I SÉRIE — NÚMERO 65
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ano, esse é um país que é pobre, que, evidentemente, é mais pobre do que julga — senão, não ficava a dever
10% todos os anos —, é um país mais pobre do que pensa ser e, evidentemente, esse desequilíbrio vai-lhe
causar dor no futuro. O problema é que o futuro chegou e essa ilusão desapareceu.
Sr.ª Deputada, não é um sinal de que estamos a empobrecer o facto de as importações caírem, é uma
inevitabilidade. O País não tem condições para consumir de acordo com padrões que não são os seus. Esse
ajustamento precisava de ser feito e está a ser feito.
Há uma coisa que a Sr.ª Deputada não disse, mas que digo eu e com a qual espero que concorde.
Infelizmente, estes ajustamentos fazem-se sempre nas piores circunstâncias e nas piores alturas: é quando já
não há mais ilusões para vender e quando, portanto, a realidade se impõe por si própria. Se a Sr.ª Deputada
tivesse dito isto, concordaria consigo.
A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — Podia ter dito isso nas eleições!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Julgo que a segunda questão que a Sr.ª Deputada colocou fica respondida se
lhe disser que não anunciarei no Conselho Europeu nada que não pudesse anunciar hoje, neste debate, pela
simples razão de que só comunicarei ao Conselho Europeu algum resultado do sétimo exame regular se,
entretanto, esse resultado tiver sido publicitado em Portugal. Não há, portanto, aqui intervenção privilegiada.
Como disse na minha primeira intervenção, estamos convencidos de que o essencial desse exame regular
está cumprido, mas há ainda alguns documentos que não estão finalizados e, portanto, há uma parte da
negociação que não está concluída. E, nessa medida, não posso nem deveria anunciar matérias que ainda
não estão concluídas, como, de resto, acontece em todos os exames regulares. Será o Sr. Ministro das
Finanças a fazer essa comunicação e, se ela estiver disponível em tempo útil, com certeza que o Conselho
Europeu, tal como o País, terá conhecimento dela — mas não dou isso por garantido.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, não ofenda as pessoas. Quem
perdeu o emprego não teve um empobrecimento ilusório, foi real. Quem tem uma pensão que o obriga a
escolher entre comida e medicamentos não teve um empobrecimento ilusório, foi real. Uma criança que vai
para a escola com frio não é empobrecimento ilusório, é real!
Não vamos ofender as pessoas, Sr. Primeiro-Ministro, vamos falar seriamente!
Aplausos do BE.
Vamos falar seriamente de democracia. A democracia não é a política do facto consumado, e eu repito a
minha pergunta: o que é o que o Governo está a propor à troica sobre os 4000 milhões de euros neste
momento?
João Proença, da UGT, quando esteve no Parlamento, no dia 19 de fevereiro, afirmou — e não foi
desmentido— que o FMI lhe terá garantido que os cortes de 4000 milhões não foram uma exigência da troica,
mas, sim, uma proposta do Governo.
Portanto, repito a pergunta: o que é que o Governo está a propor agora à troica? O Governo continua, ou
não, a propor os cortes de 4000 milhões de euros, mesmo depois de ter ouvido, na concertação social, desde
patrões a sindicatos, todos os setores da atividade em Portugal — a indústria, os serviços e a agricultura —
dizerem que era uma péssima ideia?
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, Sr. Primeiro-Ministro.