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19 DE JUNHO DE 2013

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Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Também ao abrigo do n.º 2 artigo 76.º do Regimento, tem a palavra o

Sr. Deputado Pedro Delgado Alves.

O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr. Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Há cerca de 200 anos, a

Europa vibrava com a luta dos gregos pela independência e pela libertação. O quadro em que se discutia a

aspiração a um renascer das liberdades antigas num Estado moderno é, hoje, oportunidade para voltarmos a

revisitar o tema das liberdades fundamentais.

Hoje, a Europa volta a olhar com ansiedade e a suspirar novamente pela liberdade dos gregos, ciente de

que vê nas suas amarras de austeridade os seus próprios grilhões, atuais ou futuros.

Há quase 200 anos, europeus de vários pontos do Continente colocavam a sua pena e a sua arte ao

serviço da causa dos gregos, juntando a sua sorte à dos libertadores. As palavras de Lord Byron, que também

nos visitou pela mesma altura, ecoam novamente e têm novamente atualidade: «As montanhas olham para

Maratona/E Maratona olha para o mar/E detendo-me por ali durante algum tempo/Sonhei que a Grécia ainda

viria a ser livre».

É certo que hoje o desafio é diferente, é certo que as conquistas que se procuram defender são outras e é

certo que os instrumentos para o alcançar já não são os mesmos e já não têm de ser violentos. Ainda assim, a

importância do momento não é menos relevante.

Senão olhemos para o sucedido, na semana passada, no dia 11 de junho: sem debate público prévio, sem

concertação no seio da coligação governamental, sem qualquer consideração pela vida de 2700 trabalhadores

e dos seus postos de trabalho do serviço público de rádio e televisão, o Governo grego anunciou, a meio da

tarde do dia 11, uma decisão administrativa (entretanto, declarada ilegal), ditando o fim da estação televisiva e

de rádio pública e o fim imediato das transmissões. Pela meia-noite, o sinal seria cortado e o apagão do

serviço público de comunicação social, na Grécia, tinha ocorrido e não havia transmissão.

Sujeitos, há três anos, à mais dura das austeridades, austeridade já publicamente reconhecida, aliás, pelo

FMI como assente em premissas erradas e como tendo um efeito devastador na economia da Grécia, hoje os

gregos enfrentam o flagelo dos seus serviços públicos, sentem diariamente os efeitos dramáticos do

desemprego, da fome e da quebra dos seus índices de desenvolvimento, e são ainda flagelados pelo

crescimento quotidiano e perigosos de extremismos xenófobos, ressuscitando o que de pior a história europeia

foi capaz de legar ao mundo no século XX.

E nesse contexto, uma imprensa livre, um serviço público de qualidade, garantido pela Constituição, pela

lei, é um remédio fundamental e indispensável a uma sociedade democrática e livre.

Aplausos do PS.

Face a este quadro terrível, face a todo o sofrimento a que o povo grego tem sido submetido, algumas

vozes (poucas, é certo, mas algumas) se questionam sobre a razão da indignação e do repúdio universal

desta medida. Ora, a razão da indignação é muito clara: um ataque desta natureza representa um ataque claro

ao coração da democracia, ao pluralismo e às liberdades essenciais e à sua realização plena.

Aplausos do PS.

Não é à toa que a União Europeia de Radiodifusão fala em censura estatal: o corte de um sinal televisivo

representa simbolicamente o que de mais destrutivo podemos conceber na relação do poder político com uma

sociedade livre, democrática e aberta.

Não é à toa que se multiplicaram reações de solidariedade de todos os quadrantes, geográficos, políticos e

institucionais, na Grécia e fora dela, e que, através de disponibilização de sinal da União Europeia de

Radiodifusão os trabalhadores continuaram a poder transmitir o que iam produzindo, mantendo acesa a luz e

mantendo o espírito de esperança na restauração do serviço público de televisão.