I SÉRIE — NÚMERO 65
14
Podemos ir afinando as nossas políticas de modo a garantir que os resultados possam ser tão mais
próximos quanto possível daquilo que eram as nossas metas ou os nossos desejos, mas não podemos,
evidentemente, garantir que todos os resultados sejam alcançados.
Mas há um resultado que nunca prometerei. Ao contrário, por exemplo, do Sr. Deputado António José
Seguro, que consegue dizer de forma absolutamente séria que resolve o problema orçamental pondo a
economia a crescer,…
O Sr. Mota Andrade (PS): — Isso é mentira!
O Sr. Primeiro-Ministro: — … nós sabemos que não é possível ter políticas de austeridade e de restrição
sem que isso tenha efeitos recessivos. Sabemos disso, Sr. Deputado!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — E vai daí?…
O Sr. Primeiro-Ministro: — Não conheço governo nenhum, seja ele de esquerda ou de direita, mais liberal
ou mais conservador, que quando adota políticas restritivas o faça com o intuito de promover a recessão e,
portanto, a degradação das condições sociais.
Creio que o Sr. Deputado tem a distância suficiente, como político, para reconhecer que não há governo
nenhum que estabeleça como propósito criar uma situação recessiva e de desemprego.
Protestos do PCP.
Não conheço qualquer processo de ajustamento económico que tenha gerado, no curto prazo, crescimento
e emprego, Sr. Deputado.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Justamente!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Deputado, o Partido Socialista acha que sim, acha que a receita é essa e
que se combate a crise aumentando a dívida e, evidentemente, o défice público também.
Protestos do PCP.
Mas, Sr. Deputado, essa receita tem os resultados que são conhecidos. Sabemos o que é que aconteceu
quando vários países europeus, em 2009, resolveram expandir os seus orçamentos. Há uma parte da crise
que hoje estamos a viver que se deve justamente a essa decisão, que não foi devidamente pensada.
Não é que as pessoas, julgo eu, estivessem mal-intencionadas, mas não reconhecer a consequência, isso,
sim, é não aprender com os erros.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Está a falar de si?
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Deputado, aprendemos com os erros próprios e com os erros alheios. Esse
é um sinal de inteligência. Estar a somar dívida e défice a um país que tem défice e dívida não promove
crescimento de coisa nenhuma nem emprego de coisa nenhuma!
Protestos do PCP.
Sabemos que o ajustamento que estamos a realizar tem estas consequências de curto prazo e sabemos
que temos de as ultrapassar, não apenas fixando a expectativa de que haveremos de sair desta crise, mas
cuidando também dos impactos negativos que estas políticas de curto prazo sempre importam no curto prazo.
Mas, Sr. Deputado, não há milagres!