17 DE OUTUBRO DE 2013
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Srs. Deputados, vamos, então, prosseguir os nossos trabalhos com um período destinado a declarações
políticas, que serão proferidas pela seguinte ordem: BE, O Verdes, PSD, PS, CDS-PP e PCP.
Pelo Bloco de Esquerda, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
Deputadas, Srs. Deputados: Faz agora três meses
que o líder do CDS assumiu a pasta da coordenação económica, voltando atrás na sua demissão. Anunciou
que ficava no Governo para dinamizar um novo ciclo. A aposta no investimento e no crescimento, em rutura
com o Ministro Gaspar, foi a razão invocada pelo líder do CDS para revogar o irrevogável.
Não há nada de novo no novo ciclo. O Orçamento ontem apresentado é a negação de todas as razões
invocadas por Paulo Portas para se manter no Governo. O espírito de Vítor Gaspar voltou para assombrar o
Orçamento: mais impostos, menos salários e pensões, cortes na saúde, cortes na educação e ainda menos
emprego. O novo ciclo é o mesmo ciclo recessivo.
O Governo fala em ética na austeridade, mas 82% dos cortes são feitos à custa dos funcionários públicos,
dos reformados, da saúde e da educação. A banca e os monopólios da energia suportam apenas 4% do
esforço. A austeridade não tem qualquer ética e os cortes nas grandes empresas não passam de uma fraca
operação de estética.
Três ideias bastam para resumir este Orçamento do Estado: é uma afronta, é um embuste e é um desvio
colossal.
O Orçamento é, antes de mais, uma afronta ao Tribunal Constitucional. Os cortes salariais que os
funcionários públicos suportam desde 2011 só não foram inconstitucionais por serem apresentados como
transitórios e por começarem acima do rendimento médio em Portugal. Pois bem, os cortes ontem
apresentados não só começam nos 600 € como são anunciados como uma medida estrutural e permanente.
O Governo teima em afrontar a lei que garante o contrato social, o Governo teima, mais uma vez, em afrontar
o suporte de 40 anos de democracia em Portugal.
Este Orçamento é um embuste. Disse-nos Paulo Portas, há menos de duas semanas, que o ajustamento
seria conseguido exclusivamente com pequenas e médias poupanças. E disse-nos mais: disse que os cortes
seriam no Estado e não nas pessoas. É um embuste. O Estado existe, e só existe, para servir as pessoas.
Quando se corta na saúde e na educação não estamos só a aumentar os preços dos serviços que já pagamos
com os nossos impostos, estamos a degradar a qualidade de vida dos cidadãos e a corroer o princípio da
igualdade de oportunidades. Estamos, por isso, a corroer a base da democracia.
Os anunciados cortes no Estado são a reciclagem dos cortes nas gorduras prometidos por PSD e CDS na
campanha de 2011. Hoje sabemos que as gorduras, para este Governo e para o PSD e o CDS, são salários
de 600 € brutos.
Aplausos do BE.
Mas este Orçamento é também o do desvio colossal de todas as metas assumidas. Em 2012, o défice ficou
nos 10 400 milhões de euros. Em nome do ajustamento financeiro, o Orçamento de 2013 aplicou 5300 milhões
de euros em medidas de austeridade, 5300 milhões de euros em mais impostos, cortes salariais e
desemprego — e, veja-se bem!, o défice nem desceu 900 milhões!
Pedro Passos Coelho, Vítor Gaspar e a sua sucessora enviaram 4400 milhões do nosso dinheiro
diretamente para o lixo, diretamente para a recessão económica.
Os nossos sacrifícios não pagam o défice, causam a recessão, que impede que isso mesmo seja feito. O
empobrecimento da população portuguesa não está a cumprir qualquer objetivo que não seja o
empobrecimento da população portuguesa.
O Governo diz que esta política de terra queimada é a única solução para o País reduzir o défice e pagar a
dívida. Vejamos, então, os resultados de três anos de política de empobrecimento: os impostos sobre o
trabalho cresceram 30% e o défice teima em não descer — bem vemos por este Orçamento do Estado; 500
000 postos de trabalho destruídos e a dívida não para de aumentar, sendo, aliás, hoje, a maior de sempre.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, se o Governo quisesse crescimento económico, como diz, não
cortava os salários nem cortava as pensões.