I SÉRIE — NÚMERO 75
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Trata-se de uma figura emblemática, não tanto pelo seu papel como Ministro dos Assuntos Parlamentares
— quase não se deu por isso —, mas como rosto da ofensiva em relação ao poder local, contra o serviço
público de radiotelevisão, para além de outros processos que agora não são para aqui chamados.
A questão de fundo que lhe queria colocar, Sr. Primeiro-Ministro, é a seguinte: o que foi relevante naquele
discurso de demissão do Sr. Ministro Relvas, que foi obreiro da sua elevação a líder do PSD, que foi o
principal obreiro na sua construção de líder do Governo, ou seja, uma espécie de criador da criatura?
Risos do PCP.
Nesse sentido, desertado o criador, o que resta à criatura fazer? Ouvimo-lo aqui afirmar a manutenção da
solidariedade. Não acha que, levando essa solidariedade até ao fim, devia seguir o mesmo caminho, levando
o Governo consigo?
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Tem agora a palavra o Sr. Deputado João Semedo.
O Sr. João Semedo (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, ontem o Governo perdeu um Ministro e
perdeu um Ministro que perdeu uma licenciatura.
Ficámos ontem a conhecer duas coisas. A primeira é que o relatório sobre a licenciatura de Miguel Relvas
demorou mais tempo no Ministério da Educação do que o tempo que Miguel Relvas passou na faculdade.
Risos do BE.
A segunda coisa que ficámos a saber é que Miguel Relvas se revelou um aluno de exceção, não pelas
suas qualidades excecionais, mas pelas condições excecionais de que beneficiou para se licenciar.
Diz o Ministro Nuno Crato, certamente uma autoridade nesta matéria, que se tratou de um abuso. E disse
também o Ministro Nuno Crato, ontem, que comunicou ao Sr. Primeiro-Ministro esta situação nos últimos dias.
A pergunta que lhe quero fazer é a seguinte: não seria obrigação do Primeiro-Ministro, perante um abuso
praticado por um Ministro do seu Governo, demitir esse mesmo Ministro?
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado João Semedo, o Sr. Ministro da Educação
explicou ontem que despachou dois relatórios da Inspeção do Ministério da Educação. Os inquéritos que
foram desenvolvidos não insidiam sobre o Ministro Miguel Relvas, insidiam sobre a Universidade Lusófona e
sobre os processos de creditação.
Sr. Deputado João Semedo, não conheço o conteúdo dos relatórios com o teor das propostas da Inspeção,
mas sei o suficiente, do que o Sr. Ministro me transmitiu, para aceitar a sua decisão de remeter para o
Ministério Público o processo contra a instituição. É isso que o Ministério Público irá agora, com certeza,
avaliar.
Trata-se, portanto, Sr. Deputado João Semedo, não de nenhum comportamento do Sr. Ministro Miguel
Relvas, mas dos procedimentos que a Universidade terá ou não cumprido. E sobre essa matéria, Sr.
Deputado, não tenciono dar nenhum esclarecimento, porque não posso esclarecer aquilo que não conheço.
O que aqui posso dizer, como o Sr. Ministro da Educação já explicou publicamente, é que pelo facto de o
nome de um Ministro que era seu colega no Governo ter estado indiretamente associado ao processo da
Universidade, a Inspeção-Geral do Ministério da Educação atuou da mesma maneira que teria atuado se
qualquer outro estivesse envolvido.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Que embrulhada!