I SÉRIE — NÚMERO 86
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O Sr. Bruno Dias (PCP): — … tal como não vamos dizer bem dos negócios que foram feitos, no Governo
anterior (PS/Sócrates), com o Edifício Báltico, de 4 milhões de euros por ano em pagamentos à Mota Engil
pelo aluguer daquele edifício.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Ora bem!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Disso não nos ouvirão, seguramente, dizer bem!
Os Srs. Deputados vêm aqui falar da utilização do correio eletrónico, mas quero convidá-los a irem aos
círculos eleitorais onde foram eleitos dizer às pessoas idosas, que querem receber as suas reformas, que,
para as receberem, passam a ter estações de correios encerradas e deslocações, às vezes, insuportáveis
para quem tem dificuldades de deslocação e problemas de saúde.
Vão lá dizer a esses idosos que, para receberem as suas reformas, passam a ter um gabinete de
contabilidade numa tasca, ou numa mercearia, onde o fundo de maneio não permite esse pagamento. Vão lá
dizer a esses idosos que, agora, o correio eletrónico é que está a dar, que o e-mail é do melhor que há e que o
comércio eletrónico é um novo tempo que temos de acompanhar.
Vão dizer isso aos idosos, nos vossos distritos, Srs. Deputados, mas não venham aqui a pensar que
enganam quem quer que seja, porque essa teoria, essa atitude ideológica a favor dos interesses do poder
económico não colhe neste debate que os senhores queriam evitar. Aliás, a capacidade dos CTT no mercado
das encomendas, que o Sr. Deputado Hélder Amaral ainda agora elogiou, vem provar que, no que diz respeito
à capacidade de resposta, à qualidade e à eficiência, o resultado da sua intervenção é o de que vale a pena
manter público o serviço público.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Ora bem!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Portanto, os privados não vêm ensinar nada, vêm aprender com os correios,
vêm aprender com a capacidade dos CTT, dos seus trabalhadores, dos seus quadros, da sua estrutura. Não
vêm trazer nada de novo, vêm retirar, como se verificou no processo de liberalização.
Para terminar, Sr.ª Presidente, ainda a propósito da destruição de emprego, o Sr. Secretário de Estado
recorreu a um truque de mistificação, procurando fazer crer que só há destruição de emprego quando alguém
é despedido. O que lembrámos e sublinhámos foi que só no último ano, sem estes encerramentos anunciados,
quase 700 postos de trabalho foram eliminados: há 670 trabalhadores a menos na empresa!
A Sr.ª Presidente: — Queira fazer o favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Termino já, Sr.ª Presidente.
Não estamos a falar só de despedimentos; aliás, mesmo no setor portuário, há trabalhadores que foram
para o desemprego logo a seguir à vossa lei ser aprovada.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Ora bem!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É preciso dizer a verdade: a eliminação de postos de trabalho não é apenas
um processo de despedimento, é um serviço que faz falta, que fica vazio, porque as pessoas vão para a
reforma, vão para a aposentação, vão-se embora e não são substituídas. E é assim que depois, no interior do
País, as populações ficam ao abandono. A mercearia já lá estava, e lá estará, sabe-se lá até quando! Mas os
correios já abandonaram aquela freguesia, Sr. Secretário de Estado.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Aiveca, do Bloco de
Esquerda.