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I SÉRIE — NÚMERO 10

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Para além do rigor na consolidação orçamental, é igualmente importante que este Orçamento possa dar

força aos sinais positivos que a economia real tem vindo a dar, robustecendo, com isso, o combate ao

desemprego no País.

Mas não nos enganemos: este Orçamento do Estado terá um papel fulcral para o nosso futuro coletivo

enquanto nação, será um dos atores principais de um filme que todos querem ver acabar, será um dos atores

principais de um filme que queremos que seja o encerramento bem-sucedido do Programa de Ajustamento

Económico e Financeiro para que a saída da troica de Portugal seja uma realidade e para que a recuperação

da nossa soberania financeira seja, também ela, um facto e uma realidade no próximo ano.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, a Mesa regista as inscrições dos Srs. Deputados Miguel Tiago, do

PCP, Heloísa Apolónia, de Os Verdes, João Galamba, do PS, e Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda

para pedir esclarecimentos.

Pergunto ao Sr. Deputado Luís Menezes como pretende responder.

O Sr. Luís Menezes (PSD): — Responderei em conjuntos de dois, Sr.ª Presidente.

A Sr.ª Presidente: — Muito bem, Sr. Deputado Luís Menezes.

Tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado, a primeira pergunta que se impõe é esta: este

é um Orçamento duro para quem?

Aproveito para lhe relembrar que a distribuição de rendimentos em Portugal, neste momento, é a seguinte:

52% são rendimentos de capital, rendas, lucros e juros e apenas 48%, incluindo a segurança social, são

rendimentos do trabalho.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — O Sr. Deputado sabe quem paga a receita fiscal prevista por este Orçamento

do Estado? 75% é pago por aqueles que detêm apenas 40% da riqueza nacional e 25% por aqueles que

detêm mais de 50% da riqueza produzida em Portugal. Isso é uma marca inconfundível da opção de classe

que este Governo tomou, juntamente com as instituições estrangeiras a que chama «parceiros internacionais».

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Deputado, 2300 milhões de euros é uma parte daquilo a que o Governo

chama «poupança», obtida quase que exclusivamente através dos despedimentos na função pública, do

agravamento do roubo sobre os salários — agora atingindo os salários acima de 600 € —, dos cortes das

funções sociais e culturais do Estado, onde se inclui a educação, a saúde, mas também do roubo das

pensões, onde se incluem, ao contrário do que foi dito, pensões de sobrevivência acima dos 419 €. E, Sr.

Deputado, este valor contrasta com os miseráveis 150 milhões de euros que pretendem angariar através do

setor energético e do setor da banca.

A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!

O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Portanto, Sr. Deputado, julgo que fica muito claro para quem são os

sacrifícios de que fala e quem enfrentará as reais dificuldades.

Saberá o Sr. Deputado que, para encontrar uma distribuição de rendimentos tão difícil para os

trabalhadores como esta, é preciso recuar a 1995 e que, para encontrar uma situação como aquela que o País

está a atravessar do ponto de vista económico, não há memória?!