I SÉRIE — NÚMERO 60
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O Governo atualizou seis vezes o Memorando unilateralmente, sem consultar os partidos ou a Assembleia
da República, fez o mesmo com o Documento de Estratégia Orçamental em Bruxelas e decidiu, na
clandestinidade com a troica, em setembro, um corte de 4000 milhões de euros no Estado social.
O Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho, disse, enquanto líder da oposição, em 15 de março de 2011, o
seguinte: «Isso é de uma deslealdade e de uma falta de respeito pelo País, pelos portugueses, pelas
instituições, suficientemente grave para pôr em causa a confiança que o País tem em quem o governa», por o
Governo ter ocultado as medidas que estava a negociar com Bruxelas. Pois, Sr. Primeiro-Ministro, a sua ação
governativa tem sido isso mesmo, de uma deslealdade e de uma falta de respeito pelo País, pelos
portugueses, pelas instituições, suficientemente grave para pôr em causa a confiança que o País tem em
quem o governa.
Aplausos do PS.
É isso que explica a dificuldade que o Primeiro-Ministro sente em enfrentar o debate de urgência proposto
pelo líder do PS, António José Seguro, sobre as alternativas para a saída da crise. O Primeiro-Ministro revela
insegurança mas, sobretudo, revela medo em enfrentar as propostas do PS e de António José Seguro.
Nalguns sítios está cercado pelas pessoas e aqui, no Parlamento, está cercado pelo falhanço.
O Primeiro-Ministro tem medo e foge ao debate. É tempo de governar, não é tempo de desertar. O PS e o
País tomam a devida nota.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Artur Rêgo, do CDS-PP.
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Podemos discordar quanto aos
remédios, quanto às soluções e quanto às causas para resolver a situação em que o País se encontra, mas do
que não podemos é discordar de factos, até pela natureza dos mesmos — factos são factos. E o facto é que a
economia portuguesa está em crise, está em recessão há muitos anos; o facto é que a taxa de desemprego
tem vindo a subir de há muitos anos a esta parte; o facto é que a economia portuguesa está estagnada, ou
praticamente estagnada, há, pelo menos, uma década.
Protestos do PS.
A verdade é que, olhando para o que é a realidade do País, descobrimos nos diversos setores erros e erros
transversais a todos eles e que afetaram, e afetam, o País.
Todos falamos que é preciso aumentar a produção para criar riqueza e emprego; todos falamos que é
preciso fazer crescer a agricultura; todos falamos que é preciso investir novamente no setor das pescas e
fazê-lo crescer; todos falamos no problema da educação e no problema dos jovens que, terminado o seu ciclo
educativo, não encontram emprego no mercado de trabalho, sendo que a taxa de desemprego dos jovens é
hoje perto de 40%. Esta é a realidade que temos.
Gostaria de, a propósito desta temática, dar o exemplo sintomático do que se passa na região do Algarve e
que uma reflexão sobre essa região pudesse ser considerada quase como uma reflexão-modelo, uma
reflexão-piloto sobre a realidade do País.
Como é possível que o Algarve, com a riqueza e o potencial que tem na agricultura, com a riqueza e o
potencial que tem nas pescas, com a riqueza e o potencial que tem no turismo, seja a região do País, neste
momento, com a maior taxa de desemprego;…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — É graças ao seu Governo!
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — … seja, possivelmente, a região do País que, ao nível dos jovens, tem a
maior taxa de emigração? E falo em emigração não só para fora do País, mas também para outras regiões do