I SÉRIE — NÚMERO 3
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Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Não podem os partidos que suportam este Governo recomendar que o
PNPG — e cito — «passe a ser um vetor estruturante do desenvolvimento local e da melhoria da qualidade de
vida das populações residentes, quando praticam uma política que tem expulsado para outras partes as
gentes que ali habitam»
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Não podem os partidos da maioria recomendar um maior dinamismo…
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Mas não podem porquê?
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — … e fomento das atividades turísticas quando o plano de ordenamento
existente impõe restrições e condicionamentos a essas atividades.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Incoerência e demagogia!
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: O que as gentes do PNPG necessitam é que
seja avaliado o impacto do Plano de Ordenamento do PNPG de molde a serem corrigidos e retirados todos os
aspetos que colidam e impeçam a vida das populações que ali habitam.
O que as gentes do PNPG necessitam é que seja respeitada a dominialidade das terras, quer seja pública,
comunitária ou privada.
O que as gentes e o PNPG necessitam é de outra política e de um outro Governo!
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa
Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Os Verdes apresentam,
também, um projeto de resolução que tem como título «Pela harmonia do Parque Nacional da Peneda-Gerês
com as suas populações».
Não é por acaso que nós apresentamos o título por esta ordem; poderíamos, eventualmente, ter optado por
dizer «Pela harmonia das populações com o Parque Nacional da Peneda-Gerês». Não o fizemos. E porquê?
Porque entendemos que aqui a pro-atividade relativamente a essa harmonia tem de partir da gestão do
Parque para as populações, e é isso que, no fundo, procuramos retratar neste projeto de resolução.
Sr.as
e Srs. Deputados: Quando discutimos, por exemplo, a questão dos fogos florestais, temos concluído
muitas vezes — e bem — que o despovoamento do território gera maior dimensão destes flagelos. Ou seja, às
vezes podemos ter uma tendência primária de pensar que as pessoas atrapalham a valorização e a
preservação dos valores naturais e, de facto, devemos ter tendência para perceber que a atividade humana
sustentável pode ser, também, um fator de valorização e de preservação do património natural.
Portanto, o que verificamos é que, muitas vezes, a classificação das áreas protegidas torna-se efetiva e
concretamente um empecilho para as populações — e não tem de ser assim. Frequentemente, as populações
veem-se confrontadas com custos muito mais acrescidos do que aquelas pessoas que estão para fora do
limite da área protegida, mesmo que numa proximidade real com a sua residência, ou às vezes, nas áreas
protegidas, não compreendem como é que lhes é proibida alguma microatividade com sustentabilidade e é
permitido, simultaneamente, a grandes grupos económicos o exercício de determinadas atividades que são
absolutamente delapidadoras para esse património natural.
Portanto, na gestão das áreas protegidas, muitas vezes, temo-nos confrontado com um conjunto de
contradições que levam a que as pessoas não tenham a perceção real do que pode ser verdadeiramente
valioso para si também, como residentes numa determinada área protegida, levando inclusivamente os
residentes a desejar que não estivessem numa área protegida, quando os residentes se orgulham do espaço
onde estão e querem contribuir para a valorização desse espaço.