidas acumuladas que recuam a outubro do ano passado. A desculpa é a Lei dos
Compromissos.
O foguetório do sucesso das políticas de agricultura do Governo esconde uma realidade que pode vir a ser
dramática, do ponto de vista da segurança alimentar, da sanidade animal e de potenciais limitações à
comercialização dos nossos produtos pecuários — um problema sanitário causado por limitações impostas às
entidades com quem o Estado contratualiza serviços, que agora não paga.
Os riscos económicos são grandes e os riscos para a saúde pública não são menores. O PCP não se tem
cansado de alertar e de solicitar intervenção e só espera que não venha a ser necessário atribuir
responsabilidades políticas a quem tem permitido o avolumar dos problemas, mas, se eles surgirem, não
hesitará em fazê-lo.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
A Sr.ª Presidente: — Para uma declaração política, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, de Os
Verdes.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O Governo anunciou
publicamente a intenção de construção de um megaterminal de contentores na Trafaria, no concelho de
Almada. É anunciado como um projeto incluído num plano de reestruturação do Porto de Lisboa, que
transferiria o terminal de contentores de Lisboa para a Trafaria, duplicando a sua capacidade de carga.