I SÉRIE — NÚMERO 74
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Assim, o projeto de lei de Os Verdes é muito pertinente. Há cada vez mais estabelecimentos a abusar,
mais estabelecimentos que abrem nestes dias e é importante pôr um travão nesta realidade.
Queria salientar que os trabalhadores das grandes superfícies sentem muito as dificuldades da articulação
da vida pessoal com a vida familiar, e esta é uma realidade que importa denunciar. Estes trabalhadores têm
direito a descansar nestes dias, têm direito a celebrar e a comemorar estas datas, como têm direito a estar
com as suas famílias.
Parece-me verdadeiramente extraordinária a argumentação do PSD e do CDS-PP.
O PSD e o CDS-PP vêm dizer-nos que os horários de trabalho estão regulamentados no Código do
Trabalho — rica novidade! Escusavam de o dizer, porque já todos o sabem.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Não parece!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Mas o que dizem é que, por mão do PSD e do CDS-PP — também com a
ajuda do Partido Socialista —, houve uma profunda desregulamentação dos horários de trabalho, com as
adaptabilidades, com os bancos de horas, com tudo, tudo, a desregulamentar a vida dos trabalhadores!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Em 1918, Srs. Deputados, a OIT determinou oito horas para trabalhar,
oito horas para descansar e oito horas para o lazer, para estar com a família. Ora, os vossos retrocessos vão a
essa data, porque impõem horários de trabalho bem superiores a este, num retrocesso verdadeiramente
inaceitável.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Mais: dizem que os feriados são regulamentados e que os valores são pagos quando se trabalha nesses
dias. Só que a primeira coisa que fizeram — o PSD e do CDS-PP — foi alterar o Código do Trabalho, para
reduzir o valor pago nos dias de trabalho em feriado. Portanto, é uma profunda hipocrisia.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Queria, ainda, deixar um alerta: o CDS-PP terá, necessariamente, de
rever a sua sigla, já não pode ser o partido da democracia-cristã, uma vez que de cristã pouco tem!
Efetivamente, para o CDS está bem trabalhar no primeiro dia do ano, trabalhar no dia 25 de Abril e no dia 1 de
Maio, como está bem trabalhar no dia de Natal, o que é verdadeiramente inaceitável e não deixa de ser
caricato.
O CDS-PP chegou ao ponto — e o PSD também — de sobrepor os interesses económicos aos supostos
valores que enuncia.
Para terminar, no que diz respeito às autarquias, importa lembrar que essa é uma falta de coragem por
parte do PS, do PSD e do CDS-PP, pois, em vez de assumirem uma posição clara relativamente a esta
matéria e fixarem quando é que podem ou não encerrar estes estabelecimentos, atiram as culpas para as
autarquias, colocando-as numa posição delicada que não podem assumir!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Oiça, oiça!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Mais: na margem sul, que tanto aqui foi evocada, houve iniciativas de
impor o condicionamento da abertura do comércio aos domingos e feriados e as mesmas grandes superfícies
interpuseram ações em tribunal, com base na vossa lei, para permitir a abertura ao comércio.
Portanto, tenham mais cuidado quando falam, e não falem assim.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr. Deputado, Queira fazer o favor de concluir.