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I SÉRIE — NÚMERO 103

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Sr. Deputado, quem prejudica os alunos, quem prejudica a escola pública não são os professores. Os

professores são uma dimensão essencial da escola pública, bem como os alunos.

O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Tem toda a razão!

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — O Governo mostrou-se completamente indisponível para negociar a adaptação

das normas previstas no Orçamento do Estado e no pacto com a troica à educação e, naturalmente, os

professores têm de continuar a sua luta.

Da parte do PCP, estaremos sempre solidários com a luta dos professores, em Portugal e no mundo.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Srs. Deputados, concluímos o período das declarações políticas

propriamente ditas.

Seguem-se duas intervenções feitas ao abrigo do n.º 2 do artigo 76.º do Regimento, que prevê que os

Deputados, a título individual, possam «produzir uma intervenção por cada sessão legislativa, pelo período

máximo de 10 minutos, não contabilizável nos tempos do seu grupo parlamentar».

É ao abrigo desta disposição regimental que dou a palavra à Sr.ª Deputada Gabriela Canavilhas.

A Sr.ª Gabriela Canavilhas (PS): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Esta semana o Governo celebra o

seu 2.º aniversário. O clima não é festivo, é antes de profunda consternação, entre greves e manifestações,

numa onda de desilusão coletiva e de desespero crescente, que se faz sentir transversalmente em toda a

sociedade portuguesa e que se expressa de forma cada vez mais afirmativa, em todas as oportunidades que

se colocam aos portugueses.

Assistimos nestes dois anos à difusão quase hegemónica de um discurso assente na valorização da culpa

e da expiação como instrumentos de legitimação de uma política de destruição do património social construído

em Portugal pela social-democracia — em particular pelo Partido Socialista — que se ajusta, por um lado, a

uma retórica paroquial, sem grandeza nem nobreza, e, por outro lado, a uma estratégia destinada à

implementação de um conceito novo de sociedade, onde o pressuposto matricial da democracia — a

igualdade de oportunidades, deixará de ser, como até agora, a garantia essencial da nossa organização

social.

Aplausos do PS.

Estamos, portanto, no meio de uma crise de graves proporções e de grande significado político. Não me

refiro só à crise económica global que começou em 2008, refiro-me a uma crise que, a manter-se, será

provavelmente, a longo termo, bastante mais destrutiva para o futuro das sociedades democráticas: a crise da

educação.

Tendo a crise económica como pano de fundo, Passos Coelho e Nuno Crato — que nesta matéria,

infelizmente, não estão sozinhos internacionalmente — colocaram o sistema público de educação na linha da

frente daquilo que é uma redução sem precedentes dos instrumentos públicos ao serviço das populações, e

que englobam, a par da educação, a cultura, a informação isenta e livre, a irradicação das discriminações no

que respeita ao bem-estar, às convicções e à dignidade dos cidadãos, e o respeito pelos Direitos Humanos.

Todos têm contribuído, no seu conjunto, para manter vivas as democracias.

Assistimos, no entanto, a alterações progressivas e consistentes dos princípios programáticos

estabelecidos constitucionalmente para a educação, nomeadamente quanto à igualdade de oportunidades

educativas, quer em Portugal quer nas comunidades portuguesas (no que respeita ao ensino do Português), e

assistimos, impotentes, ao empobrecimento sistemático do nosso sistema de ensino: o desaparecimento da

Formação Cívica, o desinvestimento na Educação Visual, o desinvestimento nas Artes e na Música, a

desvalorização da Educação Física, o fim da Área de Projeto, a redução da carga horária, até à irrelevância,

de disciplinas de opção, incluindo a Química e a Física.