I SÉRIE — NÚMERO 4
40
milhões de lucros, por, calcula-se, um valor de 600 milhões, numa única vez? Vai trocar por este valor uma
empresa que, só em oito anos, deu 440 milhões de lucros! Isto, sem falar de outros gastos que podem ser
tidos como garantia de serviços mínimos.
Este Governo diz-se preocupado com o desemprego. Quero perguntar-lhe como é que explica a
privatização de uma empresa que, ao longo deste processo, já despediu 4500 trabalhadores e não sabemos
quantos mais vai despedir e em que áreas do País, mas potencialmente no interior!?
Este Governo diz-se preocupado com a justiça social, diz-se um Governo com sensibilidade social. Diga-
me, então, como é que justifica a extinção, em muitas vilas e aldeias deste País, do único ponto de contacto
que centenas de idosos têm com os serviços públicos? É o sítio onde levantam a sua reforma e fazem os seus
pagamentos, o único contacto que têm com o Estado! Como é que o justifica?!
Este Governo diz-se preocupado com a coesão territorial. O que gostaria de perguntar é como é que os
Srs. Deputados das bancadas parlamentares que suportam este Governo, os Srs. Deputados que
representam concelhos e distritos do interior, vão explicar às suas populações, aos seus estudantes, aos seus
empresários que vão perder postos de correio, que não têm garantia — e não são fantasmas! — de que,
amanhã, não pagarão mais pelos mesmos serviços e com menor qualidade apenas porque são de concelhos
e de distritos do interior.
Por fim, Sr. Secretário de Estado, este Governo diz-se muito preocupado com a credibilidade e a
legitimidade, muito preocupado com a responsabilidade.
Vou perguntar-lhe como é que explica a entrega à JP Morgan da assessoria financeira da privatização dos
CTT. JP Morgan, a mesma empresa responsável pela maioria dos contratos swap com várias empresas
públicas e que custaram, até agora, ao erário público 1500 milhões, o dobro daquilo que prevê obter com a
privatização dos CTT.
Não há explicação! Não há razão! Não há argumento! É fanatismo ideológico! E fanatismo ideológico, Sr.
Secretário de Estado, não tem explicação, mas vê-se. E vê-se muito claramente quando sabemos que um dos
fatores cruciais para a realização desta operação de privatização dos CTT é a obtenção de uma licença
bancária.
E aí, de repente, «faz-se luz», compreendemos o objetivo da operação. O que está em causa, Sr.as
e Srs.
Deputados, Sr. Secretário de Estado, não é só a privatização dos CTT; o que está em causa é a entrega ao
desbarato, de mão-beijada, a uma entidade privada um banco nacional, um banco com uma implementação
local e nacional como nenhum outro, um banco com um património como nenhum outro!
Por isso, tenho de lhe dizer que não há nenhuma explicação para a privatização dos CTT.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Queira concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — E vou concluir, Sr.ª Presidente.
Em Portugal, e depois da crise financeira, não precisamos de mais bancos, precisamos, sim, de mais
serviços públicos: mais saúde pública, mais educação pública, mais correios universais e públicos.
É por isso mesmo que o Bloco de Esquerda irá propor a esta Câmara a cessação de vigência deste
decreto que prevê a privatização dos CTT e garanto-lhe que temos todas as razões e explicações para o fazer.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr. Deputado Rui Paulo Figueiredo, tem a palavra para uma
intervenção.
O Sr. Rui Paulo Figueiredo (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.ª e Sr. Secretários de Estado, Caras e Caros
Colegas: Dizia, há pouco, o Sr. Secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações que já
repetimos este debate várias vezes e que os argumentos eram, normalmente, os mesmos.
De facto, já debatemos este tema várias vezes e o Sr. Secretário de Estado e o Governo continuam a
prosseguir o mesmo caminho sem ouvir ninguém: sem ouvir os partidos políticos aqui representados, sem
ouvir os parceiros sociais, sem ouvir os autarcas, sem ouvir as populações, o que também é algo que