17 DE OUTUBRO DE 2013
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Não temos dúvidas de que a concretização deste propósito do Governo representará uma grave ameaça
ao acesso universal à água e ao saneamento. Mas representa mais: representa uma séria ameaça ao controlo
democrático e à preservação de um bem público comum, vital não só para o presente como também para o
futuro.
Todos sabemos que a eventual privatização da água, para além de outros aspetos gravíssimos do ponto de
vista ambiental, vai trazer aumentos brutais na fatura da água. É por isso, Sr. Deputado, que nem todos
teremos, certamente, acesso à água, e é por isso também que as intenções do Governo ganham, nesta altura,
contornos mais preocupantes, tendo em conta a situação das famílias portuguesas, cujo rendimento disponível
continua a emagrecer substancialmente na sequência das medidas de austeridade que o Governo continua a
impor.
Ninguém duvida que a fatura da água subirá de forma insuportável com a privatização, com a preparação
do negócio para a subordinação ao objetivo do lucro. Por outras palavras, é um caminho que vem agravar a
pobreza e promover a desigualdade social.
Uma percentagem cada vez maior da população deixará certamente de poder pagar a fatura da água, e,
assim sendo, ser-lhe-á cortado o respetivo fornecimento. É este o jogo, Sr. Deputado, e são estas as regras do
setor privado.
Protestos do Deputado do PSD Mário Magalhães.
O Sr. Deputado diz que não. Parece que adormeceu embebido em água noutro mundo!…
Porque entendemos que a água é de todos, mas também que deve continuar a ser de todos, defendemos
que a propriedade e a gestão da água têm que estar sob domínio público e longe do mercado, por maior que
seja a sede dos grupos privados interessados em fazer da água uma fonte de lucro.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Muito bem!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Para terminar, quero dizer que acompanhamos o Partido
Comunista Português e o Partido Socialista nas apreciações parlamentares e apresentamos também uma
iniciativa legislativa com o objetivo de fazer cessar a vigência do Decreto-Lei n.º 92/2013, para que a água
continue, de facto, a ser de todos.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Helena Pinto para uma intervenção.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e
Energia, Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, Sr.as
e Srs. Deputados: As
apreciações parlamentares que estamos neste momento a discutir são, do ponto de vista do Bloco de
Esquerda, muito oportunas. Ainda bem que o Partido Socialista e o PCP tomaram a iniciativa de trazer este
tema a debate.
O Sr. Deputado Mário Magalhães, que já se pronunciou sobre as apreciações parlamentares, fez muitas
perguntas, mas não deu nenhuma resposta, Sr. Deputado. O que importam são as respostas, nomeadamente
as do PSD, enquanto maior partido que apoia este Governo.
Mas temos cá o Sr. Ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, que, com certeza, hoje irá responder às
questões prementes que se colocam em torno de toda a problemática e de todas as iniciativas legislativas
sobre a privatização da água.
O Bloco de Esquerda tem dito, desde o início — e disse-o por várias vezes à sua antecessora nesse cargo
—, que se tratava de um puzzle, em que o Governo ia pondo as peças, todas elas, no sentido da privatização
da água e que depois, quando a montagem estivesse completa, iríamos verificar o resultado destas iniciativas
legislativas. Ora, este Decreto-Lei é mais uma peça deste puzzle. E repito, Sr. Ministro: trata-se, de facto, da
privatização da água, um bem essencial à vida, um bem escasso, que nunca deverá ser retirado do domínio
público, do domínio do Estado.