4 DE OUTUBRO DE 2013
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A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Paulo Batista Santos, perplexidade, não
existe outra palavra.
O Sr. Deputado vem aqui dizer que nenhum dos dados que o próprio setor apresenta é real. O Sr.
Deputado vem aqui dizer que, afinal, o aumento do IVA até causou um aumento líquido das empresas no setor
e, portanto, o aumento do IVA até foi bom para o setor, mas, em cima disto, diz «Bom, há problemas, mas a
culpa é da crise», como se a crise fosse uma condição divina que se abateu sobre o País e ninguém tivesse
responsabilidade pela crise que vivemos.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Está ali! É o PS!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Vou explicar-lhe uma coisa, Sr. Deputado: a crise tem responsáveis, a
crise não acontece por acaso, a crise é o resultado das medidas de austeridade. E isto não é o Bloco de
Esquerda que o diz, do alto do seu radicalismo, são os dados que o dizem, Sr. Deputado.
O que os dados dizem é que, desde que os senhores entraram no Governo, há mais meio milhão de
desempregados; o que os dados dizem é que, desde que os senhores entraram no Governo, o PIB desceu
7500 milhões. Isto é destruição líquida de riqueza, independentemente do aumento líquido de empresas que
queira inventar, para conseguir disfarçar o problema que vivemos.
Portanto, a única coisa que conseguimos retirar da sua intervenção foi que o Governo suportado pelas
bancadas do PSD e do CDS está disposto a sacrificar a economia, em nome de mais algumas receitas fiscais
para pagar a dívida.
Esse é sempre o único objetivo: sacrificar a economia para pagar a dívida. Não importa o que se sacrifica!
Temos aqui um problema e uma grande contradição: é que se os senhores vêm aqui dizer que tudo o que
há de receita, tudo o que há de verba é para pagar a dívida não podem ao mesmo tempo vir dizer que o
próximo Orçamento do Estado abrirá um novo ciclo, que será um Orçamento do Estado de crescimento
económico! Ou dizem uma coisa ou outra, ou as receitas servem para pagar a dívida ou as receitas servem
para financiar o novo ciclo económico.
E a escolha é muito óbvia e muito clara: os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE)
apontam para uma dívida pública de 128% do PIB, muito acima de qualquer expectativa ou previsão.
Juntamente com esta dívida pública, vêm, no próximo ano, pagamentos em serviço de dívida superiores a
20 000 milhões de euros. Para quem não sabe, posso dizer que 20 000 milhões de euros é o equivalente ao
Orçamento da saúde, ao Orçamento da educação e a mais de metade do Orçamento da segurança social!
Estamos a falar da quase totalidade do Orçamento das funções sociais do Estado! É isto que vamos pagar em
serviço de dívida no próximo ano.
Protestos do PSD
Gostava, pois, de perguntar ao Sr. Deputado o que é que podemos chamar a uma ideia que prefere
sacrificar toda uma economia e todas as funções do Estado em nome do pagamento cego de uma dívida que
todos sabem que não é pagável.
O que é que se chama a isto? O Sr. Deputado sabe. O que se chama a isto é masoquismo, Srs.
Deputados! Masoquismo é sacrificar uma economia, o seu povo, os seus serviços públicos em nome do
pagamento de uma dívida que todas as pessoas sabem que não tem qualquer hipótese de ser pagável!
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — O que gostava de perguntar ao Sr. Deputado é se está disposto, não só
no com o aumento do IVA, mas com as medidas do próximo Orçamento do Estado, a mais uma vez sacrificar
qualquer hipótese de crescimento da economia para pagar esta dívida que todos sabem não ter pagamento
possível.