I SÉRIE — NÚMERO 4
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Levar por diante esta medida seria uma verdadeira traição ao interesse nacional, submetendo-o de uma
forma inaceitável e escandalosa aos interesses privados do poder económico, trocando uma estratégia de
desenvolvimento nacional, do serviço público, da coesão territorial, pelas agendas e estratégias desses grupos
económicos e pela sua opção pelo máximo lucro.
Não estamos aqui a alertar para o que poderia eventualmente acontecer às populações e aos
trabalhadores em resultado dessas opções, o que estamos a fazer é a denúncia do que já está a acontecer há
bastante tempo, fruto dessa mesma opção e dessa estratégia, que os Governos e administrações dos CTT
têm vindo a seguir, na «preparação» da empresa para essa privatização.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É o que tem vindo a acontecer, nomeadamente com o encerramento de
estações de correio um pouco por todo o País (cerca de 120, em 2012, com a previsão de mais cerca de 200
até ao final deste ano).
A Assembleia da República não pode ficar cega e surda ao protesto que acontece por todo o País, com a
mobilização e a participação de utentes, trabalhadores e autarcas, e com a expressão bem viva e bem clara
do povo português na penalização eleitoral, de norte a sul do País, e na derrota que infligiu ao PSD e ao CDS,
no passado domingo.
Tal como o PCP tem vindo a afirmar, e aqui reafirmamos, esta luta contra a privatização dos CTT e as lutas
contra os encerramentos das estações e serviços de correios e pelos direitos e condições de trabalho são uma
e a mesma luta.
Por isso, registamos e saudamos as jornadas de luta que os trabalhadores dos CTT vêm desenvolvendo,
agora mesmo, por todo o País, percorrendo todos os distritos, de norte a sul, em defesa dos Correios como
serviço público e como empresa pública, em defesa do emprego com direitos, mas, desde logo, em defesa de
um serviço de qualidade às populações e às empresas, em defesa da coesão territorial e da economia local.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É sempre assim que começam estas operações de desmantelamento, roubo e
venda às peças, de empresas e serviços essenciais que são de todos nós. E importa aqui, de resto, sublinhar
que foi de um processo como este que nasceu o caminho que nos trouxe às notícias de hoje sobre a fusão da
PT com a Oi, com a passagem do seu comando estratégico e dos centros de decisão para fora do País.
Depois, logo se verá, que seja o que o grande capital quiser!
O Governo e a maioria parlamentar hão de trazer, como sempre, o argumento da suposta vantagem
financeira para o Estado deste tipo de operações. É mentira! Com a privatização dos Correios, com a
liberalização do serviço postal e com o novo regime de financiamento do «serviço universal» de correios, que
agora se prepara, o Estado abdica de uma empresa estratégica (e, ainda por cima, bastante lucrativa) e não
se dispensará dos encargos relacionados com a prestação do serviço público, bem pelo contrário.
O que está em preparação e resultaria destas opções é uma autêntica «PPP dos Correios», em que os
dinheiros públicos serviriam, no limite, para pagar um serviço postal cada vez mais pobre para as populações
e um lucro privado cada vez mais rico para os interesses dos grupos económicos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Com este debate e este agendamento, o PCP coloca à Assembleia da
República a obrigação e o dever de corresponder e cumprir as suas responsabilidades enquanto órgão de
soberania. Hoje e aqui, podemos travar este crime contra o interesse nacional.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra, também para uma intervenção, o Sr. Secretário de
Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações.