I SÉRIE — NÚMERO 103
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Aplausos do PS.
… e até acima da média, em alguns casos, tendo sido um enorme esforço de todos os Governos depois do
25 de Abril — mesmo do PSD, quando era social-democrata —,…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Já nem do PS!
A Sr.ª Gabriela Canavilhas (PS): — … especialmente se tivermos em conta que, no ponto de partida, em
abril de 1974, (quando havia os saudosos e agora recuperados exames da 4.ª classe), os índices de
analfabetismo e iliteracia estavam ao nível da Albânia.
Este autismo, face às evidências e às recomendações dos órgãos consultivos, como o Conselho Nacional
de Educação (CNE) ou instituições internacionais como a OCDE, leva o Ministro da Educação a ignorar as
excelentes classificações de Portugal, nomeadamente no PIRLS (Progress in International Reading Literacy
Study) e no TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study), para não falar do PISA
(Programme for International Student Assessment), indicadores internacionais que aferem a qualidade do
sistema educativo em 2011, e, apesar disso, a alterar o Programa e Metas de Matemática, que estavam em
vigor há apenas um ano, contra a veemente posição da Associação de Professores de Matemática (APM).
Esta semana soubemos — surpresa! — que o extinto Programa de Matemática, afinal, foi o responsável pelos
primeiros resultados positivos, de sempre, em Matemática, nos exames do 4.º ano.
Aplausos do PS.
A demografia está, de facto, a tornar-se um problema muito sério para Portugal, com a diminuição anual
dos nascimentos, mas este problema só chegará ao secundário na próxima década. Até lá, serve de
argumento para justificar o maior despedimento em massa, que se viu até hoje em Portugal.
Dispensam-se milhares de professores do sistema, graças a um elaborado processo que envolve o
aumento do número de alunos por turma, alterações curriculares, a interrupção de processos de formação de
adultos, a extinção de apoios educativos e ainda reduções de carga letiva para ações complementares ao
processo educativo.
Tudo isto, sem que haja avaliação de desempenho dos professores: saem do sistema os professores
excelentes, os bons e os menos bons, saem aos milhares, sem que o Ministério possua, sequer, um
mecanismo eficaz de avaliação da qualidade dos recursos humanos que está a empurrar, literalmente, pela
borda fora.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: O sistema de educação de Passos Coelho e Nuno Crato integra-se num
modelo global de desenvolvimento para Portugal, assente num sistema produtivo de baixas e médias
qualificações académicas, com baixos salários, que compete com países com economias ainda mais frágeis
do que a nossa ou com políticas sociais inferiores às nossas. Assenta numa escola pobre, reduzida, na sua
essência, às competências mais básicas, destinada a uma população sem ambição, sem cultura, sem
desígnio, a não ser emigrar ou reforçar as estatísticas de pobreza e desemprego que nos envergonham a
cada dia.
Efetivamente, 40% dos alunos que fazem esta semana exame de 12.º ano afirmam que não vão para o
ensino superior, não acreditam no seu ensino superior, porque não acreditam nas oportunidades de emprego.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Não acreditam porque não têm hipóteses!
A Sr.ª Gabriela Canavilhas (PS): — Por isso é que a crise na educação é a pior das crises, é aquela que
compromete o futuro das próximas gerações, é aquela que, a longo termo, afeta diretamente o coração da
democracia e os seus fundamentos, o primeiro dos quais é a igualdade de oportunidades para todos no
caminho do progresso individual e coletivo.
Por isso é que a luta pela escola pública de qualidade para todos e em nome do progresso deve ser
travada por todos quantos consideram a educação, a cultura, a ciência, o conhecimento e o saber os melhores
instrumentos para enfrentarmos as crises deste mundo em que vivemos.