I SÉRIE — NÚMERO 91
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O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — A questão da adoção (e, por consequência, a do recurso à procriação
medicamente assistida) por casais de pessoas do mesmo sexo foi a única em que, até agora, não assumimos
um voto a favor, deixando contudo sempre claro que o nosso voto contra, no passado, não correspondia a
uma rejeição definitiva desta aspiração, mas sim à convicção de que era ainda insuficiente o amadurecimento
na sociedade desta questão.
Dissemos então, há pouco mais de um ano: «O nosso voto nesta matéria (…) não significa uma posição de
rejeição (e, naturalmente, também não de aprovação) da possibilidade de adoção por casais de pessoas do
mesmo sexo, mas expressa apenas a necessidade de prosseguir o debate e o esclarecimento sobre a
questão, debate em que naturalmente não enjeitamos integrar-nos».
Pensamos que o debate sobre esta questão, no pouco tempo desde o último agendamento desta matéria,
continuou a aprofundar-se e que esse percurso ainda não terminou. Trata-se de uma questão de grande
sensibilidade social, seja qual for o ponto de vista pelo qual a observemos. Este aprofundamento, que
julgamos ainda ser necessário, deve continuar a fazer o seu caminho e, pela nossa parte, continuaremos a
contribuir para que assim seja.
Para o PCP, esta continua a ser uma questão cuja análise não está concluída e sobre a qual não temos
uma posição fechada.
Queremos sinalizar essa evolução no debate e no aprofundamento e por isso, ao contrário de debates
anteriores, não inviabilizaremos as iniciativas que se propõem tornar legal a adoção por casais de pessoas do
mesmo sexo.
Esta é a posição que corresponde hoje ao estado da nossa reflexão, uma posição que procuramos seja
construtiva, como tem sido sempre, e que hoje, na votação, voltará a ser.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla
Rodrigues.
A Sr.ª Carla Rodrigues (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Temos hoje em discussão
quatro projetos de lei, subscritos pelo Bloco de Esquerda, pelo Partido Ecologista «Os Verdes» e por um grupo
de Deputados do PS, que pretendem, respetivamente, a eliminação da impossibilidade legal de adoção por
casais do mesmo sexo, a alteração do Código Civil, tendo em conta a procriação medicamente assistida, a
adoção e o apadrinhamento civil por casais do mesmo sexo, o alargamento das famílias com capacidade de
adoção e a possibilidade de coadoção pelo cônjuge ou unido de facto do mesmo sexo.
À exceção do projeto do grupo de Deputados do PS, que é uma novidade, não há alterações significativas
em relação aos projetos apresentados na passada sessão legislativa, que foram votados e rejeitados.
De salientar que, nessa discussão da anterior sessão legislativa, foi transversal a todas as bancadas que
rejeitaram os projetos o argumento de que o assunto não estava devidamente esclarecido, que merecia um
melhor debate. O PCP invocou inclusive, pela voz do Sr. Deputado Bernardino Soares, uma posição de
«prudência construtiva» para justificar o seu voto contra e a Sr.ª. Deputada Heloísa Apolónia referiu que
«vários grupos parlamentares reclamaram o debate, o que é de salientar, mas é importante não fechar, a partir
daqui, o assunto numa caixinha e esperar por um próximo debate».
Em nosso entender, foi precisamente isso que aconteceu. Fechou-se o assunto numa «caixinha» e
ninguém, nem mesmo os partidos proponentes, avançaram para um debate sério sobre a matéria.
Protestos do PCP.
Hoje voltamos à mesma discussão, sem que o assunto fosse verdadeiramente debatido e esclarecido,
nesta Casa e na sociedade em geral. Mas o PSD não foge a nenhum debate e, como tal, também não fugirá a
este.